fonte: Projeto Gutenberg [1]

Na versão em português por Rodrigo Leite Valentin de Souza, Carapicuiba, 2008,

baseado na versão inglesa de (Parte de uma Tese Apresentada à Faculty of Princeton University para a graduação em Doctor of Philosophy)

por CHARLES C. MIEROW

Princeton, 1908

  • Nota:

Pela primeira vez a história dos godos, registrada na Gótica_de_Jordanes, um godo cristão que escreveu sua crônica no ano de 551, provavelmente em Constantinopla, é agora colocada em inglês como parte de uma edição de "Gótica" preparada pelo Mr. Mierow. Aquele que cuida do romance da história ficará fascinado pela grande narrativa de uma causa perdida, e não encontrará um ingênuo e amável --- (simple-hearted) exagerado de um enganador panegírico da raça gética. Ele pintou o que acreditava, ou queria acreditar, e seu emprego da fábula e da lenda, sua tão bem feita e tão ingênua exibição de seus leais preconceitos simplesmente aumenta o interesse por sua história. Aqueles que querem uma desapaixonada narrativa científica evitarão ler Jordanes, mas igualmente lembrarão a verdade, palavras de Delbrueck:

"Legende und Poesie malen darum noch nicht falsch, weil sie
mit anderen Farben malen als die Historie. Sie reden
nur eine andere Sprache, und es handelt sich darum,
aus dieser richtig ins Historische zu uebersetzen."

ANDREW F. WEST.

  • Prefácio (do tradutor para o inglês)

A versão que se segue da "Gética", de Jordanes, é baseado no texto de Mommsen, tal qual se encontra na Monumenta Germaniae Historica, Auctores Antiquissimi 5 (Berlin 1882). Eu tenho aderido unicamente por sua ortografia dos nomes próprios, especialmente os nomes géticos, exceto no caso de quando muito raras palavras são comuns em outra forma (como são Geserico e Belisário). Eu desejo expressar meus sinceros agradecimentos ao Reitor Andrew F. West da Princeton Graduate School por seu profundo interesse em meu trabalho. Isso foi em um de seus cursos de graduação de tradução iniciado, três anos depois, e de sua sugestão, que eu idealizei a composição da tese na presente forma. Ele interpretou o inteiro estudo no manuscrito, e foi meu constante conselheiro e crítico. Devo agradecimentos também ao Dr. Charles G. Osgood, do English Department of Princeton University, pela leitura da tradução.

CHARLES C. MIEROW.

Classical Seminary, Princeton University, July 1908.

  • Nota da tradução para o Português_Brasil:

Não acredito que conseguirei produzir uma elogiável tradução dessa obra: o desafio para isso estaria mesmo fora do meu alcance. Espero um dia saber que essa tradução foi ao menos lida por alguém tão apaixonado pela história quanto eu, e espero que alguém se interesse em melhorá-la, em benefício de todos os leitores. As datas, ao invés dos costumeiros aC (antes de Cristo) e AD (ano Domini) ou dC (depois de Cristo), utilizei AEC (Antes da Era Comum) e EC (Era Comum), levando-se em conta que é uma forma mais exata.

RODRIGO LEITE VALENTIN DE S.

Estudos pessoais Pq. Jandaia_Carapicuiba/SP Agosto de 2008.


Prefácio

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Ainda que meu desejo tenha sido o de deslizar com meu pequeno barco pelo mar de uma costa pacífica e, com certeza escritor de discursos, para pescar pequenos peixes do reservatório dos antigos, você, irmão Castalius, me propõe ajustar minhas velas rumo ao abismo. Você me insta a abandonar o pequeno trabalho que tenho em mãos, isto é, interromper as Crônicas, para condensar em meu próprio estilo, num pequeno livro, os doze volumes do Senador, da origem e façanhas dos godos, de antigamente até o presente, descendo através de gerações de reis. Uma ordem realmente difícil, e imposto por quem dá, de sí mesmo, impressão de relutância para realizar a idéia da tarefa. Você também não nota que a minha elocução é também desprezível em comparação com a tua para completar isso tão magnífico quanto um trompete para discurso. Mas sobre a idéia toda, é o fato de eu não ter acesso aos seus livros para poder persistir no seu propósito. Silêncio_ e permita-me não repousar_ eu lí, em tempos idos, os livros uma segunda vez, emprestados por sua administração, por três dias de leitura. Não quero ser repetidor, mas penso conservar inteiro o senso e a proeza relatadas. Para isso, incluí matérias adaptadas, algumas provenientes da história grega e latina. Tenho, além disso, uma introdução e uma conclusão, e inserí muitas coisas de minha autoria. Não para eu ser afamado, mas, para você receber e ler com prazer o que me solicitou escrever. Se qualquer coisa for insuficientemente falada, e você se lembrar disso, faça de si mesmo um próximo para nossa raça, adicionando o que faltar, orando por mim, querido irmão. O Senhor esteja contigo. Amém.

Introdução à Geografia

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        [Nota marginal: Oceano e suas menores ilhas.]

I_ Nossos ancestrais, como Orósio relata, eram da opinião que o círculo do mundo todo era envolto pelo oceano, cercado pelos três lados. Estas três partes eles chamaram Ásia, Europa e África. Concernente à esta tripla divisão da extensão da Terra, houve inumeráveis escritores, que não somente explanam as situações da cidades e lugares, mas também a medida de distâncias e o compasso, para dar mais clareza. Além do mais, eles localizam as ilhas espalhadas entre os mares, tanto a maior quanto a menor das ilhas, chamadas Cíclades ou Sporades, como situadas nos vastos do Grande Mar. Mas os impraticáveis ressaltos distantes do Oceano não somente não receberam atenção para serem descritos, mas a distância não o permitiu; pela razão da obstrução por algas e sua sinuosidade, é francamente inacessível e é desconhecido para quem quiser fazer isso. Porém, a margem próxima desse mar, que podemos chamar Círculo do Mundo, está envolvido em costas como uma coroa. Esta tem se tornado claramente como homens indagando o intelecto, ainda para, tão semelhante desejo de escrever sobre isso. Não é somente o litoral habitado, mas certas ilhas marítimas afastadas são habitáveis. Desta maneira, há ao Leste do Oceano Índico, Hippodes, Iamnesia, Solis Perusta (que, mesmo não habitável, é ainda a maior em comprimento e largura), comparada à Taprobane, uma ilha exposta na qual há cidades ou estados e dez fortemente fortificadas cidades. Há ainda outra, a amável Silefantina, e Theros também. Estas, embora não claramente descritas por nenhum escritor, são, contudo, bem supridas de habitantes. Este mesmo Oceano tem, na sua região Oeste, certas ilhas próximas umas das outras, por causa do grande número delas, se vê pela jornada indo e retornando.E há duas não muito longínquas na vizinhança do Estreito de Gades, uma abençoada ilha; e outra chamada Fortunate. Embora alguns considerem como ilhas do Oceano os idênticos promontórios da Gália e Lusitânia, onde estão continuamente visíveis do templo de Hércules em um, e o monumento à Cipião no outro, ainda que eles estejam ligados pela extremidade do país da Gália, ainda são parte contada com a maior terra da Europa ao invés de com as ilhas do Oceano. De qualquer modo, há outras ilhas desconhecidas em suas águas, que são chamadas Baleares; e ainda outra, Mevania, ao lado das Orcades, trinta e três em número, mesmo nenhuma delas sendo habitadas. E, nesse extremo da expansão Oeste tem outra ilha, chamada Thule, que o bardo Mantuan faz menção:

"E a distante Thule deve te servir "

O mesmo imenso mar tem também, em sua região ártica, que fica no Norte, uma grande ilha chamada Scandza, na qual minha narrativa (pela graça de Deus) deve tomá-la pelo princípio. Para a raça de origem da qual você indaga para conhecer, manifesto adiante como um subir das abelhas do centro desta ilha, vindo para a terra da Europa. Mas como ou de que forma, nós devemos explanar daqui em diante, se for da vontade do Senhor.

BRETANHA

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        [Nota marginal: As duas invasões de César na Bretanha 55-54 AEC]

II_ Mas agora, se puder, permita-me falar resumidamente concernente à ilha da Bretanha, que é situada no coração do Oceano, entre a Espanha, Gália e Germânia. Embora Livy (Tito Lívio?) nos conte que ninguém nos tempos antigos navegou envolta dela, por causa deste enorme tamanho, ainda muitos escritores têm tido várias opiniões sobre o assunto. Era muito distante para as armas romanas, até que Júlio César a descobriu ao lutar em batalhas pela mera glória. Na época da ocupação, que se seguiu a isso, ela tornou-se acessível para muitos **completo, de uma parte à outra** **negócios** e por outros meios. Deste modo revelou-se mais claramente sua posição; por isso, devo explanar aqui como eu a tenho encontrado nos autores gregos e romanos. A maior parte deles dizem que a ilha é como um ponto triangular entre norte e oeste. Seu ângulo maior defronta-se com a desembocadura do rio Reno. A partir daí a ilha diminui na largura e retrocede até terminar em dois outros ângulos. Seu lado com maior comprimento defronta-se com a Gália e Germany. Sua maior largura é dito que seja, de um lado a outro, dois mil e trezentos e dez estádios. Em algumas partes, a ilha é pantanosa, em outras existem planícies de bosques, e às vezes ascende a picos montanhosos. A ilha é circundada por um mar calmo, que não se rende facilmente à força do remo nem se percorre grandes distâncias sob rajadas de vento. Suponho que isso seja causado por estarem todas as outras terras distantes dela, e por isso não causam distúrbio ao mar, que, deveras, é aí da maior largura. Além disso Estrabão, um famoso escritor grego, relata que a ilha exala como uma cobertura de sujeira, encharcada pela frequente invasão do Oceano, e o sol é completamente coberto por sua desagradável natureza de dia nessa passagem uniforme, e assim está escondida da vista. Cornélio também, o autor de "Anais", diz que no extremo leste da Bretanha a noite tem luminosidade e a noite é muito curta. Ele afirma também que a ilha é abundante em metais, é bem suprida de pasto e é mais produtiva em tudo daquelas coisas que alimentam antes animais do que a homens. Além do mais, rios muito grandes correm constantemente alí, e as marés são ***(borne)*** voltando para ela, rolando adiante preciosas pedras e pérolas. Os Silures têm pele escura e geralmente nascem com cabelos pretos e cacheados, mas os habitantes da Caledônia têm cabelos ruivos e grandes corpos desconjuntados ***(?[loose-jointed])*** . Eles são como os gauleses ou os espanhóis, conforme estão ambas as nações opostas. Em razão disso alguns têm suposto que destas terras a ilha recebeu seus habitantes, atraindo-os pela sua proximidade. Todo o povo e seus reis são igualmente violentos. Ainda Dio, o mais celebrado escritor de anais, nos assegura do fato que eles estavam combinados sob o nome de Caledonios e Maeatae. Eles vivem em entrelaçamentos de cabanas, abrigo usado em comum entre suas multidões, e frequentemente as florestas são seu lar. Eles pintam seus corpos com ferrugem ***(?iron-red)*** , ou como adorno ou eventualmente por alguma outra razão. Eles geralmente travam guerra um com o outro, por desejarem poder ou para aumentar suas possessões. Lutam não somente à cavalo ou à pé, mas [planam(even)] com o corte da foice da carruagem de dois cavalos, que eles normalmente chamam _essedae_. Permita que seja o suficiente o muito que foi dito dessa forma a respeito da situação da ilha da Bretanha.


SCANDZA

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III_ Permita-nos retornar para localizar a ilha de Scandza, que nós acima havíamos deixado. Cláudio Ptolomeu, um excelente [descritor] do mundo, fez menção disso no segundo livro de seu trabalho, dizendo: "Aquela é a grande ilha situada nas agitadas águas do Oceano Nórdico, Scandza é seu nome, na figura de um junípero brotando com lados salientes que estreita-se [para baixo] para uma ponta com longo fim." Pomponius Mela também fez menção dela como situada no Golfo Codan, com o Oceano em torno de suas praias.

