Formulário Ortográfico de 1911

FORMULÁRIO ORTOGRÁFICO
conforme o plano de
Regularização e simplificação da escrita portuguesa

São proscritas de todas as palavras portuguesas, ou aportuguesadas, as letras k, w, y, as quais serão respectivamente substituídas pelas seguintes: k por qu antes de e, i; por c em qualquer outra situação; w por u, ou por v, conforme fôr a sua pronúncia; y por i. Escreveremos, pois, caleidoscópio, quermes, Venceslau, valsa, tipo, lira, fisiologia, etc.

Excepções: 1.ª Poderão usar-se essas letras em vocábulos derivados de nomes próprios estrangeiros, em que sejam legítimamente empregadas; ex.: kantismo, darwinismo, byroniano (Kant, Darwin, Byron), os quais, porêm, será lícito escrever, em harmonia com a pronunciação, cantismo, daruinismo, baironiano. Confrontem-se Copérnico, de Kopernik, Antuérpia, de Antwerp, (h)iate, de yacht.

2.ª Continuam em uso os símbolos W, para denotar o Oeste, e K como abreviatura de unidade métrica, e tambêm na forma international kilo···, que todavia se poderá escrever quilo···; tanto mais, que o k é um grosseiro êrro nesta palavra, pois o correspondente termo grego se escreve com χ, e não κ.

II.—

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O abecedário empregado em português ficará consistindo nas seguintes letras, e suas combinações, e portanto sómente com umas ou com outras se escreverão todas as palavras portuguesas, ou aportuguesadas. Essas letras e combinações são: a b c ç ch d e f g h i j l lh m n nh o p q r (rr) s (ss) t u v x z.

III.—

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É eliminada a letra h do interior de todos os vocábulos portugueses, com excepção do seu emprêgo, como sinal diacrítico, nas combinações ch, lh, nh, com os valores que as seguintes palavras exemplificam, e únicamente para êles: chave, malha, manha. Portanto, escrever-se hão, sem o h, inibir, exortar, etc., e, semelhantemente, sair, coerente, , proìbir, etc.

IV.—

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É conservado o h inicial, quando a etimologia o justifique, como em homem, humano, honra, hoje; mas abolido onde é erróneo, como em hontem, hir, hombro, que se escreverão ontem, ir, ombro.

Quando a uma qualquer palavra com h inicial etimológico se acrescentar prefixo, suprimir-se há o h; ex.: desumano, inumano, desonra, filarmónica, desistória, etc.

É lícito escrever h final, como sinal de interjeição, ah!, oh!; mas é proscrita esta letra final em todos os mais vocábulos; ex.: Sara, Judá, raja ou rajá, etc.

VI.—

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Em harmonia com a cláusula III é eliminado o h dos grupos rh, th, ou outros quaisquer, inexactamente denominados etimológicos, e portanto escrever-se há teatro, retórica, aderir, aborrecer, sirgo, sorgo, caridade, cristão, Cristo, monarca, técnica, cloro, etc. O grupo ch, com o valor de k antes de e, i, será substituito por qu; ex.: monarquia, arquitecto, química, querubim. O grupo ph será expresso por f; ex.: filosofia, frase, fenício, farol, física, fisiologia, ninfa, profeta, etc. Assim tambêm escrevemos ditongo, tísica, apotegma, etc.

VII.—

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Nenhuma consoante se duplicará no interior ou fim de vocábulo, senão quando a pronunciação assim o exija, o que só acontece com rr, ss, mm, nn, como nas seguintes palavras: carro, cassa, emmalar, ennegrecer.

Nesta conformidade, escrever-se hão com letras singelas as seguintes palavras, e outras que é hábito escrever com letras dobradas: abade, acusar, adição, afecto, sugerir, agravo, êle, ela, aludir, chama, pano, anexo, aparecer, atribuir, meter, atitude, etc. As letras r e s dobram-se, se a pronúncia o exije, quando a qualquer vocábulo se antepõe prefixo terminado em vogal; ex.: pressentir, prorrogar, ressuscitar: cf. arrasar, de raso, assegurar, de seguro.

