LXXVIII
Sedução do Nada
¿Ó espírito meu, na apatia e no luto,
Que é do fogo de outrora, aquele antigo ardor
Que a Esp’rança esporeou?... Vá, não tenhas pudor,
Estende-te a dormir, cavalo irresoluto!
Descansa, coração; dorme em paz como um bruto.
Espírito vencido e escarnecido! O amor
E a luta já não teem para ti seduções;
Adeus, cantos gazís, meigas orquestrações!
Prazeres, não tenteis meu peito sem calor!
Perdeu a Primavera o seu perfume e côr!
O Tempo, dia a dia, afunda-me consigo,
Como a neve cobrindo um corpo regelado;
Do alto, vejo a meus pés o globo arredondado,
Onde nem já procuro o mais pequeno abrigo!
Avalancha, não quer’s sepultar-me comtigo?