Esta ilha repousa defronte do rio Vistula, que desce das montanhas Sarmatianas e corre direto sua tripla boca pelo Oceano Nórdico à vista de Scandza, separando a Germânia e a Cítia. A ilha tem em sua parte oriental uma vasta lagoa no centro dessa terra, onde o rio Vagus nasce das entranhas da terra e corre terminando no Oceano. E a oeste, está rodeada por um imenso mar. Ao norte, está confinada pelo mesmo vasto e inavegável Oceano, onde penso que a forma do braço de terra projeta uma baía está cortada e forma o Mar Germânico. Aqui também dizem haver muitas pequenas ilhas dispersas ao redor. Se lobos cruzam para estas ilhas quando o mar está congelado em razão do extremo frio, eles estão [dito] ***(said)*** para perder sua visão. Assim a terra [é] não só inóspita para o ser humano, mas igualmente cruel aos animais selvagens. Agora na ilha de Scandza, da qual eu falo, residem muitas e diversas nações, apesar de Ptolomeu mencionar os nomes de somente sete delas. Ali os favos de mel ***(honey-making)*** enxames de abelhas em parte alguma são encontrados, julgando pelo excessivo frio. Na parte norte da ilha a "corrida da vida de Adogit" , que se diz ser feito para terem continuamente luz no meio do verão por quatorze dias e noites, e que do mesmo modo deixam de ter luz completamente na estação do inverno pelo mesmo número de dias e noites. Pela razão dessa alternância de sofrimento e alegria, eles são como nenhuma outra raça em seus sofrimentos e bênçãos. E porquê? Porque durante os longos dias eles vêem o sol retornando ao leste junto à linha do horizonte, mas nos dias de curta duração ele (o sol) não é assim visível. O sol mostra-se diferentemente porque ele está passando de uma parte à outra o lado ***(signs)*** sul, enquanto para nós o sol se vê levantando-se de baixo, ele (o sol) é visto ir em redor, junto à linha da terra. Há também outras pessoas. Há os Screrefennae, que não recorrem a grãos como alimentos mas vivem de animais selvagens e ovos de pássaros; para haverem deste modo multidões de jogos de criança/jovens na inundação como para prover para o aumento natural de sua espécie e para satisfazer a necessidade de seu povo. Mas ainda outra raça reside ali, os Suehans, quem, como os Thuringians, têem excelentes montarias. Aqui também há aqueles que despacham através de inumeráveis outras tribos, os que comercializam peles sappherine para uso de Roma. Eles são um povo conhecido pela beleza morena de sua pele e, apesar de viverem em pobreza são os mais ricamente vestidos. Depois desta, sucede uma multidão de várias nações, Theustes, Vagoth, Bergio, Hallin, Liothida. Suas habitações são todas em uma plana e fértil região. Por isso eles são perturbados aí pelo ataque de outras tribos. Atrás destes estão os Ahelmil, Finnaithae, Fervir e Gauthigoth, uma raça de homens destemidos e ativos para a luta. Então vem os Mixi, Evagre, e Otingis. Todos eles vivem como animais selvagens nas rochas talhadas externamente como castelos. E há além desses os Ostrogodos, Raumarici, Aeragnaricii, e os mais pacíficos Finns, os mais brandos de todos os habitantes de Scandza. Assim são também os Vinovilith. Os Suetidi descendem deles e excedem os outros em estatura. De qualquer forma, os Dani, que traçou sua origem na mesma ascendência, conduziu de suas casas os Heruli, quem cantou reinvindicando a superioridade entre todas as nações de Scandza por sua altura. Além desses há na mesma redondeza os Grannii, Augandzi, Eunixi, Taetel, Rugi, Arochi e Ranii, sobre quem Roduulf foi rei não muitos anos depois. Mas ele desprezou seu próprio reino e correu fazer acordo com Teodorico, rei dos godos, encontrando ali o que desejou. Todas essas nações sobrepujam os germânicos em tamanho e espírito, e lutam com a crueldade de animais selvagens.

Os godos unidos

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        [NOTA MARGINAL: Como os godos vieram para a Cítia]

IV_ Agora dessa ilha de Scandza, como que provindo de um conjunto de raças ou de uma geração de nações, os godos afirmam terem ido adiante muito tempo depois sob seu rei, de nome Berig. Logo que desembarcaram de seus navios e colocaram pés em terra, imediatamente deram seu nome ao lugar. E mesmo hoje isso é dito, para ser chamada Gothiscandza. Em pouco tempo eles moveram-se daí para residir em Ulmerugi, onde ficaram por um tempo na costa oceânica, levantando acampamento, lutando com eles e guiando-os para seus lares. Então eles subjugaram seus vizinhos, os vândalos, e assim adicionaram isso às suas vitórias. Mas quando o número de pessoas aumentou demais e Filimer, filho de Gadarico, reinou como rei _o quinto desde Berig_ ele decidiu que o exército dos godos com suas famílias deveriam sair dessa região. Na procura de casas adequadas e lugares agradáveis eles vieram para a terra da Cítia, chamada Oium nessa língua. Aqui eles ficaram satisfeitos com a grande riqueza do país, e se diz que quando a metade do exército teve de atravessar novamente, a ponte através da qual eles passaram o rio caíu em total ruína, desde então ninguém pode ir ou vir . Sobre o lugar se diz que está cercado de pântano movediço e um abismo circundando, e por estes dois obstáculos naturais tem feito o lugar inacessível. E mesmo hoje alguém talvez escute naquela redondeza o mugido do gado e talvez encontre sinais de homem, se acreditarmos em histórias de viajantes, ainda que nós precisemos permitir que eles escutem estas coisas de muito longe. (And even to-day one may hear in that neighborhood the lowing of cattle and may find traces of men, if we are to believe the stories of travellers, although we must grant that they hear these things from afar)

Esta parte dos godos, que se diz ter atravessado o rio e entrado com Filimer no país de Oium, veio apossada do desejo de território, vindo rapidamente contra a raça dos Spali, batalhando e obtendo vitória. Desde então os vitoriosos avançam para a mais distante região da Cítia, que é perto do mar do Ponto; a história, assim, é geralmente contada em suas breves canções, em quase todos os seus costumes históricos. Ablabius também, um famoso cronista da raça gótica, confirma isso em sua mais confiável descrição. Alguns dos antigos escritores também concordam com a narrativa. Entrementes nós podemos mencionar Josefo, um mui confiável relator de anais, quem por toda parte segue o preceito da verdade e soluciona começando pela origem das causas; --mas quem ele tem omitido o princípio da raça gótica, que eu tenho falado, eu não sei. Ele apenas menciona Magog dessa descendência, e diz que eles eram da raça dos Cítians e era chamado assim pelo nome.

Antes de entrarmos em nossa história, precisamos descrever os limites desta terra, assim como sua posição.

        [Nota marginal: Cítia]

V_ Agora as fronteiras da Cítia na terra da Germânia são do início do rio Ister e o espaço do pântano Morsian. Isso alcança até o rio Tyra, Danaster e Vagosola, e o grande Danaper, extendendo-se até o Taurus __não as montanhas na Ásia mas nosso próprio, que é a Taurus Cítia__ todo o caminho para o Lago Maeotis. Além do Lago Maeotis estende-se do outro lado do estreito do Bósforo para as Montanhas do Cáucaso e o rio Araxes. Então volta para a esquerda, atrás do mar Cáspio, que vem do oceano nordeste na mais distante parte da Ásia, e daí amplo e contorna a figura ***(shape)*** . Ela extende-se pelo Hunos, Albani e Seres. Esta terra, eu digo, __ou seja, Cítia, expandindo ao longe e extendendo-se amplamente__ tem ao leste o Seres, uma raça que, no começo desta história, mora no mar Cáspio. No oeste estão os germânos e o rio Vistula; no lado ártico, quer dizer o norte, está cercado pelo oceano; ao sul pelo Persis, Albania, Hiberia, Ponto e o distante canal do Ister, que é chamado Danúbio por todo o caminho desde a desembocadura até a nascente. Mas nesta região onde a Cítia toca a costa do Ponto está pontilhada de cidades de não pouca fama: Borysthenis, Olbia, Callipolis, Cherson, Theodosia, Careon, Myrmicion e Trapezus. Estas cidades as selvagens tribos Cítias permitiram aos gregos construir para dar-lhes um meio de comércio. No centro da Cítia está o lugar que separa a Ásia e a Europa, penso ser as montanhas Rhipaeian, de onde o poderoso Tanais corre. Este rio entra no Maeotis, um pântano tendo um circuito de cento e quarenta e quatro milhas e nunca descendo para uma profundidade menor que oito braças.

Na terra da Cítia, ao oeste mora, primeiro de todos, a raça dos Gepidae, cercados pelos grandes e famosos rios. Pela correnteza do Tisia através dela para o norte e noroeste, e ao sudeste está o grande Danúbio. Ao leste está cortado pelo Flutausis, um ligeiro rio corrente que move-se dirigindo-se às águas do Ister. Este rio está situado dentro da Dacia, circundado pelos Alpes como por uma coroa. Perto das suas montanhas à esquerda, que inclina para o norte, e começa no início do Vistula, morada da populosa raça dos Venethi (Vênetos), ocupando um grande espaço de terra. Apesar de seus nomes estarem agora dispersos dentre vários clãs e lugares, eles ainda são principalmente chamados Sclaveni e Antes. A localização dos Sclaveni está da cidade de Noviodunum e o lago chamado Mursianus para o Danaster, e para o norte até o Vistula. Eles têm pântanos e florestas para suas cidades. Os "Antes", que são os corajosos desses povos residindo na curva do mar do Ponto, estendem-se do Danaster ao Danaper, rios esses que estão separados muitos dias de jornada. Mas na margem do oceano, onde a correnteza do rio Vistula desemboca em três bocas, vive os Vidivarii, um povo reunido de várias tribos. Além deles os Aesti, um povo subjugado, também possuem margem de oceano. Ao sul ficam os Acatziri, uma tribo muito guerreira que ignora a agricultura, que vivem de seus rebanhos e da caça. Mais longe e acima do mar do Ponto está a moradia dos Bulgares, bem conhecidos pelas injustiças feitas a eles por causa da nossa opressão. Estão nessa região os Hunos, [que são] como fértil raiz das raças guerreiras, desenvolveu-se em duas multidões de povo. Alguns destes são chamados Altziagiri, outros Sabiri; e eles têm diferentes locais de residência. Os Altziagiri [estão] perto [dos] Cherson, onde comerciantes avarentos trazem o melhor da Ásia. No verão eles alcançam as planícies, seus amplos domínios, sempre que a pastagem para o gado os convida, e dirigem-se, no inverno, além do Mar do Ponto. Agora os Hunuguri são conhecedores para nós do fato de eles trabalharem em pele de marta. Mas eles têm sido intimidados por seus valentes vizinhos.

        [Nota marginal: As três moradas dos godos ]

Nós lemos que na sua primeira migração os godos residiram na terra da Cítia perto do Lago Maeotis. Na segunda migração eles foram para a Moesia, Trácia e Dácia, e depois eles, na terceira, moraram novamente na Cítia, acima do Mar do Ponto. Nem nôs faz encontrar em lugar algum em seus escritos do passado lendas que conte sobre sua sujeição para escravidão na Bretanha ou em alguma outra ilha, ou sobre sua redenção por um certo homem no custo de um único cavalo. Claro se qualquer um em nossa cidade diz que os godos têm uma origem diferente da que eu relatei, dê-lhe objeção. Para mim mesmo, prefiro muito mais acreditar no que leio, do que confiar em histórias de velhas.

De volta, então, ao meu assunto. A acima mencionada raça sobre a qual falei é conhecida por ter tido Filimer como rei enquanto estiveram em sua primeira morada na Cítia perto do Maeotis. Em sua segunda morada, que está nas terras da Dácia, Trácia e Moesia, Zalmoxes reinou, a quem muitos escritores de anais mencionam como um homem de excelente conhecimento de filosofia. Ainda antes disso eles tiveram um homem instruído, Zeuta, e depois dele, Dicineus; e o terceiro foi Zalmoxes, sobre quem fiz menção acima. Nem permitiram faltar professores de conhecimento. Portanto os godos têm sempre sido mais cultos do que outros bárbaros e se tornaram como os gregos, como relata Dio, que escreveu sua história e anais com um estilo grego. Ele diz que aqueles de nobre estirpe dentre eles, da qual eles nomeavam seus reis e sacerdotes, foram primeiro chamados Tarabostesei e depois Pilleati. Ademais os Getae foram tão grandemente elogiados que Marte, aquele que os contos dos poetas chamam de deus da guerra, foi reputado ter nascido entre eles. Então Virgílio diz: "Pai Gradivus governa os campos góticos."