VIII.—

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São suprimidas as consoantes mudas, quando não influam no valor das vogais que as precedem; ex.: autor, restrito, produto, produção, pronto, presunção, satisfação, praticar, tratar, retratar, sinal, Madalena, aumento, Inácio, Inês, assunto, assinar, sono, dano, condenar, etc.

IX.—

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São conservadas as consoantes, usualmente mudas, quando facultativamente se profiram, ou quando influam no valor da vogal que as precede; ex.: contracção, reacção, direcção, excepção, adoptar, adopção, espectáculo, carácter, rectidão.

Neste caso os vocábulos aparentados, em que essas vogais pertençam à sílaba predominante do vocábulo, conservarão, por analogia, a consoante muda; ex.: contracto, directo, excepto, adopto, caracterizar, recto, acto, em razão de activo, acção, etc.

O emprêgo acertado das letras ce, ci, alternando com (s)se, (s)si, ou no interior do vocábulo o de ç, alternando com ss, depende da origem dêsses vocábulos e do valor que as ditas letras indicavam, quando a pronunciação delas diferia, como ainda hoje difere dialectalmente em várias regiões do norte de Portugal. A consulta ao Vocabulário é indispensável para decidir da escolha. Como regra geral, ce, ci, -ç- correspondem a ce, ci, ti latinos, a ce, ci, za, zo, zu do castelhano actual, a ss arábicos, ou pertencem a vocábulos de origem americana indígena, transcritos pelos autores peninsulares.

Fica banido o ç inicial, que será substituído por s nos poucos vocábulos em que etimológicamente figuraria; ex.: sapato, sarça, e não çapato, çarça, como antes se escrevia, e ainda uma ou outra vez se escreve.

XI.—

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É conservado o grupo inicial sc, das seguintes palavras e seus derivados e afins, em que o s é mudo: scena, sciência, scetro, scéptico, scisma, scisão, sciático, scintilar, scelerado, e algum outro menos usual.

XII.—

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O emprêgo de ch ou de x, os quais histórica- e ainda dialectalmente não eram nem são idênticos no valor fonético, regula-se pela sua origem, e a consulta ao Vocabulário torna-se necessária. Deve ter-se em atenção que ch corresponde a cl, fl, pl, t’l latinos, e a ch francês nas palavras desta procedência; x corresponde a x e a s latinos. Nos vocábulos de origem arábica o emprêgo de x, e não de ch, é de rigor; assim, xeque, e não che(i)k.

XIII.—

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A escrita dos ditongos orais é a seguinte: ai, éi, ei, ói, oi, ui, au, éu, eu, iu, ou, como em ensaio, ensaiar, batéis, bateis (de bater), sóis, (de sol), sois (verbo), fui, pau, céu, seu, viu, grou, e portanto pai(s), gerais, réis, rei(s), faróis, róis (nome plural e verbo), azuis, etc. Ficam abolidas as escritas ae, oe, ue, ao, eo, para estes ditongos, quer em nomes, quer em formas verbais.

XIV.—

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A escrita dos ditongos nasais é: ãe, em (ens) , õe, ão, como em mãe(s), bem, bens, põe(s), botões, cães, mão(s), órfão(s), cidadão(s).

Escrever-se hão com am final, em vez de ão, as formas verbais em que essa terminação seja átona, como louvam, louvaram (presente e pretérito), diferente de louvarão (futuro).

Os vocábulos terminados no ditongo em (equivalente a ẽi) receberão o acento circunflexo quando forem polissílabos com a última sílaba predominante. Dêste modo porem, do verbo pôr, diferençar-se há de porêm, conjunção; contêm, do verbo conter, de contem, do verbo contar; assim igualmente, armazêm, vintêm, vintêns, alguêm, mas viagem, origem (= viágem, orígem).

