Fragmento de um canto em cordas de bronze

Deixai que o pranto esse pallor me queime,
Deixai que as fibras que estalárão dôres
Desse maldito coração me vibrem
A canção dos meus ultimos amores!

Da delirante embriaguez de bardo
Sonhos em que afoguei o ardor da vida,
Ardente orvalho de febris pranteios,
    Que lucro á alma descrida?

Deixai quo chore pois. — Nem loucas venhão
Consolações a importunar-me as dòres;
Quero a sós murmural-a á noite escura
A canção dos meus ultimos amores!

Da ventania ás rabidas lufadas
A vida maldirei em meu tormento
— Que é falsa, como em prostitutos labios
    Um osculo visguento.

Escarneo! para essas muitas virgens
Como flòres — românticas e bellas —
Mas que no seio o coração tem arido,
Insensivel e estupido como ellas!

Quero agreste vibrar ruja-me as cordas
Mais selvagens d’est’harpa — quero accentos
D’aspero som como o ranger dos mastros
    Na orchestra dos ventos!

Corre feio o trovão nos céos bramindo;
Vão torvos do relampago os livores —
Quero ás rajadas do tufão gemèl-a
A canção dos meus ultimos amores!

Vem pois, meu fulvo cão! ergue-te asinba,
Meu derradeiro e solitario amigo!
— Quero me ir embrenhar pelos desvios
    Da serra — ao desabrigo...

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