Agora Marte tem sempre sido cultuado pelos godos com ritos cruéis, e prisioneiros foram mortos como suas vítimas [de oferta sacrificial]. Eles acreditam que é ele, [Marte], o senhor da guerra, sendo necessário aplacá-lo por derramamento de sangue humano. Para ele os godos devotam a melhor parte dos despojos, e em sua honra ramos de árvores são desnudadas para o inimigo ser suspenso em árvores. E eles têm, mais do que qualquer outra raça, um espírito profundamente religioso, desde que a devoção a seu deus tenha sido realmente concedido por seus ancestrais. Em seu terceiro local de moradia, que estava acima do Mar do Ponto, eles tornaram-se agora mais civilizados e, como eu disse anteriormente, tornaram-se mais instruídos. Então o povo estava dividido sob famílias predominantes. Os visigodos serviram a família dos Balthi e os ostrogodos serviram aos renomados Amali. Eles foram a primeira raça de homens a esticar os arcos com cordas, como Lucan ***(Luciano, o poeta latino???)***, que é mais historiador que poeta, afirma: "Eles esticam arcos armênios com cordas góticas."

        [Nota lateral: o rio Don]
        [Nota lateral: o Dnieper]

Em tempos anteriores eles cantaram sobre os feitos de seus ancestrais em melodiosas músicas acompanhados da cítara; cantando sobre Eterpamara, Hanala, Fritigern, Vidigoia e outros a quem a fama entre eles é grande; semelhantes heróis como admirando antiguidade, raramente proclamando suas próprias façanhas. Então, como segue a história, Vesosis travou uma desastrosa guerra contra os citas, que a antiga tradição afirma terem sido os maridos das Amazonas. Concernente à essas mulheres guerreiras Orósio fala em convincente linguagem. Dessa forma podemos claramente provar que Vesosis lutou com os godos, desde então nós conhecemos seguramente que ele travou guerra com os maridos das Amazonas. Eles moraram por algum tempo perto duma curva do Lago Maeotis, desde o rio Borysthenes, que os nativos chamam de Danaper, até o extremo do Tanais. Por Tanais eu penso que seja o rio que corre descendo pelas montanhas Rhipaeian e em tal velocidade que, quando os rios vizinhos ou o Lago Maeotis e o Bósforo são rapidamente congelados, este é o único rio que permanece quente pelas montanhas rochosas e nunca fica congelado pelo frio da Cítia. Este também é famoso como [sendo] o limite da Ásia e Europa. Para o outro Tanais está aquele que aumenta nas montanhas do Chrinni e corre para dentro do Mar Cáspio. O Danaper inicia em um grande pântano e sai dele como sua mãe. Este é doce e adequado para ser bebido à medida da distancia da metade de seu curso. Este também produz peixe de um fino sabor e sem ossos, tendo somente cartilagem como esqueleto de seus corpos. Mas à medida que se aproxima do Ponto ele recebe um pequeno rio chamado Exampaeus, tão altamente amargo que embora o rio seja navegável ao longo de quarenta dias de viagem, fica tão alterado pela água desse escasso rio à medida que se torna corrompido e diferente de sí mesmo, e corre assim corrompido para o mar entre as cidades gregas de Callipidae e Hypanis. Em sua desembocadura há uma ilha de nome Achilles. Entre esses dois rios está uma vasta terra cheia de florestas e traiçoeiros pântanos.

        [Nota marginal: Derrota de Vesosis (Sesóstris) ]

VI _ Esta era a região onde os godos viveram quando Vesosis, rei dos egípcios, lhes fez guerra. Seu rei naquele tempo era Tanausis. Numa batalha no rio Phasis (onde pousam os pássaros chamados pheasants, que são encontrados em abundância nos banquetes do mundo inteiro ) Tanausis, rei dos godos, encontrou Vesosis, rei dos egípcios, e aí infligiu-lhe uma severa derrota, perseguindo-o mesmo até o Egito. Se ele não tivesse sido retido pelas águas do intransitável Nilo e as fortificações que Vesosis tinha há muito tempo ordenado que fossem construídas contra os ataques dos etíopes, o teria matado em sua própria terra. Mas o encontrando, não teve poder para ofendê-lo, então voltou e conquistou quase toda a Ásia e a colocou em sujeição e tributária para Sornus, rei dos Medos, que era então seu querido amigo. Naquele tempo alguns de seus exércitos vitoriosos, vendo que as províncias dominadas estavam ricas e frutíferas, desertaram suas companhias e seu próprio acordo e ficaram em várias partes da Ásia.

De seu nome ou raça Pompéio Trogo diz que tem na descendência dos Parthians ***(Partos??)*** sua origem. Então mesmo hoje no idioma da Cítia eles são chamados Parthi, que significa desertores. E na importância de sua descendência eles são arqueiros__ quase sós entre todas as nações da Ásia__ e são guerreiros muito valentes. Agora com respeito ao nome, apesar de eu ter dito que eles eram chamados Parthi por terem se tornado desertores, alguns têm traçado a origem da palavra de outra forma, dizendo que eles foram chamados Parthi por fugirem de seus parentescos. Agora quando este Tanausis, rei dos godos, morreu, seu povo começou a adorá-lo como um dos seus deuses.

        [Nota marginal: As Amazonas na Ásia Menor]

VII_ Depois de sua morte, enquanto o exército sob seus sucessores estavam engajados numa expedição em outras regiões, uma tribo vizinha tentou levar embora as mulheres dos godos como espólio. Mas elas fizeram uma brava resistência, como se tivessem sido treinadas para fazer isso por seus maridos, e mandaram em desgraça o inimigo que veio contra elas. Quando elas obtiveram essa vitória, ficaram animadas por grande ousadia. Encorajando umas às outras, elas pegaram em armas e escolheram duas corajosas, Lampeto e Marpesia, para agir como suas líderes. Enquanto essas estiveram no comando, elas separaram-se, parte para a defesa de seu próprio país e [parte para] a devastação de outras terras. Então Lampeto ficou para defender sua terra nativa e Marpesia pegou uma companhia de mulheres e dirigiu seu novo exército para a Ásia. Depois, conquistando várias tribos na guerra e fazendo de outras suas aliadas por tratos, ela veio ao Cáucaso. Lá ela ficou por algum tempo e deu ao lugar o nome de Rocha de Marpesia, ao qual Virgílio faz menção:

Semelhante à dureza da rocha ou a Rocha Marpesiana."

Esteve ali Alexandre, o grande, mais tarde, e construiu um portão, chamando-o de Portão Cáspio, que agora a tribo dos Lazi cuida como uma fortificação romana. Aqui, então, as Amazonas ficaram por algum tempo e fortaleceram-se muito. Elas partiram, portanto, e atravessaram o rio Halys, que corre próximo à cidade de Gangra, e com igual sucesso subjugaram a Armenia, Syria, Cilicia, Galatia, Pisidia e todos os lugares da Ásia. E depois elas viraram para Ionia e Aelia, e fizeram províncias delas, depois de suas rendições. Ali elas governaram por algum tempo e até fundaram cidades e acampamentos sustentando seus nomes. Em Éfeso também elas construíram um caríssimo e bonito templo para Diana, por causa do seu prazer em arco-e-flecha e a caça _ artes na qual elas dedicavam-se. E depois estas mulheres de nascimento Scytha, que tiveram igualmente adquirido o controle sobre os reinos da Ásia, governou-os por quase uns cem anos, e por último, voltaram para seus parentes, nas montanhas Marpesianas que mencionei acima, ou seja, as montanhas Caucasianas.

        [Nota marginal: O Cáucaso]

Tendo em vista que mencionei esta cordilheira duas vezes, penso não ser fora de propósito para descrever esta extensão e localização, por, como é bem conhecido, cercar uma grande parte da terra com sua contínua cadeia. Começando pelo oceano Índico, onde sua superfície sul é quente, liberando vapor ao sol; onde na sua posição virada para o norte está exposta aos ventos frios e nevascas. Então dirigindo-se de volta à Síria numa curva, não é somente produzidos adiante muitos outros rios, mas jorram dele abundantes lutas ***(breasts/peitos?)*** para dentro do Vasianensian, região do Eufrates e Tigre, rios navegáveis famosos por suas incessantes primaveras. Estes rios cercam a terra da Síria e por isso é chamada Mesopotâmia, como ela verdadeiramente está. Suas águas esvaziam-se dentro do Mar Vermelho. Então voltando para o norte, a abrangência eu tenho falado das passagens com grandes curvas através da terra Scytha. Lá ela produz adiante muitos famosos rios para o Mar Cáspio _ o Araxes, o Cyrus e o Cambyses. Eles viajam pela prolongada fileira até as montanhas Rhipaeian. Desde aí, descendo do norte em direção ao mar Pôntico, fornecendo uma fronteira para as tribos Scythas por sua cadeia [montanhosa], e até tocar as águas do Íster com suas colinas agrupadas. Sendo cortada por este rio, a reparte, e na Cítia é chamada Taurus também. Semelhante também é a grande fileira, quase a maior das cadeias montanhosas, elevando seus picos; e por sua formação natural supre os homens de sua inexpugnável fortaleza. Aqui e alí ela divide-se onde a cadeia interrompe-se e deixa uma profunda lacuna, formando agora, desse modo, o Portão do Cáspio, e novamente a Armênia ou a Cilícia, ou qualquer nome que seja do lugar. Ainda passará apenas um carro, por ambos os lados serem traiçoieros e escarpados como um poço, sendo muito alto. A cordilheira tem diferentes denominações entre os vários povos. A Índia a chama de Imaus e em outra parte Paropamisus. A Pártia a denomina primeiro de Choatras e mais tarde Niphates; a Síria e a Armênia a chama de Taurus. Muitas outras tribos têm dado nomes à essa cadeia. Agora que nós temos devotado algumas poucas palavras para descrever sua extensão, vamos retornar ao objeto de assunto das Amazonas.

        [Nota marginal: As Amazonas]

VIII_ Temendo que sua raça fracassasse, elas procuraram casamento com as tribos vizinhas. Elas marcaram um dia de encontro uma vez todo ano, de tal forma que quando elas precisassem retornar ao mesmo lugar naquele dia no ano seguinte, cada mãe daria novamente ao pai qualquer criança macho que elas tivéssem dado à luz, mas deveriam elas mesmas sustentar e treinar para a guerra qualquer criança do sexo feminino que nascesse. Ou senão, ***como algum mantimento*** , elas exporiam os machos, destruindo a vida de sua infeliz criança com um ódio igual a uma mãe adotiva. Entre essa geração detestada, apesar de em toda parte senão era desejada. O terror de sua crueldade era acrescido por um comum rumor; com que esperança, para lá iria um cativo, quando tal [coisa] era considerada injusta, deixar viver até mesmo um filho? Hercules, elas dizem, lutou contra elas e submeteu Menalippe, mais por trapaça que por valor. Theseu, além disso, capturou Hippolyto, e dela ele produziu Hippolytus. E tempos depois as Amazonas tiveram uma rainha chamada Penthesilea, conhecida nas narrativas da Guerra de Tróia. Daquela mulher [em diante] é dito terem possuído seu poder até ao tempo de Alexandre, o Grande.