Os monossílabos com esta terminação dispensam a acentuação gráfica, por ser ociosa, e para que fiquem em harmonia com os outros monossílabos terminados em vogal nasal; ex.: bem, bens, tem, tens: comparem-se fim, som, um, fins, sons, uns.

O ditongo ũi de muito, mui dispensa igualmente o til na escrita usual.

XV.—

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A grafia das vogais nasais será a seguinte, já consagrada: ã(s), im, ins, om, ons, um, uns, como em lã(s), irmã(s), órfã(s), fim, fins, marfim, marfins, som, sons, jejum, jejuns.

No interior dos vocábulos é a nasalidade da vogal expressa por m antes de b, p, m, e por n em qualquer outra situação, o que é já uso estabelecido, mas ao qual convêm não se fazerem excepções; assim escreveremos circunstância, circunscrever, conquanto, pronto, ninfa, com n, e não com m.

XVI.—

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É conservado ao e inicial átono o valor que tem de i em muitos vocábulos, como erguer, herdeiro, evitar, elogio; sendo, porêm, substituído por i nas palavras igual, idade, igreja e seus derivados, ortografia anterior que se lhes restabelece. É semelhantemente conservado o e com valor de i átono antes de vogal, quando a analogia ou a etimologia o recomendem; ex.: fealdade, desfear, de feio (cf. desfiar, de fio), ideal, meada, reagente, etc. Restabelece-se, porêm, a verdadeira ortografia de pior, lial, rial (antes peior, leial, reial), em que um ei anterior se condensou em i, como aconteceu com igreja (forma antiga eigreja) e como ainda hoje acontece com o prefixo eis- (ex-), que é usualmente pronunciado is. O último exemplo citado, rial, de rei, fica assim diferençado de real, procedente do latim res.

O verbo criar será semelhantemente escrito com i, pois a sua conjugação é crio, crias, e não creio, creias, e portanto escreveremos também criador, criatura, criança, qualquer que seja a acepção em que se tomem tais palavras. O verbo recrear, todavia, escrever-se há com e, porque a sua conjugação é com ei, recreio, recreias; devendo ter-se em atenção que o i intercalar, para evitar o hiato recreo, só tem cabimento quando o e do radical é predominante, e conseguintemente escreveremos passear, cear, desfear, passeio, ceio, desfeio, e não passeiar, ceiar, etc.

Há considerável número de verbos, como alumiar, gloriar, aviar, que se conjugam alumio, glorio, avio, sendo portanto a vogal final do seu radical i e não e. Todavia, por influência daqueles em que essa vogal radical é, pelo contrário, e, que átono se profere i, alguns verbos em iar confundiram-se com êsses, e é já hoje impraticável a correcção. Os principais dêstes verbos são os seguintes, e convêm que não se traslade a outros a irregularidade que se manifesta neles: ansiar, anseio; negociar, negoceio; obsequiar, obsequeio; premiar, premeio; odiar, odeio; remediar, remedeio. Em outros, menos triviais, é duvidoso o modo de os conjugar, como licenciar, presenciar, sentenciar, que muitos preferem conjugar licencio, presencio, sentencio, conquanto as formas licenceio, presenceio, sentenceio sejam muito mais usuais. É claro que a irregularidade se não deve trasladar aos substantivos correspondentes, e que portanto escreveremos ânsia (e não âncea ou ânsia), negócio, obséquio, ódio, prémio, remédio, e assim tambêm com i os derivados, odioso, obsequioso, etc.

XVII.—

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Na pronúncia do sul de Portugal o s antes de consoante surda, e quando é final, profere-se como x atenuado, e sendo a consoante sonora, como j, igualmente atenuado. Se em tais condições está precedido de e surdo, êste e, por assimilação, palataliza-se e fica sendo igual a i na mesma situação, de modo que os dois vocábulos pescar e piscar só artificialmente se distinguem; assim tambêm a primeira sílaba de esteira confunde-se com a primeira sílaba de história, e tanto, que antigamente se escrevia estórea

(com ea, para se evitar a leitura estorja, pois nenhuma diferença gráfica se fazia entre i e j). Para quem profira do mesmo modo es e is, átonos, é necessário recomendar que se regule pelas formas em que e ou i sejam predominantes, a fim de acertar com a devida escrita. No exemplo citado, pescar procede de pesca, e portanto com e se escreverá; piscar, de pisco, ortografar-se há com i.

