Tes lèvres, sans parler, me disaient: — Que je t'aime!
Et ma bouche muette ajoutait: — Je te crois!

Mme. DESBORDES-VALMORE

A vez primeira que te ouvi dos lábios
Uma singela e doce confissão,
E que travadas nossas mãos, eu pude
Ouvir bater teu casto coração,
 
Menos senti do que senti na hora
Em que, humilde — curvado ao teu poder,
Minha ventura e minha desventura
Pude, senhora, nos teus olhos ler.
 
Então, como por vínculo secreto,
Tanto no teu amor me confundi,
Que um sono puro me tomou da vida
E ao teu olhar, senhora, adormeci.
 
É que os olhos, melhor que os lábios, falam
Verbo sem som, à alma que é de luz
— Ante a fraqueza da palavra humana —
O que há de mais divino o olhar traduz.
 
Por ti, nessa união íntima e santa,
Como a um toque de graça do Senhor,
Ergui minh'alma que dormiu nas trevas,
E me sagrei na luz do teu amor.
 
Quando a tua voz puríssima — dos lábios,
De teus lábios já trêmulos correu,
Foi alcançar-me o espírito encantado
Que abrindo as asas demandara o céu.
 
De tanta embriaguez, de tanto sonho
Que nos resta? Que vida nos ficou?
Uma triste e vivíssima saudade...
Essa ao menos o tempo a não levou.
 
Mas, se é certo que a baça mão da morte
A outra vida melhor nos levará,
Em Deus, minh'alma adormeceu contigo,
Em Deus, contigo um dia acordará.