        [Nota marginal: Reino de Telefus e Eurypylus]
        

IX_ Mas não diga "Porque fazer uma história dos assuntos com respeito aos homens godos tendo assim muito a dizer de suas mulheres?". Escute, então, a narrativa da fama e glória do valor dos homens. Agora Dio, um historiador e diligente investigador dos tempos antigos, que deu à seu trabalho o título "Getica" (e os Getae nós provamos numa passagem anterior serem os godos, no testemunho de Orósio Paulo)_ este Dio, eu digo, fez menção de um rei posterior deles chamado Telefus. Não se pode dizer que este nome é totalmente estranho ao idioma gótico, e é ignorância contestar o fato de que as tribos dos homens fizeram uso de muitos nomes, até como os romanos apropriaram-se dos macedônios, e os gregos dos romanos, os sarmatianos dos germanos, e os godos frequentemente dos hunos. Este Telefus, então, um filho de Hércules por Auge, e o marido da filha de Príamo, foi de alta estatura e terrível força. Ele comparou-se ao seu pai em valor por virtudes próprias e também lembrava as feições de Hércules por sua semelhança de aparência. Nossos ancestrais chamaram seu reino de Moesia. Esta província tem ao leste a desembocadura do Danúbio, ao sul a Macedônia, à oeste a Histria e ao norte o Danúbio. Agora este rei nós temos mencionado que continuou na guerra com os gregos, e em seu percurso ele matou na batalha Thesander, o líder da Grécia. Mas enquanto ele estava fazendo um ataque hostil a Ajax e estava perseguindo Ulysses, seu cavalo embaraçou-se em algumas vinhas e caiu. Ele mesmo ficou caído e foi ferido na coxa por um dardo de Aquiles, de maneira que, por um longo tempo, ele não pode ser curado. Ainda, a despeito de sua volta, ele dirigiu os gregos de sua terra. Agora quando Telefus morreu, seu filho Eurypilus sucedeu-o ao trono, sendo um filho da irmã de Príamo, rei dos Frígios. Por amor à Cassandra ele procurou tomar parte na guerra de Tróia, que ele heróicamente veio para ajudar seus parentes e seu próprio sogro; mas, em breve, depois de sua chegada ele foi morto.

        [Nota marginal: Ciro, o grande _ 559-529 AEC]
        [Nota marginal: Rainha Tomyris e Ciro _ 529 AEC]

X_ Então Ciro, rei dos persas, depois de um longo intervalo de quase exatamente seiscentos e trinta e três anos (como Pompéio Trogo relata), travou uma mal-sucedida guerra contra Tomyris, rainha dos getae. Glorificado por suas vitórias na Ásia, ele aspirou conquistar os getae, que tinham por rainha, como eu já disse, Tomyris. Apesar dela poder parar a aproximação de Ciro no rio Araxes, ela ainda o permitiu atravessá-lo, preferindo para sujeitá-lo mais especialmente na batalha do que por frustrá-lo na vantagem da posição. E assim ela fez. À medida que Ciro aproximou-se, a fortuna favoreceu primeiro aos partos, tanto que eles mataram o filho de Tomyris e o principal do exército dela. Mas quando a batalha foi renovada, os getae e sua rainha venceram, conquistaram e devastaram os partos e pegaram rica pilhagem para si mesmos. Nos primeiros tempos a raça dos godos experimentaram tendas macias. Depois de alcançarem esta vitória e obtendo assim muito saque de seus inimigos, a rainha Tomyris atravessou para as partes da Moesia que agora é chamada Pequena Cítia _ um nome emprestado da Grande Cítia_ e construiu na Moesia, na margem do Ponto, a cidade de Tomi, nomeada conforme si mesma.

        [Nota marginal: Dario _ 521-485 AEC]
        [Nota marginal: Dario repelido]

Posteriormente Dario, rei dos persas, filho de Hystaspes, pediu em casamento a filha de Antyrus, rei dos godos, pedindo a mão dela e ao mesmo tempo fazendo ameaças no caso deles não realizarem seu desejo. Os godos menosprezaram esta união e executaram em sua embaixada uma destruição completa. Aceso em cólera por sua oferta ter sido rejeitada, ele conduziu um exército de setecentos mil homens armados contra eles e tentou vingar seus sentimentos feridos pela injúria pública que lhe foi infligida. Atravessando em barcos, encobertos com tábuas e unidos como uma ponte, quase o caminho inteiro da Calcedônia à Bizâncio, ele se encaminhou para a Trácia e Moesia. Mais tarde ele entrou numa ponte sobre o Danúbio da mesma maneira, mas foi molestado por dois breves meses de esforço e perdeu oito mil homens armados no [rio] Tapae. Então, temendo que a ponte sobre o Danúbio seria dominada por seus inimigos, ele foi embora da Trácia numa rápida retirada, acreditando que a terra da Moesia não seria segura até mesmo para a curta residência temporária ali.

        [Nota marginal: Xerxes _ 485-465 AEC]

Depois de sua morte, seu filho Xerxes planejou vingar a ofensa contra seu pai, e assim procedendo guerrear contra os godos com setescentos mil de seus próprios homens e trezentos mil da armada auxiliar, mil e duzentos barcos de guerra e três mil barcos de transporte. Mas ele não aventurou tentar sua batalha, sendo derrotado por sua irresistível animosidade. Então ele retornou com sua força exatamente como tinha vindo, sem lutar uma única batalha.

        [Nota marginal: Filipe da Macedônia _ 359-336 AEC]
        [Nota marginal: Cerco a Odessus ***(Odessa?)*** ]

Então Filipe, pai de Alexandre magno, fez aliança com os godos e tomou como esposa Medopa, a filha do rei Gudila, assim que ele passou a fazer o reino da Macedônia mais seguro pela ajuda de seu matrimônio. Era nesse tempo, conforme o historiador Dio relata, que Filipe, sofrendo falta de dinheiro, se determinou liderar suas forças e saquear Odessus, uma cidade da Moesia, que estava então sujeita aos godos por avizinhar-se da cidade de Tomi. Por causa disso aqueles sacerdotes dos godos, que são chamados os "Homens Sagrados", repentinamente abriram os portões de Odessus e vieram para fora ao encontro deles. Eles traziam harpas e estavam cobertos por túnicas brancas, e cantavam em súplicas melodiosas aos deuses de seus pais, [para] que eles pudessem ser-lhes propícios e repelir os macedônios. Quando os macedônios os encontraram com semelhante confissão, adequada a eles, ficaram atônitos e, ficaram aterrorizados os armados pelos desarmados, até para falar. Imediatamente quebraram a linha que tinham formado para a batalha e não somente refrearam-se de destruir a cidade, mas até libertaram aqueles a quem eles tinham capturado do lado de fora, por direito de guerra. Então eles fizeram uma trégua e retornaram para seu próprio país.

Depois de um longo tempo Sitalces, um famoso líder dos godos, relembrando estas traidoras tentativas, reuniu cento e cinquenta mil homens e fez guerra aos atenienses, lutando contra Perdiccas, rei da Macedônia. Este Perdiccas tinha sido deixado por Alexandre como seu sucessor para governar os atenienses pelo direito hereditário, quando ele bebeu sua destruição em Babilônia através da traição de seu criado. Os godos se engajaram numa grande batalha com ele e mostraram-se poderosos. Dessa forma, em recompensa pela injustiça que os macedônios tinham há muito tempo antes cometido na Moesia, os godos invadiram a Grécia e esvaziaram toda a Macedônia.

        [Nota marginal: Sulla ***(Sila?)*** ditador _ 82-79 AEC ]
        [Nota marginal: O modo de governo de Dicineus]
        [Nota marginal: César ditador_ 49-44 AEC]
        [Nota marginal: Tibério_ 14-37 EC]

XI_ Então quando Buruista era rei dos godos, Dicineus veio à Gótia na época em que Sulla governava os romanos. Buruista acolheu Dicineus e deu-lhe quase o poder real. Foi por seu conselho que os godos roubaram as terras dos germanos, que os francos atualmente detêm posse. Então veio César, o primeiro de todos os romanos a assumir o poder imperial e subjugou quase o mundo inteiro, que conquistou todos os reinos e até dominou ilhas situadas além do nosso mundo, repousadas no seio do oceano. Ele fez tributários aos romanos aqueles que não conheciam o nome romano nem por boatos, e ainda assim foi incapaz de prevalecer sobre os godos, apesar de suas muitas tentativas. Pouco depois Caio Tibério reinou como terceiro imperador dos romanos, e os godos ainda continuavam em seu reino intocado. Sua segurança, sua vantagem, sua única esperança repousava nisso, que qualquer conselho dado por Dicineus devia por todos os meios ser feito; e eles decidiram esse meio que eles teriam para sua realização. E quando ele notou que suas mentes estavam obedientes à ele em todas as coisas e que tinham dom natural, ele os ensinou quase a inteira filosofia, para tornarem-se hábeis nesse assunto. Deste modo, por instruí-los na ética, ele reprimiu seus costumes bárbaros; por passar-lhes um conhecimento de física ele os fez viverem sob suas próprias leis, que eles possuíam em forma escrita de acordo com este dia e chamaram "belagines". Ele os educou em lógica e os fez hábeis em raciocínio acima de toda outra raça; ele mostrou-lhes conhecimento prático e então persuadiu-os a abundar em boas ações. Por demonstrações teóricas de conhecimento ele encorajou-os a contemplar os doze signos e os cursos dos planetas passando acima, e toda a astronomia. Ele contou-lhes como o disco da lua ganha aumento ou sofre perda, e mostrou-lhes como em muito o globo chamejante do sol excede em tamanho nosso planeta terrestre. Explicou-lhes os nomes de trezentas e quarenta e seis estrelas e contou através de quais signos no arco da abobadada celeste elas deslizam rapidamente do seu nascente para seu poente. Pense, lhe rogo, que satisfação isso foi para aqueles bravos homens, quando por um pequeno período eles tiveram descanso da guerra, para serem instruidos nos conhecimentos da filosofia! Talvez você tenha visto um mapeamento da posição dos céus e noutra ocasião investigado a natureza de plantas e arbustos. Nisso sustenda um o crescimento e encolhimento da lua, enquanto ainda outro observa as voltas do sol e observa como aqueles corpos que íam apressadamente em direção ao leste estão girando em volta e nascem de volta no oeste pela rotação dos céus. Quando eles tinham aprendido a razão, eles se tornaram como o resto. Estas e muitas outras matérias Dicineus ensinou os godos em sua compreensão e adquiriu maravilhosa reputação entre eles, assim ele governou não somente os homens comuns mas [também] seus reis. Ele escolheu dentre eles aqueles que eram de nobre nascimento e superior conhecimento, e ensinou-lhes teologia, oferecendo-lhes cultuar a certas divindades e lugares sagrados. Aos sacerdotes que ele próprio nomeou, deu-lhes o nome de "Pilleati"; porque, eu suponho, eles ofereciam sacrifício dando suas próprias cabeças encobertas com tiaras, que nós, por outro lado, chamamos "pillei". Mas ele ofereceu-lhes [a possibilidade de] chamar o resto de sua raça de "Capillati". Este nome os godos aceitaram e apreciaram muito; e eles o retiveram até hoje em suas canções.

Após a morte de Dicineus, eles tiveram Comosicus em quase igual honra, porque ele não foi inferior em conhecimento. Por sua inteligência ele era considerado seu sacerdote e rei; e ele julgou o povo com grandiosa sinceridade.

        [Nota marginal: Dácia]

XII_ Quando ele também foi apartado dos assuntos humanos, Coryllus ascendeu ao trono como rei dos godos e por quarenta anos governou este povo na Dácia. Eu acredito [que foi] a antiga Dácia, que a raça dos gepidae agora detém posse. Este país está situado do outro lado do Danúbio à vista da Moesia, e é circundada por uma coroa de montanhas. Tem somente dois caminhos de acesso, um pelo caminho do Boutae e o outro pelo Tapae. Esta Gothia, que nossos ancestrais chamaram Dácia e agora, como eu já disse, é chamada Gepidia, estava então limitada ao leste pelos Roxolani, à oeste pelos Iazyges, no norte pelos Sarmatianos e Basternae e ao sul pelo rio Danúbio. Os Iazyges estão separados dos Roxolani somente pelo rio Aluta.

        [Nota marginal: O Danúbio]

E, já que tenho feito menção do Danúbio, eu penso que não seja deslocado fazer uma breve observação dessas excelentes correntezas. Nascendo nos campos dos alamanos, ele recebe sessenta rios que correm para dentro dele, e lá por mil e duzentas milhas desde seu início até desembocar no [mar do] Ponto, lembrando uma espinha trançada com costelas como um cesto. Ele é realmente o mais vasto rio. Na língua dos Bessi ele é chamado Hister. E tem águas profundas em seu canal de uma profundidade de contados duzentos pés. Este rio ultrapassa em tamanho todos os outros rios, exceto o Nilo. Penso que isso baste sobre o Danúbio. Mas nôs permita agora, com a ajuda do Senhor, retornar ao assunto do qual nôs afastamos.