A confusão entre es e is mais freqùente, e que dá margem a inúmeros erros de ortografia, ocorre com os prefixos des- e dis-. É usualíssimo ver-se escrito destribuição, por exemplo. Cumpre advertir que o valor dêstes dois prefixos, assim confundidos na pronúncia meridional, é diverso: des-, é privativo, dis- indica «repartição, divisão». Escreveremos pois destinto com e, de destingir, de tingir, distinto com i de distinguir, e assim tambêm dispersar, discrição (que se não deve confundir com descrição, de descrever), discórdia, discorrer, etc.

XVIII.—

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Sendo o e átono, antes de consoante palatal, ch, x, j, lh, nh, por assimilação igual a i surdo, dá-se freqùentemente a dúvida sobre a escrita com e ou com i, em sílabas átonas. Convêm, do mesmo modo, recorrer às formas em que a vogal duvidosa seja predominante; assim, lenheiro, de lenha, escrever-se há com e, linheiro, de linho, com i.

XIX.—

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Por outra parte, no centro de Portugal o e fechado antes das mencionadas consoantes palatais ch, x, j, lh, nh profere-se como â, e esta pronúncia vai-se difundindo cada vez mais no país: fecho, cereja, selha, senha são pronunciados fâxo, cerâja, sâlha, sânha. Valendo o a antes de consoante nasal, m, n, nh por â fechado, em geral, produz-se, pela concorrência destas duas leis fonéticas, onde elas predominam, a confusão entre senha, «sinal», e sanha, «ira», entre lenho, «madeiro», e lanho, «golpe». Para não se deformar a língua pátria, torna-se essencial a devida distinção gráfica, ainda quando se não observe na fala, e é fácil acertar-se com a escrita, se se atender à pronúncia dessa vogal, duvidosa quando tónica, em formas nas quais ela seja átona: sanha, «ira», escreve-se com a, porque dizemos assanhar, e não assenhar, ao passo que um verbo derivado de senha (signa, latino) desenhar, se não profere desanhar; lanho, «golpe», tem um derivado alanhar, que não é alenhar, e conseguintemente deve escrever-se com a.

XX.—

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Continua o emprêgo tradicional de o átono valendo por u, quer final, quer medial, quer inicial, ou êle seja analógico, como em formosura, de formoso, de forma, porteiro, de porta, correr, côrro, corres, ou etimológico como em monumento, latim monumentum, governar, castelhano gobernar, latim popular gobernare, latim clássico gŭbernare. Na escrita será indispensável atender-se à forma primitiva, portuguesa ou latina, ou recorrer-se ao competente VOCABULÁRIO, pois os casos duvidosos, para os indoutos, são milhares. Antes de vogal como em mágoa, nódoa, a conjugação dos respectivos verbos, magoar, magôa, ennodoar, ennodôa, como em soar, sôa, indica a escrita correcta. Com verbos como aguar, cuja conjugação é incerta, é preferível escrevê-los com u, e assim tambêm água, régua, légua, visto que a razão da escrita com o era principalmente o evitar-se que u fosse lido como v, quando nenhuma distinção fixa e assente existia, para se determinar quando as duas formas u, v eram consoantes ou vogais. Feita a distinção, como há mais de um século se faz, quer na escrita, quer na imprensa, deixaram de ser necessários êsse e outros expedientes gráficos, como a adjunção de h a u ou a i, para indicar serem vogais, e não consoantes, o que motivou as grafias hiate, huivar, hia, para que uivar, iate, ia se não lessem vivar, jate, . Alguns hh e alguns oo teem essa origem a explicá-los.

