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O Veneno


Consegue dar o vinho a um antro conspurcado
Um luxo miraculoso,
Fazendo construir palácio majestoso
No vapor rubro ou doirado,
Como o sol ao expirar n’um dia nebuloso.

Faz aumentar o ópio as regiões sideraes,
Alongando a Imensidade;
Profunda o tempo, e alarga a voluptuosidade,
E de prazer’s infernaes
Atafulha a noss’alma até á saciedade.

Mas tudo isso que é, comparado ao veneno
Que esse verde olhar distila,
— Esmeraldino olhar, lago de agua tranquila,
Em cujo cristal sereno
Minh’alma se retrata, e, trémula, scintila?

Mas tudo isso que é, comparade á saliva
Da tua boca, fermento
Que mergulha a minh’alma em cego esquecimento,
Sepultando-a, semi-viva,
No tenebroso mar do Aniquilamento? !