        [Nota marginal: Domiciano_ 81-96 EC]
        [Nota marginal: A guerra com Domiciano]

XIII_ Agora, depois de um longo tempo, no reino do imperador Domiciano, os godos, de medo da avareza **{parece que o texto em inglês tem um erro: avarRice}** dele, romperam as tréguas que eles por muito tempo respeitaram sob outros imperadores. Eles destruíram a margem do Danúbio, a grande segurança do Império Romano, e mataram os soldados e seus generais. Oppius Sabinus estava então no comando daquela província, sucedendo Agripa, enquanto Dorpaneus liderava o comando sobre os godos. Por isso os godos fizeram guerra e conquistaram os romanos, cortaram a cabeça de Oppius Sabinus, invadiram e, ousadamente, pilharam muitas mansões e cidades pertencentes ao império. Neste empenho dos seus compatriotas Domiciano precipitou-se com todo seu poder para o Illyricum, trazendo suas tropas de quase o império inteiro. Ele mandou Fuscus adiante de si como seu general, com soldados selecionados. Então unindo barcos juntos como uma ponte, ele fez seus soldados atravessarem o rio Danúbio sobre o exército de Dorpaneus. Mas os godos estavam alertas. Eles pegaram em armas e, nesse momento sobrepujaram os romanos no primeiro encontro. Eles mataram Fuscus, o comandante, e saquearam o tesouro do acampamento dos soldados. E, por causa da grande vitória que eles alcançaram nesta região, eles, desde então chamaram seus líderes, em razão da boa fortuna que eles pareciam ter alcançado, não de meros homens, mas de semi-deuses, [palavra] que é Ansis. Sua genealogia eu sou obrigado a discorrer resumidamente, ordenando a linhagem de cada ***[tribo(???)]*** e o princípio e o fim destas linhagens. E fazer-vos, oh leitor, ouvir-me ao menos afligir-me; para eu falar sinceramente.

         [Nota marginal: Genealogia dos Ansis ou Amali]

XIV_ Agora o primeiro destes heróis, como eles mesmos relatam em suas lendas, estava Gapt, quem produziu Hulmul. E Hulmul produziu Augis; e Augis produziu aquele que era chamado Amal, de quem o nome de Amalis provém. Este Amal produziu Hisarnis. Hisarnis demais a mais produziu Ostrogotha, e Ostrogotha produziu Hunuil, e Hunuil da mesma forma produziu Athal. Athal produziu Achiulf e Oduulf. Agora Achiulf produziu Ansila e Ediulf, Vultuulf e Hermanarico. E Vultuulf produziu Valaravans e Valaravans produziu Vinitharius. Vinitharius entrementes produziu Vandalarius; Vandalarius produziu Thiudimer e Valamir e Vidimir; e Thiudimir produziu Theodorico. Theodorico produziu Amalasuentha; [à] Amalasuentha nasceu Athalarico, e Mathesuentha, por ela desposar Eutharico (qual raça estava assim unida à dela por parentesco). Ao acima mencionado Hermanarico, o filho de Achiulf, nasceu Hunimund, e Hunimund produziu Thorismud. Agora Thorismud produziu Beremud, Beremud produziu Veterico, e Veterico da mesma forma produziu Eutharico, que era casado com Amalasuentha e produziu Athalarico e Mathesuentha. Athalarico morreu em sua infância, e Mathesuentha desposou Vitiges, a quem ela não deu descendência. Ambos foram capturar, junto de Belisarius, Constantinopla. Quando Vitiges deixou os assuntos humanos, o patrício Germano, um parente do imperador Justiniano, tomou Mathesuentha em casamento e a fez uma "Patrícia Ordinária". E dela ele produziu um filho, também chamado Germano. Mas, pela morte de Germano, ela determinou-se permanecer viúva. Agora, como e de qual modo o reino dos Amali chegou ao fim, nós devemos guardar para dizer em momento apropriado, se o Senhor nos ajudar. Mas deixe-nos agora retornar ao ponto de onde fizemos nossa digressão e contar como a descendência deste povo do qual eu afirmo que alcançou o fim do seu curso. Ora, Ablabius, o historiador, relata que na Cítia, onde nós dissemos que eles estavam habitando, acima de um braço do Mar do Ponto, parte deles estavam na região oriental e de quem era rei Ostrogotha, que era chamado Ostrogoths, isto é, ao oriente dos godos, ou do seu nome ou do lugar. Mas o resto eram chamados Visigodos, isto é, os godos do oeste do país.

        [Nota marginal: Maximino, o godo, que se torna um imperador romano]
        [Nota marginal: Septimio Severo_ 193-211 EC]
        [Nota marginal: Antonino Caracalla 198-217 EC]
        [Nota marginal: Macrino_ 217-218 EC]
        [Nota marginal: Antonino Eliogábalo_ 218-222]
        [Nota marginal: Alexandre_ 222-235 EC]
        [Nota marginal: Maximino_ 235-238 EC]
        [Nota marginal: Pupieno_ 238 EC]

XV_ Conforme dito há pouco, eles atravessaram o Danúbio e residiram um curto período na Moesia e Trácia. Do remanescente daqueles veio Maximino, o imperador, sucedendo Alexandre, filho de Mama. Os relatos de Symmachus estão assim no quinto livro da sua história, afirmando que na morte de César Alexandre, Maximino foi feito imperador pelo exército; um homem nasceu na Trácia, do mais humilde parentesco, seu pai sendo um godo chamado Micca, e sua mãe uma mulher dentre os alanos chamada Ababa. Ele reinou três anos e perdeu tanto seu império como sua vida enquanto fazia guerra [contra] os cristãos. Agora, depois dos seus primeiros anos, perdendo-se numa vida grosseira, ele teve de vir de sua tribo para o serviço militar no governo do imperador Severo e no momento em que ía celebrando o aniversário de seu filho. Aconteceu que o imperador estava proporcionando jogos militares. Quando Maximino viu isso, embora sendo um jovem semi-bárbaro, suplicou ao imperador em seu idioma nativo para dar-lhe permissão para lutar com os soldados treinados pelo prêmio oferecido. Severo ficou maravilhado com seu grande tamanho _ e sua estatura, que seja dito, era mais de oito pés _ ofereceu-se competir em combate com os alunos do acampamento, sob ordem de não ferir seus soldados nas mãos deste selvagem colega. Por causa disso Maximino jogou dezesseis criados com tão grande facilidade que conquistou-os um por um agarrando um restante por [ir] pausando entre os embates. Assim, quando ele tinha obtido os prêmios, estava ordenado que ele seria enviado com o exército e teria sua primeira campanha com cavalaria. No terceiro dia depois disso, quando o imperador marchou ao campo [de batalha], o viu comportando-se quase em modos bárbaros e ordenou [que] um tribuno o refreasse, ensinando-lhe a disciplina romana. Mas quando ele entendeu que era o imperador quem estava falando a seu respeito, ele veio adiante e começar a correr para frente dele como [se fosse um] cavalo. Então o imperador esporeou seu cavalo para um trote lento e girou muito num círculo para cá e para lá com várias voltas, até ele ficar cansado. E então ele lhe disse: _"Você está querendo um combate agora depois da sua corrida, meu pequeno Trácio?" _"Muito, conforme seu desejo, oh Imperador", ele respondeu. Portanto Severo saltou de seu cavalo e mandou os novos soldados lutarem com ele. Mas ele jogou no pó sete muito fortes jovens, como da outra vez, agarrando [os oponentes] sem tempo para tomar fôlego entre os embates. Então ele sozinho foi conseguir as recompensas de prata e um colar de ouro pelo próprio César. Então ele recebeu [a oportunidade] de servir na guarda pessoal do imperador. Depois disso ele esteve numa função sob Antonino Caracalla, em razão de sua fama por suas façanhas, e ascendeu para muitas graduações militares e finalmente para centurião como prêmio de seu serviço eficaz. Ainda mais tarde, quando Macrino tornou-se imperador, ele recusou serviço militar por quase três anos, e apesar [de] ostentar o ofício de tribuno, jamais veio na presença de Macrino, acreditando que sua autoridade [era] vergonhosa por ele tê-la obtido cometendo um crime. Então ele retornou sob Eliogábalo, acreditando [que] por ser ele filho de Antonino, e por ter entrado sob ele como tribuno. Depois desse reinado, ele lutou com maravilhoso sucesso contra os partos, sob Alexandre, o filho de Mama. Quando ele foi morto numa revolta dos soldados em Mogontiacum, o próprio Maximino foi feito imperador pelos votos do exército, sem um decreto do senado. Mas ele estragou todas as suas façanhas po perseguir os cristãos de acordo com um demoníaco juramento e, sendo assassinado por Pupieno e Aquiléia, deixou o governo para Philipe. Este assunto nós fizemos empréstimo da história de Symmachus para este nosso pequeno livro, na ordem, para mostrar que a raça da qual nós falamos chegou a conquistar a altíssima posição de imperador romano. Mas nosso assunto requer que retornemos obrigatoriamente ao ponto onde paramos.

        [Nota marginal: Rei Ostrogotha faz guerra contra Philipe]
        [Nota marginal: Philipe pai, "o árabe"_ 244-249 EC]
        [Nota marginal: Philipe filho_ 247-249 EC]

XVI_ Agora, a raça gótica ganhou grande fama na região onde eles estiveram desde então vivendo, que é na terra da Cítia, na margem do Ponto, em posse de indisputado poder sobre grande parte do país, muitos braços do mar e muitos cursos de rios. Em razão do forte direito [pelas] armas deles, os vândalos estavam frequentemente localizados em baixo, os marcomanni guardavam sua base pelo pagamento de tributo e os príncipes dos Quadi estavam reduzidos à submissão.

Agora quando o supramencionado Philipe_ quem, com seu filho Philipe, foram os únicos imperadores cristãos antes de Constantino_ governou sobre os romanos, no segundo ano de seu governo Roma completou seu milésimo ano. Ele reteve dos godos o tributo devido; consequentemente eles ficaram, naturalmente, enfurecidos e instaram seus amigos a tornarem-se seus inimigos. Por, de qualquer, eles residirem apartados sob seus próprios reis, ainda tinham sido aliados do estado romano e recebiam presentes anuais. E o que mais? Ostrogotha e seus homens o mais rapidamente atravessaram o Danúbio e roubaram a Moesia e a Trácia.

Philipe mandou o senador Décio contra eles. E desde que ele nada pôde fazer contra os getas, ele liberou seus próprios soldados do serviço militar e enviou-os de volta à vida privada, como apesar disso teria sido por sua negligência que os godos teriam atravessado o Danúbio. Quando, como ele próprio supôs, teria assim [de] tomar vingança sobre seus soldados, retornou para Philipe. Mas quando os soldados perceberam-se expulsos do exército depois de tantas dificuldades, em sua cólera recorreram à proteção de Ostrogotha, rei dos godos. Ele recebeu-os, foi estimulado por suas palavras e presentes, sem contar os trezentos mil homens armados, tendo como aliados para esta guerra alguns dos Taifali e dos Astringi e também trezentos homens dos Carpi, uma raça de homens muito úteis para fazer guerra e frequentemente hostis ao romanos. Mas em tempos posteriores, quando Diocleciano e Maximino eram imperadores, o césar Galério Maximiano conquistou-os e fez deles tributários do império romano. Além dessas tribos, Ostrogotha teve godos e Peucinis, da ilha de Peuce, que está situada na desembocadura do Danúbio, onde este esvazia-se no mar do Ponto. Ele colocou no comando Argaithus e Guntheric, os nobres líderes de sua raça. Eles velozmente atravessaram o Danúbio, devastaram a Moesia num segundo momento e Marcianopla, a famosa metrópole desta terra. Ainda depois de um longo cerco eles partiram, sob recebimento de dinheiro dos habitantes.

        [Nota marginal: Marcianopla]
        [Nota marginal: Os gepidae e sua derrota com Ostrogotha]

Agora desde [que] nós fizemos menção [de] Marcianopla, nós podemos relatar brevemente umas poucas matérias em conexão com sua fundação. Eles dizem que imperador Trajano construiu esta cidade pela seguinte razão: enquanto a filha de Márcia, sua irmã, estava banhando-se num riacho chamado Potamus _ um rio de grande transparência e pureza que alarga no meio da cidade_ ela desejou tirar alguma água deste, e por acaso afundou o jarro de ouro que ela carregava. Mesmo apesar do enorme peso do seu objeto de metal, ele emergiu das águas um bom tempo depois. Isso certamente não é uma coisa comum, para um vasilhame vazio afundar, muito menos que, uma vez submergido, seria lançado para cima pelas águas e flutuar novamente. Trajano assombrou-se ouvindo isso e acreditou que aquilo era alguma divindade no rio. Ele, portanto, construiu uma cidade e chamou-a Marcianopla,conforme o nome de sua irmã.