XXI.—

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No centro de Portugal o digrama ou, quando tónico, confunde-se na pronunciação com ô, fechado. A diferença entre os dois símbolos, ô, ou, é de rigor que se mantenha, não só porque, histórica e tradicionalmente, êles sempre foram e continuam a ser diferençados na escrita, mas tambêm porque a distinção de valor se observa em grande parte do país, do Mondego para norte. Outra razão se deve apontar ainda, e essa é que ou átono ou conserva o valor que lhe é próprio, ou, popularmente, se profere ò; ao passo que ô vale por u nas sílabas átonas; assim, por exemplo, roubar, de roubo, não altera o valor do ou do radical, o que não acontece, por exemplo, com rogar, de rôgo, em que o vale por u, se não é predominante. Duas excepções, pelo menos, existem modernamente: apoquentar, de pouco, e aposentar, de pouso, que antes eram apouquentar, apousentar. A redução deve ter tido origem no sul, em que ou se confunde com ô.

Êste ditongo ou alterna em quási todos os vocábulos com o ditongo oi, ao qual muitos dão a preferência, exceptuando, porêm, certos vocábulos como outro, roubo, etc. A alternância dá-se principalmente antes de r, s, como em ouro, cousa; oiro, coisa.

Quem prefira oi a ou assim escreverá, pois qualquer das formas é lícita na maioria dos vocábulos, como se disse. Nas formas verbais, porêm, como a 3.ª pessoa do singular do pretérito louvou, não é admitido o ditongo oi por ou, nem tampouco em coube, soube, trouxe, etc.

Advertir-se há que é errónea a forma poude em vez de pude, 1.ª pessoa, e pôde, 3.ª pessoa do presente do verbo poder, que tem origem diferente (potui, potuit, latinos) da que vemos em coube, soube (lat. capui(t), sapui(t)), comum à 1.ª e 3.ª pessoas do memso tempo verbal dos verbos caber e saber. Um qualquer indivíduo, originário das regiões em que ou é diferente de ô no valor, não conjugará jamais assim erradamente o verbo poder, nas duas formas citadas, nas quais não há o ditongo ou, como em coube, soube, trouxe, mas sim u e ô fechado.

XXII.—

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Acentuação gráfica.

Como é uso corrente, marcam-se com o devido acento, agudo ou circunflexo, os vocábulos terminados em a, e, o tónicos, seguidos, ou não, de s, e por analogia os terminados em em, ens; ex.: alvará(s), louvará(s), maré(s), mercê(s), portaló(s), avô(s), e bem assim os monossílabos, como pá(s), sé(s), sê(s), só(s); vintêm, vintêns, contêm, contêns; os monossílabos em em, ens, dispensam a acentuação: bem, bens, tem, tens.

XXIII.—

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O sinal denominado til (~) vale por acento tónico quando não haja outro acento gráfico a designar a sílaba predominante do vocábulo; ex.: cidadão(s), escrivão, escrivães, nação, nações, mão(s), mãe(s); mas, ourégão(s), rábão(s), Estêvão, Cristóvão, etc.

XXIV.—

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As palavras terminadas em i, u, vogal nasal ou ditongo, seguidos ou não de s, ou em outras consoantes, excepto na terminação em, ens, entende-se terem como sílaba predominante a última, não se acentuando portanto gráficamente senão as excepções a esta regra; ex.: javali(s), peru(s), maçã(s), atum, atuns, marau(s), arrais, esqueceu, judeu(s), painel, farei(s), mulher, vencer, timidez, feliz, arroz, alcaçuz, lioz, alcatruz; mas, quási, Vénus, órfã(s), álbum, amáveis, fácil, fáceis, sável, sáveis, faríeis, alcáçar, carácter (plural caracteres), mártir, sóror, cônsul, etc.

