"Lá vem o Sacrato!"

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Essa expressão respeitosa pedia a interrupção das conversas para receber a liderança mais importante de Cascavel, que comandava tudo o que acontecia na cidade nas décadas de 50 e 60, desde quando ainda era o vilarejo-sede de um distrito interiorano de Foz do Iguaçu. Era muito vantajoso parar tudo para receber a presença de Florêncio Galafassi. Ele não aguardava notícias: fazia com que elas acontecessem e ao agir assim estava fazendo história a cada instante. Ao chegar para a missa ou para alguma reunião no Tuiuti Esporte Clube, era certo que iria abordar a novidade do dia na nascente cidade de Cascavel, pois Galafassi sempre tinha algo de novo para transmitir a seus concidadãos.

Quando chegou ao Oeste do Paraná, em 1948, Cascavel não tinha prefeito nem padre, que no passado eram as principais autoridades de um município. Nos maiores, havia também o delegado de polícia. Moysés Lupion, que vendeu as serrarias de Cascavel para a Industrial Madeireira do Paraná (Imapar), de Festugato e Galafassi, era o “imperador” do Paraná na época. E como Galafassi vinha para substituí-lo à frente das duas serrarias, por entendimento com a família Festugato, era a pessoa sempre procurada quando havia alguma coisa a resolver. Principalmente quando se tratava de uma emergência ou providência que dependia de seu automóvel: o único da cidade.

No início de 1952, por exemplo, Cascavel ainda não tinha um padre. A comunidade de Matelândia foi mais rápida e conseguiu “importar” do Rio Grande do Sul o padre Luiz Luíse, mas o prelado de Laranjeiras do Sul, d. Manoel Koenner, designou-o para Cascavel, cuja população já lhe havia requerido a designação de um vigário:

“Chegando a Foz do Iguaçu, via aérea, padre Luíse seguia a Matelândia dirigindo-se após a Laranjeiras do Sul, onde se entrevistou com o prelado. Dom Manoel aceitou a presença do missionário de Nossa Senhora Consoladora na sua prelazia, mas determinou que padre Luiz fosse trabalhar em Cascavel, atendendo a insistentes pedidos da comunidade local. No dia 4 de maio padre Luiz Luíse chegava pela segunda vez a Foz do Iguaçu, onde o aguardava Florêncio Galafassi. O diretor da Industrial Madeireira conduziu o religioso a Cascavel, hospedando-o em sua residência” (Alceu A. Sperança, Cascavel, A História, Prefeitura Municipal de Cascavel, Assoeste, 1992).

Este, aliás, foi o segundo “roubo” de padre ocorrido na região, pois Toledo praticamente seqüestrou o padre Antônio Patuy quando ele estava em Cascavel, também hospedado na residência da família Galafassi. E Patuy foi recebido com tanto carinho em Toledo que ficou por ali mesmo.

Dona Emília, apoio fundamental

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Tudo o que se referia aos avanços da Igreja Católica em Cascavel contou com a ajuda de Galafassi e de dona Emília, não apenas quanto à hospedagem de religiosos mas também na edificação de templos e escolas de inspiração católica. Este foi o caso do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, criado em 1957. Para a construção do prédio, anterior ao atual, na rua Rio Grande do Sul, a Industrial Madeireira do Paraná, através de seu diretor, Florêncio Galafassi contribuiu com toda a madeira.

Aliás, quando era preciso construir alguma coisa – e o único material de construção era a madeira – a saída era mandar uma comissão procurar o Sacrato. Quando o primeiro prefeito, José Neves Formighieri, foi verificar a situação das escolas herdadas do Município de Foz do Iguaçu, encontrou três: uma na Colônia São João, outra na Colônia Esperança e a terceira na Melissa, caindo aos pedaços. Assim narrou o primeiro prefeito em sua última entrevista à memória histórica do Município (ele faleceu em 2002):

– Fui na madeireira, disse para o seu (Florêncio) Galafassi: “Preciso de madeira para quatro, cinco escolas. Vamos fazer um acerto no imposto”. Ele concordou: “Pode mandar buscar a madeira”.

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(Fonte: Alceu A. Sperança, Jornal O Paraná, seção dominical Máquina do Tempo)