XVII_ Então, como nós dissemos, os getae retornaram, depois de um longo cerco, dessa cidade para sua própria terra, enriquecidos pelo resgate recebido. Agora a raça dos gepidae era movida pela inveja quando eles os viram carregar o saque e a tão repentina vitória por toda parte, e fizeram guerra contra seus parentes consangüíneos. Você me perguntaria: "_Como os getae e os gepidae são parentes consangüíneos?"; e eu lhe diria algumas curtas palavras. Você certamente lembra-se que no início eu havia dito que os godos viajaram do meio da ilha de Scandza com Berig, seu rei, navegando em somente três navios em direção às margens do Oceano de cá, quer dizer, para Gothiscandza. Um desses três navios mostrou ser mais lento que os outros, como é usualmente o caso, e dessa forma é dito terem dado a tribo seu nome, em sua língua,"gepanta" _"meio lentos". Daí em diante isso veio a passar gradualmente, e pela corrupção [da palavra], o nome gepidae foi cunhado para eles em forma de censura. Indubitavelmente, eles também traçaram sua origem entre o grupo de godos, mas, por causa, como eu disse, do baixo e parvo "gepanta", a palavra gepidae surgiu como um nome livre de censura. Eu não acredito que isso esteja muito errado, por eles serem lentos de pensamento e também preguiçosos para o vivo movimento de seus corpos.

Estes gepidae eram então movidos pela inveja enquanto moravam na província de Spesis na ilha cercada pelas rasas águas do Vistula. Esta ilha eles chamaram, no idioma de seus pais, Gepedoios; mas ela é agora habitada pela raça dos Vividarii, desde [que] os Gepidae se mudaram para territórios melhores. Os vividarii estão reunidos de várias raças dentro deste asilo, se assim eu posso chamá-lo, e deste modo eles formam uma nação.

Assim então, como nós dissemos, Fastida, rei dos gepidae, movimentou seu povo quietamente para amumentar suas fronteiras pela guerra. Ele sobrepujou os burgúndios, quase aniquilando-os, e conquistou um número de outras raças também. Ele injustamente provocou os godos, sendo o primeiro a quebrar os laços de parentesco com conflito inadequado. Ele estava grandemente inflado pela glória vã, mas na tentativa de adquirir novas terras para sua crescente nação, ele somente reduziu o número de seus próprios compatriotas. Para ele enviar embaixadores para Ostrogotha, para quem reinava igualmente ostrogodos e visigodos, que são, os dois povos da mesma tribo, era ainda sujeito {subject}. Queixando que ele estava confinado pelas rudes montanhas e densas florestas, ele exigiu uma de duas coisas: que Ostrogotha ou se preparasse para a guerra ou désse parte de suas terras para ele. Então Ostrogotha, rei dos godos, que era um homem de firme opinião, respondeu aos embaixadores que ele sem dúvida temia uma guerra e que isso seria uma grave e infamante coisa por concordar batalhar [contra] sua família, mas ele não daria suas terras. E porquê dizer mais? Os gepidae apressaram-se pegar em armas e Ostrogotha igualmente moveu suas forças contra ele, a fim de que talvez ele amedrontasse-se. Eles encontraram-se na cidade de Galtis, próximo de onde o rio Auha corre e lá ambos os lados lutaram com grande valor; de fato a similaridade de seus exércitos e de sua maneira de lutar virou-os contra seus próprios homens. Mas a melhor causa e sua natural vigilância socorreu os godos. Finalmente pôs um fim à batalha conforme uma parte dos gepidae íam saindo embora. Então Fastida, rei dos gepidae, deixou o campo da derrota humilhante e apressou-se para sua própria terra, bastante humilhado com a vergonha e desgraça na mesma medida [em que] anteriormente ele tinha sido exaltado com orgulho. Os godos retornaram vitoriosos, satisfeitos com a retratação dos gepidae, e moraram em paz e felicidade em sua própria terra, assim enquanto Ostrogotha foi seu líder.

        [Nota marginal: O rei Cniva e a guerra contra Décio]
        [Nota marginal: Décio_ 249-251 EC]
        [Nota marginal: Captura de Philipópoles_ 250 EC]
        [Nota marginal: Morte de Décio e Abrittus_ 251 EC]

XVIII_ Depois de sua morte, Cniva dividiu o exército em duas partes e mandou um tanto para destruir a Moesia, sabendo que ela era não defendida pela negligência dos imperadores. Ele mesmo com setenta mil homens apressou-se para a Euscia, que é [agora chamada?] Novae. Quando conduzido deste lugar pelo general Gallus, ele aproximou-se [de] Nicópolis, uma muito famosa cidade situada próxima do rio Iatrus. Esta cidade Trajano construiu quando conquistou os sarmatianos e chamou-a Cidade da Vitória. Quando o imperador Décio aproximou-se, Cniva finalmente retornou das regiões do Haemus, que está não muito distante dali. Por isso ele apressou-se para Philipópolis, com suas forças em boa disposição. Quando o imperador Décio descobriu sua partida, ele estava ansioso de trazer alívio para sua própria cidade e, atravessando a montanha Haemus, veio para Beroa. Enquanto ele estava descansando seus cavalos e seu enfadado exército naquele lugar, todos junto de Cniva e seus godos vieram como um raio sobre ele. Ele cortou o exército romano em pedaços e compeliu o imperador, com uns poucos que tiveram sucesso em escapar, a atravessar os Alpes novamente para a Euscia na Moesia, onde Gallus estava então estacionado com uma grande força de soldados como guardiões da fronteira. Reunindo um exército desta região como bem [afirma?] Oescus, ele preparou-se para o conflito da guerra próxima. Mas Cniva tomou Philipópolis depois de longo cerco e então, carregando espólio, aliou-se com Priscus, o comandante na cidade, para lutar contra Décio. Na batalha que sucedeu eles rapidamente atravessaram o filho de Décio com uma flecha e cruelmente o mataram. O pai viu isso, e , embora é dito ter ele exclamado, para regozijo ao coração de seus soldados: "Ninguém de luto; a morte de um soldado não é nada para a República", ele estava ainda incapaz de suportar isso, por causa do seu amor pelo filho. Então ele cavalgou novamente contra o adversário, reclamando entre sua morte ou vingança, e quando veio para Abrittus, uma cidade da Moesia, ele recebeu um golpe de espada dos godos e morreu, causando assim o fim do seu domínio e de sua vida. Este lugar é hoje chamado "o Altar de Décio", porque ele ofereceu lá estranhos sacrifícios aos ídolos antes da batalha.

Os godos no tempo de Gallus, Volusiano e Emiliano

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        [Nota marginal: Gallus_ 251-253 EC]
        [Nota marginal: Volusiano_ 252-253 EC]
        [Nota marginal: Emiliano_ 253 EC]
        [Nota marginal: A praga_ 252-267 EC]
        [Nota marginal: Gallienus_ 253-268 EC]

XIX_ Então, na morte de Décio, Gallus e Volusiano o sucederam no império romano. Neste tempo uma destrutiva praga, quase como a morte em si, tal como nós sofremos nove anos atrás, destruiu a face de toda a terra e devastou especialmente Alexandria e toda a terra do Egito. O historiador Dionysius deu uma triste contagem disso e Cipriano, nosso próprio bispo e venerável mártir em Cristo, também descreve isso em seu livro entitulado "Da mortalidade". Neste tempo os godos frequentemente roubavam a Moesia, em razão da negligência dos imperadores. Quando um certo Emiliano percebeu que eles eram livres para fazer isso, e que eles não poderiam ser expulsos por ninguém sem um grande custo para a república, pensou que ele também poderia ser capaz de alcançar fama e fortuna. Então ele conquistou o domínio da Moesia e, reunindo todos os soldados que pôde concentrar, começou a pilhar cidades e povos. Nos próximos poucos meses, enquanto uma tropa armada era sendo reunida contra ele, provocou não pequeno estrago ao estado. Ele morreu ainda quase no início de seu perverso esforço, perdendo assim de uma só vez sua vida e o tão desejado poder. Agora, de qualquer forma, Gallus e Volusiano, os por nós já mencionados imperadores, perderam suas vidas depois de ficarem no poder em dois difíceis anos, ainda durante este espaço de dois anos que eles passaram na terra reinaram em meio a universal paz e favor. Somente uma coisa era colocada contra eles, ou seja, a grande praga. Mas essa era uma acusação feita por difamadores ignorantes, que costumam prejudicar as vidas dos outros com suas más maliciosas picadas. Logo depois deles virem ao poder, fizeram um tratado com a raça dos godos. Quando ambos governavam, morreram, [sendo] isso não muito tempo antes de Gallienus usurpar o trono.

        [Nota marginal: Os godos pilham a Ásia Menor_ 262 ou 263 EC]

XX_ Enquanto ele entregava-se à uma vida de luxúrias de toda sorte Respa, Veduc e Thuruar, líderes dos godos, tomaram barcos e navegaram atravessando do estreito do Helesponto para Ásia. Ali eles se colocaram a destruir muitas populosas cidades e atiar fogo ao renomado templo de Diana em Éfeso, que, como dissemos antes, as amazonas construíram. Sendo conduzidos da vizinhança da Bithynia, eles destruíram Chalcedon, que Cornelius Avitus mais tarde restaurou alguma extensão. Ainda assim hoje, apesar dela estar felizmente situada próxima à cidade real, ainda mostra alguns traços de suas ruínas como testemunhas à posteridade. Depois de seu sucesso, os godos atravessaram novamente o estreito do Helesponto, carregando saque e pilhagem, e retornaram pela mesma rota pela qual eles tinham entrado nas terras da Ásia, saqueando Tróia e Ilium pelo caminho. Estas cidades, que, com dificuldade, recuperaram um pouco da famosa guerra com Agamemnon, era assim destruida novamente pela hostil espada. Depois dos godos terem dessa forma devastado a Ásia, a Trácia sentiu sua ferocidade. Eles moveram-se para lá e em seguida atacaram Anchiali, uma cidade ao pé do Haemus e não longe do mar. Sardanapalus, rei dos partos, tinha construido esta cidade há muito tempo atrás entre uma pequena baía do mar e na base do Haemus. Ali se diz que ficaram por muitos dias, divertindo-se na quente primavera, situada quase doze milhas da cidade de Anchiali. Lá eles correram da profundidade de sua brilhante origem; e, entre inumeráveis quentes primaveras do mundo eles são estimados como especialmente famosas e eficázes para a cura de suas virtudes.

Os tempos de Diocleciano

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        [Nota marginal: Diocleciano_ 284-305 EC]
        [Nota marginal: Masimian_ 284-305 EC]

XXI_ Após esses eventos, os godos tinham já retornado para casa quando eles foram chamados pelo pedido do imperador Maximiano para socorrer os romanos contra os partos. Eles lutaram para ele fielmente, servindo como auxiliares. Mas depois de Caesar Maximiano pedir seu apoio foi vencido por Narseus, rei dos persas, o neto de Sapor o grande, tomando como despojo todas as suas posses, junto com suas esposas e seus filhos; e quando Diocleciano conquistou Achiles na Alexandria e Maximiano Herculius tinha quebrado o Quinquegentiani na África, alcançando assim paz ao império, eles começaram particularmente a desprezar os godos.

        [Nota marginal: Constantino I_ 306-337 EC]
        [Nota marginal: Licinius_ 307-323 EC]

Agora isso tinha sido, por muito tempo, um duro assunto ao exército romano, [terem] lutado contra muitas nações sem eles. Isso fica evidente pelo fato de os godos serem frequentemente chamados. Dessa forma eles foram chamados por Constantino para sustentar armas contra seu parente Licinius. Mais tarde, quando ele estava conquistando e trancando Tessalônica e a privando de seu poder, eles mataram-no com a espada de Constantino o victor. Em semelhante modo essa era a ajuda dos godos que permitiram-no construir a famosa cidade que é chamada conforme seu nome, a rival de Roma, à medida que eles entraram numa trégua com o imperador e forneceram a ele quarenta mil homens para ajudá-lo contra vários povos. Este grupo de homens, chamados "Os Aliados", e o serviço que eles renderam na guerra são ainda contados na terra até este dia. Agora naquele tempo eles prosperaram sob o poder de seus reis Ariaric e Aoric. Na sua morte Geberich mostrou-se como sucessor ao trono, um homem conhecido por seu valor e nobreza de nascimento.

