Das seis ou oito mil costureiras francesa que o Rio de Janeiro hospeda atualmente, nenhuma era tão feliz nos negócios como aquela rapariguita de cabelos de ouro e olhos castanhos, que atravessava, sempre, à tarde, o pedaço mais movimentado da Avenida.
Efetivamente, era de admirar que, enquanto as outras empregadas de "atelier" patenteavam as suas dificuldades de vida, só aquela mocinha pudesse apresentar-se de meias de seda e com vestidos que valiam dois meses de ordenado, cada um.
Os sucessos de Mlle. Ninete haviam, porém, forçosamente, de comprometer-lhe o organismo; e de tal modo que, seis meses após a sua chegada ao Brasil, começava a graciosa parisiense a emagrecer, manifestando sintomas de uma grave alteração de saúde.
Sentindo-se dia a dia pior, correu Ninete ao consultório do Dr. Abel Porto, que, após um exame profundo e minucioso, lhe prescreveu um regime de vida:
— A senhora, — disse, — está carecendo de repouso; é preciso trabalhar menos; compreende?
— Mas, doutor... — aventurou a moça.
— Nada! Não tem isso nem aquilo. Trabalhe menos. A senhora não está assim de trabalhar?
— É, sim, senhor.
— Então? Agora é repousar. É descansar o corpo.
E abrindo a porta, para a cliente sair:
— Não se deite mais, durante o dia; sabe? Passe o dia em pé!