Foi-se gastando a esperança.
Fui entendendo os enganos,
Do mal ficaram-m'os danos,
E do bem só a lembrança.
Esta me fica da vida
Perdida, servindo quem,
Em lugar de me dar bem,
Me dá a morte conhecida.
E pois isto só se alcança,
Em pago de tantos danos.
Não ceguem mais os enganos
A quem cegou a esperança.
Pesa tanto esta verdade,
Ainda que tarde entendida,
Que pois a vida é perdida,
Não se perca a liberdade.
E pois me mata a lembrança,
De ver perdidos meus anos,
Tomar vida em novos danos,
E mais segura a esperança.