        [Nota marginal: Geberich conquista os vândalos_ 336 EC]

XXII_ Por ele ser filho de Hilderith, que era filho de Ovida, filho de Nidada; e por suas ilustres façanhas ele igualou a glória de sua raça. Em breve ele procurou aumentar os estreitos limites do seu país ao custo da raça dos vândalos e Visimar, seu rei. Este Visimar era descendente de Asdingi, que é famosos entre eles e ressaltado [como] um grande descendente guerreiro, como o historiador Dexippus relata. Ele situa fora isto que pela razão da grande extensão de seu país eles dificilmente poderiam vir do Oceano para nossa fronteira no tempo de um ano. Neste tempo eles moravam na terra onde os gepidae agora vivem, próximos aos rios Marisia, Miliare, Gilpil e o Grisia, que excedem em tamanho todos os préviamente mencionados. Eles então tinham a leste os godos, no oeste os marcomanni, ao norte os hermunduli e ao sul o Hister, que é também chamado Danúbio. No tempo em que os vândalos estavam morando nesta região, uma guerra foi iniciada contra eles por Geberich, rei dos godos, na margem do rio Marisia que eu havia mencionado. Aqui a batalha enfureceu-se por um pouco enquanto [os lados estavam] iguais. Mas rapidamente o próprio Visimar, rei dos vândalos, foi derrubado, ao mesmo tempo que grande parte de seu povo. Geberich, o famoso líder dos godos, tendo conquistado e saqueado os vândalos, retornou ao seu próprio lugar de onde veio. Então o restante dos vândalos que escaparam, reunindo um bando de seu povo civil, deixou seu maldito país e perguntaram ao imperador Constantino [a respeito da] Panonia. Aqui eles tornaram seu lar por quase sessenta anos e cumpriram as ordens dos imperadores como sujeitos [à tais]. Muito tempo depois eles foram chamados daquele lugar por Estilico, general das tropas, ex-consul e patrício, e tomou possessão de Gália(Gália?). Neste lugar eles pilharam seus vizinhos e não tiveram lugar fixo para permanecer.

        [Nota marginal: Conquista de Herculi, Venethi e Aesti]

XXIII_ Em breve Geberich, rei dos godos, foi separado dos assuntos humanos e Hermanaric, nobre dos Amali, sucedeu ao trono. Ele subjugou muitos povos guerreiros do norte e os fez obedecer suas leis, e alguns de nossos ancestrais o tinham comparado com Alexandre o grande. Em meio às tribos ele conquistou os Mordens, Imniscaris, Rogas, Tadzans, Athaul, Navego, Bubegenae e Coldae. Mas apesar de famoso por sua conquista de tantas raças, ele não se deu descanso até morrer em alguma batalha e então reduzido por seu poder o remanescente da tribo dos heruli, que teve por chefe Alarico. Agora a supramencionada raça, como o historiador Ablabius conta-nos, moraram próximos ao Lago Maeotis nos lugares pantanosos que os gregos chamam hel[=e]; por conseguinte eles eram chamados heluri. Este foi um povo rápido com os pés, e naquela descrição foram os que mais cresceram com orgulho; naquele tempo não havia raça por lá que não os escolheria para tropas de armada veloz, para batalha. Mas apesar da sua velocidade tê-los salvo de outros, que fizeram guerra contra eles, eles ainda foram derrubados pela lentidão e constância dos godos; e a sorte da fortuna trouxe isso para transmitir aquilo a eles, à medida em que bem como as outras tribos {...as well as the other tribes}, tinham [que] servir Hermanaric, rei dos getae. Depois o massacre dos heruli, Hermanaric também tomou armas contra os venethi. Este povo, apesar de dezpresados na guerra, eram fortes em número e tentaram resistir-lhe. Mas uma multidão de covardes não é de ajuda, principalmente quando Deus permite uma multidão armada para atacá-los. Este povo, como nós começamos a dizer no início da nossa descrição ou catálogo das nações, apesar de dezprezarem sua descendência, têm agora três nomes, que são Venethi, Antes e Sclaveni. Apesar de eles agora enfurecerem-se na guerra distante e longinqua, em punição por nossos pecados, ainda naquele tempo eles eram todos obedientes aos comandos de Hermanaric. Seu governo também submeteu por sua inteligência e bravura da raça dos Aesti, que moram na mais distante margem do Oceano Germânico, e governaram sozinhos todas as nações da Cítia e Germania por seus próprios talentos.

        [Nota marginal: Origem e história dos hunos]

XXIV_ Mas depois de um curto espaço de tempo, como Orósio relata, a raça dos hunos, mais cruéis do que eles mesmos são ferozes, ameaçaram avançar contra os godos. Nós aprendemos de antigas tradições que sua origem foi a seguinte: Filimer, rei dos godos, filho de Gadaric o grande, que era o quinto em sucessão na posse do governo dos getae depois de sua partida da ilha de Scandza_ e que, como nós dissemos, entrou na terra da Cítia com sua tribo_ encontrou entre seu povo certas bruxas, que ele, em sua língua nativa, chamou Haliurunnae. Suspeitando destas mulheres, ele as expulsou dentre sua raça e as forçou a vagar em exílio solitário, distante deste exército. Lá os espíritos imundos, que observaram como elas vagavam através do deserto, tiveram com elas relações e iniciaram esta raça selvagem, que morou primeiro nos pântanos_ uma estagnada, grosseira e fraca tribo, quase não-humana, e não tendo linguagem salva uma, que tem desprezível semelhança com a fala humana. Igualmente era a descendência dos hunos, que veio ao país dos godos. Esta tribo cruel, como o historiador Priscus relata, fixaram-se na mais distante margem do pântano Maeotic. Eles eram apreciadores da caça e não tinham habilidade em qualquer outra arte. Depois que a sua nação cresceu, eles perturbaram a paz das raças vizinhas com roubo e pilhagem. Certa vez, enquanto caçadores de sua tribo estavam, como usualmente, perseguindo, por passatempo, na margem do Maeotis, eles observaram uma corça inesperadamente aparecer à sua vista e entrar no pântano, atuando como guia ao caminho; agora avançando e novamente, constantemente assim. Os caçadores seguiram e atravessaram à pé o pântano Maeotic, que eles supunham que fosse intransitável como o mar. Neste instante a desconhecida terra da Cítia revelou-se-lhes e a corça desapareceu. Agora, na minha opinião, os perversos espíritos, de quem os hunos descendem, fizeram isso de inveja dos Scythios. E os hunos, que tinham sido completamente ignorantes de que havia outro mundo do outro lado do Maeotis, ficaram agora cheios de admiração da terra Cítia. Como eles eram rápidos com a mente, acreditaram que esta estrada, absolutamente desconhecida em qualquer era do passado, lhes tinha sido divinamente revelada. Eles retornaram para sua tribo, lhes contando o que havia acontecido, glorificaram a Cítia e persuadiram o povo a apressarem-se em seguir o caminho que eles haviam encontrado pela guia da corça. Como muitas vezes [faziam] conforme eles capturavam, quando eles entraram dessa forma na Cítia pela primeira vez, sacrificaram para [o deus] Vitória. O restante eles conquistaram e sujeitaram. Como um redemoinho de nações, eles varreram o outro lado do grande pântano e de uma só vez cairam os Alpidzuri, Alcildzuri, Itimari, Tuncarsi e Boisci, que delimitavam aquela parte da Cítia. Os Alani também, que eram seus iguais em batalha, mas diferentes na civilização, maneiras e aparência, eles exauriram por seus incessantes ataques e [foram] subjugados. Pelo terror de seus feitos, eles inspiraram grande medo naqueles [que] talvez não sobrepujariam em guerra. Eles fizeram seus inimigos fugirem em horror, porque seu escuro aspecto era medonho, e eles tiveram, se assim eu posso chamar, uma espécie de agregado, não uma cabeça, com alfinetes afincados, ao invés de olhos. Sua audácia é evidente em sua selvagem aparência, e eles são seres cruéis para com suas crianças por muitos dias depois que eles nascem. Cortam as faces dos machos com uma espada, pois antes deles receberem o alimento do leite eles são obrigados a aprender a sofrerem ferimentos. Eles se tornam velhos [e permanecem] sem barba e seus homens jovens são sem beleza, em razão de uma face com cortes pela espada, despojada por suas cicatrizes da beleza natural de uma barba. Eles são pequenos em estatura, com rápidos movimentos corporais, cavaleiros vivos, ombros largos, ágeis no uso do arco-e-flecha, e têm nucas duras que estão sempre orgulhosamente eretas.

        [Nota marginal: Primeiro irrompimento dos hunos _ princípio de 375 EC]

Quando os getae observaram esta raça enérgica que tinha conquistado muitas nações, ficaram aterrorizados e consultaram seu rei sobre como talvez escapar de semelhante inimigo. Embora Hermanaric, rei dos godos, fosse conquistador de muitas tribos, como nós já dissemos anteriormente, enquanto eles ainda estavam deliberando sobre a invasão dos hunos, a traidora tribo dos Rosomoni, que naquele tempo eram dentre aqueles que deviam respeito para com ele, agarraram esta chance para capturá-los de repente. Quando o rei tinha dado ordens [para] que uma certa mulher da tribo que mencionei, de nome Sunilda, fosse amarrada em cavalos ariscos, rasgando suas partes por fazê-los correrem rápido em direções opostas (pois a fúria dele foi desperta pela traição do marido dela), seus irmãos Sarus e Immius vieram para vingar a morte de sua irmã e enterrar uma espada em Hermanaric. Debilitado por este golpe, ele arrastou uma miserável existência em um corpo debilitado. Balamber, rei dos hunos, tomou vantagem da sua fraca saúde para mover seu exército para o país dos Ostrogodos, de quem os Visigodos já tinham se separado em razão de uma disputa. Por enquanto Hermanaric, que era incapaz de suportar também a dor das voltas ou invasões dos hunos, morreu satisfeito de anos com a grande idade de cento e dez anos. O fato da sua morte permitiu aos hunos prevalecer sobre todos aqueles godos que, como mencionamos, habitavam no leste e eram chamados Ostrogodos.

Os godos divididos: os Visigodos

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        [Nota marginal: Valentiniano I_ 364-375 EC]
        [Nota marginal: Os visigodos assentam-se na Trácia e Moesia_ 376 EC]
        [Nota marginal: Valente_ 364-378 EC]

XXV_ Os visigodos, que eram seus outros parentes e habitantes do oeste do país, estavam apavorados, como seus parentes tinham ficado, e não sabiam que modo encontrariam para salvarem-se da raça dos hunos. Após longa deliberação, por comum consentimento, eles finalmente enviaram embaixadores à Romania, ao imperador Valente, irmão de Valentiniano, o [idoso?] imperador, dizendo que se ele lhes desse parte da Trácia ou da Moesia de posse, eles submeteriam-se às suas leis e comandos. Ele [heroicamente?] deu-lhes grande [voto de] confiança; eles, [consequentemente], prometeram tornarem-se cristãos se ele desse-lhes instrutores que falassem seu idioma. Quando Valente constatou isso, alegre e prontamente concedeu o que ele mesmo tinha intencionado convidar. Recebeu os getae na região da Moesia e instalou-os ali como uma muralha de defesa para seu reino contra outras tribos. E desde aquele tempo o imperador Valente, que estava infectado pela perfídia ariana, tinha fechado todas as igrejas do nosso partido, mandou-lhes pregadores daqueles que favoreciam sua seita.

Eles vieram e imediatamente injetaram num rude e ignorante povo a peçonha de sua heresia. Assim o imperador Valente fez dos visigodos arianos, ao invés de cristãos. Além disso, em razão do amor que desenvolveram por eles, pregaram ambas as crenças aos ostrogodos e aos seus aparentados, os gepidae, instruindo-lhes respeitar essa heresia, e, em suas palavras, convidaram em toda parte o povo inteiro a se ligarem à essa seita. Eles mesmos, como nós dissemos, atravessaram o Danúbio e fixaram-se na Dacia Ripensis, Moesia e Trácia com a permissão do imperador.

