Fabulas de Narizinho/O pastor e o leão
Um pastorzinho, notando certa manhã a falta de varias rezes, enfureceu-se, tomou da espingarda e saiu para o monte.
— Raios me partam se eu não trouxer, vivo ou morto, o miseravel ladrão das minhas ovelhas! Hei de campear dia e noite, hei de encontral-o, hei de arrancar-lhe os figados...
E assim, furioso, a resmungar as maiores pragas, consumiu longas horas em inuteis investigações.
Cançado já, lembrou-se de pedir soccorro aos céos.
— Valei-me Santo Antonio! Prometto-vos vinte rezes se me fizerdes dar de cara com o infame salteador.
Por estranha coincidencia, mal o pastorzinho disse aquillo, eisque lhe surge aos olhos um enorme leão de dentes arreganhados.
O nosso heroe treme dos pés á cabeça, a espingarda cae-lhe das mãos e tudo quanto consegue fazer é invocar de novo o santo.
— Valei-me Santo Antonio! Prometti-vos vinte rezes se me fizesseis apparecer o ladrão; prometto-vos agora o rebanho inteiro para que o façaes desapparecer...
No momento do perigo é que se conhecem os heroes.
Esta obra entrou em domínio público pela lei 9610 de 1998, Título III, Art. 41.
Caso seja uma obra publicada pela primeira vez entre 1929 e 1977 certamente não estará em domínio público nos Estados Unidos da América.