LXXIV
O Morto prazenteiro
Onde haja carações, n’um fecundo torrão,
Uma grandiosa cova eu mesmo quero abrir,
Onde repouse em paz, onde possa dormir,
Como dorme no oceano o livre tubarão
Detesto os mausoleus, odeio os monumentos,
E, a ter de suplicar as lágrimas do mundo,
Prefiro oferecer o meu carcaz imundo,
Qual precioso manjar, aos corvos agoirentos.
Verme, larva brutal, tenebroso mineiro,
Vae entregar-se a vós um morto prazenteiro,
Que livremente busca a treva, a podridão!
Sem piedade, minae a minha carne impura,
E dizei-me depois se existe uma tortura
Que não tenha sofrido este meu coração!