Temos pimenta,
Grato elixir,
Que os vicios cura
Sem affligir;
Tambem sementes
De dormideiras
Que impafias cura,
E frioleiras.
- *
Primores d’além sec’lo, já caducos,
Focinhudas rapozas estufadas,
Vinde ao vasto armazém de Citherea,
Reformar as caraças desbotadas.
Temos carmim
Que a face enrubra,
Sem que a velhice
Fatal descubra,
Bellos chinòs—
Para as papalvas—
Que encobre a cuia,
Das que sam calvas
Para o velho que soffre d'enchaquecas—
Trovoens e pataratas de barriga,
Em secco fuzilando, sem proveito,
Para o fero Esculápio que o fustiga—
Temos seringas,
Lá do Pará,
Agua de Celtz,
Mas feita cá;
Raiz saudavel
Do almeirão,
Que cura tosse
E catarrão.
Estulta rapariga, apavonada,
Que campa de Doctora, e sabicbona,
Cuidando, por saber Paulo de Kock,
Que os fóros já não tem de toleirona.
Venha que temos,
Para lhe dar,
Rotos calçoens
P’ra concertar;
Velhas ceroulas,
Uma vassoura,
Que a fama elevem
Da tal Doctora.
Matuto que se mette a saberete,
Esquecido do milho e das abob’ras,
Não sabendo escrever sen proprio nome,
Arrota que tem lido grandes obras—
Oh! para este
Temos arreio, .
Albarda, esporas,
Cabresto e freio ;
E si contente
Senão mostrar,
Rebenque n’elle,
Toca a marchar.
Marido que a consorte não recata,
Entregue ao desvario, ao desatino;
Que na pandega alegre não repara,
A figura que faz de—Constantino—
Tem sortimento,
Já reservado,
Grinalda e gorra,
Chapéo-armado;
Barrete, á moda,
Com dous raminhos,
Para descanso
Dos passarinhos.
Para as damas perluxas d’alto bordo,
Que servem, nos saloens, de figurinos,
Enfeitadas bonecas de vidraça
Que alucinam os Vates colibrinos—
Lindos toucados
De seda fina,
Tendo na frente
Alva cortina;
E outros muitos
Com reposteiros,
Que tambem servem
De mosquiteiros.
Para as bellas amantes do postiço,
Que mettem barbatanas pela saia,
Onde o vento bregeiro, remexendo,
Deixa ver as perninhas de lacraia—
Temos baloens,
Torcida a gaz—
Estopa grossa
Com agua-raz;
E de farélos
Um travesseiro,
Para enfunar
O alcatreiro.
Para o tolo mancebo desfrutavel,
Que cem moças namora de pancada
E julgando-se Adonis—na belleza,
De perfumes se borra, e de pomada—
Casa de orates,
Dieta e bichas,
Craneo rapado,
Lambadas fixas;
Camisa longa,
Purga de sal;
Que a bóla afresca,
E cura o mal.
P’ra o torpe jornalista que não sente,
A penna mergulhada na deshonra;
E de vicios coberto, o saltimbanco,
Só tracta de cuspir na alheia honra—
Prudência e tino,
Criterio e sizo;
Tambem vergonha,
Si for preciso:
E se esta dóze
Lhe não bastar
Um bom cacete
Para o coçar.
Para os finos garotos, e filantes
De cigarros de palha, ou de charutos,
Que levam noute e dia a pedinchar,
De carinha lavada, e muito enchutos—
Um—já não tenho—
Aos taes flauderios,
Que o mais é bucha—
Fóra gauderios!—
E si teimarem
Com tal chincar,
Um quebra-queixos,
P’ra os desmamar.
Para os velhos carólas, marralheiros,
Que affectam de santinhos—só de dia;
E sendo noute velha—encapotados,
Não resistem de amor á fanfurria—
Cheiroso banho,
D’alta janella,
Que os ponha a trote,
Fugindo d’Ella;
Topada e queda,
Nariz quebrado,
Um bom vergalho,
Mas bem puchado.
Para o filho de pae agonçalado,
Sem brio, sem saber, sem criação;
Que os velhos venerandos não respeita,
Entre ovelhas mostrando-se leão—
Quartel, chibata,
Marinha ou praça,
Que um cordeirinho
O lobo faça;
E si o tratante
Não for barão,
Morada gratis
Na Correcção.
P’ra o ancho protector das lettras patrias,
Mais cacório que o chisme—no fintar;
E que cheio d’oral filantropia,
Os impressos chupita, sem pagar—
Um sancto breve,
Uma defeza;
Um patuá
Contra a esperteza;
E si o maçante
Inda insistir,
Sebo nas pernas—
Toca a fugir.
Para o genio sagaz de um pae da patria,
Amante da pobresa desvalida,
Que lambisca aos patetas o que póde,
E lá mette n’aljaba fementida—
Uma denuncia
Com documentos,
Onde as ratadas
Pulem aos centos.
Depois cadeia.
Calceta ao pé;
Que é cousa sancta
Contra o filé.
Mas basta; oh Musa minha, não prosigas.
D’alguem desagradar já me arreceio ;
Termina, mas fallando dos trovistas,
Que malham com furor no vicio feio.
“Bebem do roixo,
“Tomam café,
“Pitam charuto,
“Cheiram rapé.
“Jogam pacáo,
“Truque, manilha;
“Quando Deus quer,
“Tambem o pilha."