XXV.—

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Os nomes terminados em em, ens, e as formas verbais em am, em, entende-se terem como sílaba predominante a penúltima, que se não assinala com acento gráfico; ex.: louvam, louvaram (cf. louvarão, futuro), porem, contem (dos verbos pôr, contar), marcando-se o acento gráfico quando a sílaba predominante seja a última; ex.: porêm, contêm (de conter), armazêm, armazêns, Jerusalêm, Belêm.

XXVI.—

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Todos os vocábulos cuja sílaba predominante seja a antepenúltima terão essa sílaba marcada com o competente acento escrito; ex.: sábado(s), câmara(s), cédula(s), pêssego(s), sémola(s), concêntrico(s), título(s), íntimo(s), pródigo(s), cómodo(s), lôbrego(s), lúgrube(s), único(s); área(s), ária(s), árduo(s), mágoa(s), contemporâneo(s), Libânio, ânuo, proscénio(s), gémeo(s), ingénuo(s), sêmea(s), virgíneo(s), insónia(s), fúria(s), facúndia(s), ândito(s), argênteo(s), fímbria(s), vergôntea(s), núncio(s), demónio(s), António, Antónia, infortúnio, farmacêutico, etc.

XXVII.—

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O acento marcado nos esdrúxulos é diferencial com relação aos vocábulos que, escritos com as mesmas letras, tenham por sílaba predominante a penúltima, ou a última; ex.: fábrica, substantivo, e fabrica, verbo; réplica, substantivo, e replica, verbo; índico, adjectivo, e indico, verbo; história, substantivo, e historia (), verbo; telégrafo, substantivo, e telegrafo (grá), verbo, etc.

XXVIII.—

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Quando um qualquer vocábulo que tenha por sílaba predominante a penúltima, e cuja vogal nessa sílaba seja e ou o abertos, fôr homógrafo com outro em que êsse e ou o seja fechado, marcar-se há êste com o acento circunflexo. Assim se diferençarão rêgo, substantivo, e rego, verbo; pêgo, ave, e pego, abismo, ou forma do verbo pegar; rôgo, substantivo, e rogo, verbo; sôbre, preposição, e sobre, verbo; mêdo, susto, e medo, nome étnico; dêmos, presente do subjuntivo, e demos, pretérito (do verbo dar).

XXIX.—

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Diferençar-se hão pelo acento agudo os seguintes vocábulos: pára, verbo, de para, preposição; pélo, péla, de pêlo substantivo, e de pelo, pela (per lo, per la, per o, per a), pólo, substantivo, de polo (forma antiquada, em vez de pelo), e pelo circunflexo, pêra, de pera, forma antiga e popular da proposição para; quê, de que proclítico, átono; cômo, verbo, de como, partícula. Pelo agudo se diferençará a forma do pretérito, louvámos, da do presente, louvamos.

XXX.—

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As formas verbais dêem, lêem, vêem, crêem (de dar, ler, ver, crer) receberão o acento circunflexo, ficando assim distintas de outras como te(e)m, ve(e)m, de ter, vir.

XXXI.—

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Quando a segunda de duas vogais consecutivas seja i ou u, que não forme ditongo com a vogal precedente, marcar-se há com o acento agudo, se fôr tónica; ex.: saí, saída, faísca, saúde, balaústre, raízes, baú(s). Se fôr átona pode assinalar-se com o acento grave; ex.: saìmento, faìscar, saùdar, enraìzado, abaùlado. É lícito dispensar-se o agudo se a consoante seguinte não fôr s; ex.: ainda, raiz, sair, contanto que não inicie outra sílaba. Podem, portanto, escrever-se Coimbra, raiz, sair, sem acento, mas exigem-no saída, saíra, saúde, raízes, ataúde, etc.

XXXII.—

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Os ditongos éi, ói, éu, sempre finais tónicos, receberão o acento agudo, que os diferença de ei, oi, eu, fechados; ex.: painéis, faróis, chapéus; em réis, batéis, papéis, sóis êsse acento distingue tais vocábulos dos seus homógrafos reis (de rei), bateis, papeis (de bater, papar), sois (do verbo ser). Outros exemplos são bóia, jóia (cf. joio, com o fechado), gibóia, herói(s), etc.

XXXIII.—

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Hífen.

Os vocábulos compostos cujos elementos conservam a sua independência fonética unem-se por hífen (-) e conservam igualmente a sua acentuação; ex.: água-pé, pára-raios, guarda-pó. O hífen repetir-se há na linha imediata, quando por êle se faça a separação silábica de linha para linha; ex.: pára-/-raios. Quando um dos termos do vocábulo composto não existe independente em português, na sua forma integral, unem-se os dois elementos sem hífen; ex.: clarabóia, fidalgo. Outro tanto se fará quando a noção do composto se haja perdido, como em solfa, dezoito (dez-a-oito), abrolhos.

XXXIV.—

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O hífen será utilizado tambêm nos seguintes casos:

a) Unir os pronomes pessoais enclíticos aos respectivos verbos, de que são complemento; ex.: louvá-lo, devê-lo, puni-lo, dá-nos, dou-vos, falo-lhes, etc. A acentuação do verbo mantêm-se, como se não se lhes unissem êsses complementos. São erros inadmissíveis, mas muito freqùentes, louval-o, devel-o, punil-o, etc.

b) Os advérbios mal, bem, formando o primeiro elemento de um composto, unem-se ao segundo elemento por hífen, quando sem êle a soletração seria errada; ex.: bem-aventurança, mal-logrado, para que se não leiam be ma venturança, ma logrado. Este último, todavia, pode ler-se tambêm malogrado, pois dizemos malograr, malôgro.

A palavra aguardente formará o seu plural como aguardentes; se porêm se preferir separar os dois elementos, água-ardente, o plural será águas-ardentes.

XXXV.—

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Há vocábulos que, sendo derivados, seguem a analogia dos vocábulos compostos, com os seus elementos unidos por hífen, em terem dois acentos tónicos dos quais é predominante o segundo; são êles os aumentativos e deminutivos formados com o infixo z, e os advérbios derivados com o sufixo -mente. Se os adjectivos ou substantivos de que se formam terminam em vogal com acento agudo, muda-se êste em acento grave, ex.: sòzinho, cafèzinho, màzona, etc. Esta mudança tem por causa o evitar-se que, escrevendo-se mázona, por exemplo, se entenda ser a primeira a sílaba predominante. Nos advérbios, porêm, formados com o referido sufixo -mente, que antes era um substantivo, a acentuação com o agudo, ou o circunflexo mantêm-se, por não poder dar-se a confusão apontada: fácilmente, cortêsmente, sómente.

XXXVI.—

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Apóstrofo.

É quási abolido êste sinal ortográfico, absolutamente inútil para a leitura, e de introdução relativamente moderna. O seu emprêgo limitar-se há a indicar, principalmente na poesia, a supressão de uma letra, que usualmente se escreve na prosa, como em esp’rança, mer’cer, par’cer, c’roa, p’ra, ’star, etc. Pode tambêm usar-se no interior das dições compostas, quando nelas se faça elisão do e da preposição de, como em mãe-d’água.

XXXVII.—

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Os pronomes complementos enclíticos de verbos escrever-se hão como nos exemplos seguintes: tenho-o, tem-lo, tem-no, temo-lo, tende-lo; louvá-los, devê-los, uni-los; louva-los, deve-los, une-los; vê-mo, vê-to, vê-lho, vê-no-lo; dava-vo-lo, vêem-se-lhe, comprámo-la, sem se indicar por apóstrofo a supressão de e e de s, que é de regra; tem-lo, está por tens-lo, vê-mo, por vê-me-o. O verbo conserva a acentuação marcada que lhe competiria sem complementos, e assim é a sua pronunciação.

XXXVIII.—

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Reúnem-se em uma só dição, sem apóstrofo ou hífen, os seguintes pronomes, precedidos das preposições a, de, em, por: ao(s), à(s), do(s), da(s), àquele(s), àquela(s), dêle(s), dêla(s), dêste(s), desta(s); daquele(s), daquela(s), dêsse(s), dessa(s); naquele(s), naquela(s), neste(s), nesta(s), nesse(s), nessa(s); disto, disso, daquilo, nêle, nisto, nisso, naquilo, noutro, nalgum, ou em algum.

Outro tanto acontece com os artigos o(s), a(s), um, uns; uma(s), e os advérbios aqui, , ali, acolá, alêm, onde, antes; ex.: do(s), da(s), pelo(s), pela(s), no(s), na(s), aonde, donde, daqui, daí, dali, dacolá, dalém, dantes, dum, ou de um, etc.

Quando, porêm, êsses pronomes rejam orações de infinito, a preposição conservar-se há inteira e separada; ex.: por causa de êles não quererem; em razão de os não ter visto.

As demais elisões, que no decurso da fala ou da leitura se costumam fazer, não são indicadas na escrita; não se escreverá pois: d’idade, d’entrada, mas sim de idade, de entrada, pelo mesmo motivo porque se não escreve vint’e um, conquanto o e de vinte aí se não profira. São elisões e crases que é escusado representar na escrita, e algumas das quais são facultativas, quer individual quer ocasionalmente.

XXXIX.—

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Divisão silábica.

A divisão de um vocábulo qualquer simples em sílabas far-se há fonéticamente pela soletração e não pela separação dos seus elementos de derivação, composição ou formação, contanto que a dição composta não tenha os seus elementos apartados por hífen (-). Desta maneira dividir-se há, por exemplo, subscrever, como subs cre ver, do mesmo modo por que a palavra escrever, se não divide como e scre ver, e vezes, pastora, como vez es, pastor a, mas sim como ve zes, pasto ra. Assim, também, di rec ção, a dop tar, su búr bios, de sas tra do, de sar mar, i ná bil, bi sa vô, pres tan te, cir cuns tân cia, etc., etc.

Para a segunda linha e para a soletração pertencem à vogal que se lhes segue as consoantes que podem começar palavra; assim teremos co bra, am pla, porque temos bra ço, pla ga; ecli pse (cf. psicologia).

XL.—

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Quando o s dos prefixos des-, dis-, é seguido de consoante separa-se dela; se depois se lhe segue vogal, pertence a esta, e com ela forma sílaba; ex.: des fa zer, dis tri buir, mas de sen ga nar, de sen vol ver.

XLI.—

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Duas consoantes iguais separam-se; ex.: ar rastar, as sistir, em malar, en nastrar.

XLII.—

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As palavras compostas dividem-se pelos seus componentes; ex.: porta-voz, vice-almirante, repetindo-se na linha inferior o hífen.

XLIII.—

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Nos vocábulos formados com o prefixo ex-, fica êste separado do segundo elemento, ao dividir-se ou soletrar-se a palavra; ex.: ex ér ci to, ex ce der.

XLIV.—

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São inseparáveis as letras dos seguintes grupos de consoantes: bl, cl, dl, fl, gl, pl, tl, vl; br, cr, dr, fr, gr, pr, tr, vr; ch, lh, nh; sc, ps.

Se, porêm, o s se lê separado do c no interior do vocábulo, separado se divide; ex.: des cer, côns ci o, pros cé nio; mas en sce na ção.

XLV.—

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São igualmente inseparáveis duas vogais consecutivas, formem ou não ditongo; ex.: ai po, cau sa, rai nha, proé mio, goe la, poei ra, pro nún cia, voar, voo, á gua, moi nho, é gua, i guais, con tí nua, con ti nua, fa mí lia, se ria, sé ria, rea lidade, veí culo.

XLVI.—

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O u depois de q ou g é dêle inseparável, quer seja mudo, quer se profira; ex.: quin ta, guer ra, fre qùen te, a gùen tar, ar gùir.