        [Nota marginal: Fome_ 376-377 EC]

XXVI_ Logo veio a fome e quiseram vir sob eles, como geralmente acontece a um povo [que] não está ainda bem assentado num país. Seus príncipes e líderes que os governavam, em lugar de reis, que eram Fritigern, Alatheus e Safrac, começaram a lamentar o apuro de seu exército e imploraram a Lupicinus e Maximus, os comandantes romanos, a abrirem um mercado. Mas pelo quê não concordaria forçosamente o homem pelo "amaldiçoado desejo de ouro"? Os generais, comandados pela avareza, negociou com eles por alto preço não somente a carne de carneiros e bois, mas igualmente carcaças de cães e animais imundos, tanto que nem um escravo trocaria por um pedaço de pão ou dez libras (peso) de carne.

Quando suas mercadorias e bens esgotaram, o voraz negociante pediu seus filhos em troca do necessário à vida. E os pais consentiram nisso, desde que fornecessem cuidados às suas crianças, argumentando que era melhor perder a liberdade antes que a vida. E de fato, é melhor ser vendido, se ele irá bondosamente nutrir-se, do que guardar-se livre somente para morrer.

        [Nota marginal: Traição dos romanos]

Agora isso passou-se naquele turbulento tempo em que Lupicinus, o general romano, convidou Fritigern, um líder dos godos, a um banquete e, como o evento mostrou, criar uma armadilha contra ele. Mas Fritigern, acreditou [ser] maldade vir à festa com alguns poucos o seguindo. Enquanto ele estava jantando no praetorium, escutou o doloroso clamor de morte daquele malfadado homem, que pela ordem do general, os soldados assassinaram seus companheiros que estavam trancados noutra parte da casa. O ruidoso grito da sofrida morte [que pairava] imediatamente tornou-se suspeito em seus ouvidos, e Fritigern logo entendeu o truque dos traidores. Ele puxou sua espada e com grande coragem lançou-se rapidamente da sala de banquete, resgatando seu colega da sua ameaçadora morte e incitou-o a matar os romanos. Desta forma este valente homem ganhou a chance que tinha desejado para _ser livre para mais preferivelmente matar em batalha do que perecer de fome_ e imediatamente pegou armas para matar os generais Lupicinus e Maximus.

Assim o dia pôs um fim à fome dos godos e à segurança dos romanos, pois os godos, não mais como estranhos e peregrinos, mas como cidadãos e senhores, começaram a dominar os habitantes e apossaram-se, em seu próprio poder, de todo o norte do país, distante em relação ao Danúbio.

        [Nota marginal: imperador Valente derrotado e assassinado_ 378 EC]

Quando o imperador Valente ouviu disso na Antioquia, fez um exército aprontar-se e dirigir-se ao país da Trácia. Aqui uma dolorosa batalha tomou lugar e os godos prevaleceram. O próprio imperador foi ferido e fugiu para uma fazenda próximo de Hadrianople. Os godos, não sabendo que o imperador pensaria em esconder-se numa tão pobre cabana, atiaram fogo nela (tratamento costumeiramente dado a inimigos cruéis), e assim ele foi cremado em real esplendor. Isso foi claramente um julgamento direto de Deus, dele ser queimado com fogo pelos mesmos homens que ele deslealmente conduziu maldosamente, quando eles procuraram a verdadeira fé, tornando-os apartados da chama do amor para o fogo do inferno.

Neste tempo os visigodos, em consequência de sua gloriosa vitória, tomaram posse da Trácia e a Dácia Ripensis, como se essa fosse sua terra nativa.

        [Nota marginal: Graciano_ 367-383 EC]
        [Nota marginal: Hostilidades relacionadas com Roma finda com uma trégua]
        [Nota marginal: Teodósio_ 379-305 EC]

XXVII_ Agora no lugar de Valente, seu tio, o imperador Graciano estabeleceu Teodósio, o Espanhol, no império do leste. A disciplina militar foi de tal forma restaurada num alto nível, e os godos, percebendo que a covardia e preguiça dos príncipes anteriores era findada, ficaram amedrontados. Ao imperador era imputada a fama de sutil e discreto. Por severas ordens, por generosidade e bom tratamento, ele encorajou um corrompido e desorganizado exército a ousadas proezas. Mas quando os soldados, que obtiveram um líder melhor pela mudança, renovaram a confiança, passaram a atacar os godos e dirigi-los para as bordas da Trácia.

Mas como o imperador Teodósio caiu tão doente naquele tempo que sua vida estava quase sem esperança, os godos foram inspirados por renovada coragem. Repartindo o exército godo, Fritigern colocou-os a pilhar a Tessália, o Épiro e a Acáia, enquanto Alatheus e Safrac com o resto das tropas fizeram-se [pela?] Pannonia.

Já o imperador Graciano tinha, naquele tempo, fugido de Roma para a Gália por causa da invasão dos vândalos. Quando ele percebeu que os godos estavam agindo com grande atrevimento porque Teodósio estava sem esperança de vida, ele rapidamente reuniu um exército e veio contra eles. Ele ainda não pôde confiar nos exércitos, mas procurou conquistá-los por gentilezas e presentes. Então ele entrou numa trégua com eles e fez paz, dando-lhes provisões.

        [Nota marginal: Paz confirmada por Teodósio_ 380 EC]
        [Nota marginal: Morte do rei Athanaric em Constantinopla_ 381 EC]

XXVIII_ Quando o imperador Teodósio posteriormente recuperou-se e descobriu que o imperador Graciano havia feito um pacto entre godos e romanos, como ele mesmo tinha desejado, recebeu isso muito bondosamente e deu seu assentimento. Ele deu presentes ao rei Atanaric, que tinha sucedido Fritigern, fez com ele uma aliança e da mais agradável maneira convidou-o a visitá-lo em Constantinopla.

Athanaric, com muita satisfação consentiu e, à medida que entrou na cidade real, exclamou em assombro: "_Veja! Agora entendo o que tenho escutado com incrédula opinião!", tendo em vista a grande e afamada cidade. Voltando seus olhos prá cá e prá lá, ele maravilhou-se conforme contemplava a situação da cidade, o ir e vir dos barcos, as explêndidas muralhas, e o povo de diversas nações reunidos como uma corrente de águas jorrando de diferentes regiões neste único vale. Assim também, quando ele avistou o exército em disposição, ele disse: "_Verdadeiramente o imperador é um deus na terra, e quem quer que eleve uma mão contra ele é culpado por seu próprio sangue." Em meio à essa admiração e divertimento de até mesmo grandes honras à mão do imperador, ele partiu dessa vida após o espaço de poucos meses.

O imperador demonstrou-lhe tamanha afeição que honrou Athanaric mais após a morte do que durante o tempo em que viveu, pois não somente deu-lhe um digno funeral, mas ele mesmo caminhou adiante do esquife funerário. Agora, quando Athanaric morreu, seu exército inteiro continuou no serviço pelo imperador Teodósio e submetidos ao governo romano, formando um corpo com a tropa imperial. O prévio serviço dos aliados sob o imperador Constantino era agora renovada, e eles foram novamente chamados Aliados. E desde que o imperador soube que eles eram fiéis à ele e seus amigos, ele tomou do seu número mais do que vinte mil para estar a serviço contra o tirano Eugenius, que tinha matado Graciano e dominou a Gália. Depois, obtendo vitória sobre seu usurpador, ele derramou sua vingança sobre ele.

        [Nota marginal: Alarico I, rei dos godos_ 395-410 EC]
        [Nota marginal: Estílico e Aureliano, cônsules em 400 EC]

XXIX_ Mas depois que Teodósio, o amante da paz e da raça gótica, tinha passado dos cuidados humanos, ambos os seus filhos começaram a arruinar os impérios por sua vida de luxúrias e a desprover seus Aliados, que seja dito, os godos, de seus costumeiros presentes. A desobediência dos godos pelos romanos rapidamente cresceu, e por temer que seu valor seria destruído após longa paz, eles nomearam Alarico rei sobre eles.

Ele era de uma famosa descendência, e sua nobreza era próximo somente dos Amali, por ele vir da família dos Balthi, que, por seu corajoso valor tinha muito anteriormente recebido entre sua raça o nome "Baltha", que significa "O Destemido". Agora quando este Alarico foi feito rei, tomou conselho com seus homens e persuadiu-os a perseguir um reino por seus próprios esforços ao invés de servir outros futilmente. No consulado de Estílico e Aureliano ele levantou um exército e penetrou a Itália, que pareceu ser vazia de defensores, e veio através da Pannonia e Sirmium, junto do lado direito. Fora alguma resistência que encontrou, ele alcançou a ponte do rio Candidianus no terceiro marco miliário da cidade real de Ravena.

        [Nota marginal: Descrição de Ravena]

Esta cidade repousa entre o rio Pó, pântanos e o mar, e é somente acessível por um lado. Seus antigos habitantes, como nossos ancestrais relatam, eram chamados "Ainetoi", que significa "Louvável". Situada num canto do império romano sobre o mar Jônio, esta é circundada como uma ilha por um fluxo de águas velozes.

Ao leste há o mar, e um estreito trecho para ele da região de Corcyra e aquelas partes de Hellas [que] movimentam com seus remos junto da mão direita da costa, primeiro tocando o Épiro, então a Dalmácia, Liburnia e Histria, e por último as ilhas venetians. Mas no oeste ela tem pântanos de lado a lado que uma espécie de entrada tem sido deixada com uma apertadíssima entrada. Ao norte é um braço do Pó, chamado Fossa Asconis. Ao sul, da mesma forma, é o mesmo Pó, que eles chamam o Rei dos rios da Itália; e este também é chamado Eridanus. Este rio foi mudado de lado pelo imperador Augustus para dentro de um muito largo canal que fluia através do meio da cidade com uma sétima parte de sua correnteza, proporcionando um agradável porto em sua foz. Homens acreditaram em tempos antigos, como Dio relata, que ele suportaria uma esquadra de duzentos e cinquenta navios em sua segura ancoragem. Fábio conta que este, que uma vez foi um porto, agora exibe a si mesmo como um vasto jardim cheio de árvores; mas nelas não se penduram velas, porém maçãs.

A cidade em si vangloria-se de três nomes e é, felizmente, instalada em sua tripla localização. Eu tenciono dizer que o primeiro é chamado Ravena e a mais distante parte, Classis; enquanto situado entre a cidade e o mar é Caesarea, completa de luxúria. A areia da praia é fina e adequada para cavalgar.

        [Nota marginal: Honório_ 393-423 EC]
        [Nota marginal: Honório concede aos godos terras na Gália e Espanha]

XXX_ Mas, como eu estava dizendo, quando o exército dos visigodos tinha vindo às vizinhanças desta cidade, eles mandaram um embaixador ao imperador Honório, que habitava o centro. Eles disseram que se ele permitisse aos godos assentare-se pacificamente na Itália, então viveriam com o povo romano [de tal forma] que [os] homens talvez acreditem [que] ambos sejam uma raça; mas se não, quem prevalecêsse na guerra dirigiria o outro, e o vitorioso, de agora em diante governaria sem ser molestado.

Mas o imperador Honório temeu fazer este ou aquele trato. Então ele tomou conselho com seu Senado e considerou como, talvez, dirigi-los às fronteiras italianas. Finalmente decidiu que Alarico e sua raça, se eles estavam habilitados para fazer isso, lhes seria permitido desapropriar, para seu próprio lar, as distantes províncias chamadas Gália e Espanha. Naquele tempo ele quase as tinha perdido, e além disso eles tinham sido devastados pela invasão de Gaiseric, rei dos vândalos. A concessão foi confirmada pela ordem ***(rescript)*** imperial, e os godos, consentindo no que foi disposto, dirigiram-se ao país que lhes foi dado.

        [Nota marginal: O traiçoeiro ataque de Estílico_ 402 EC]
        [Nota marginal: Alarico I saqueia Roma_ 410 EC]

Quando eles tinham viajado para fora fazendo algum dano na Itália, Estílico, Patrício e sogro do imperador Honório_ pelo imperador ter-se casado com suas filhas, Maria e Thermantia, em sucessão, mas Deus chamou ambas deste mundo em sua pureza virginal_ este Estílico, digo, traiçoeiramente apressou-se para Pollentia, uma cidade nos Alpes Cottian. Ali ele caiu sobre os inocentes godos em batalha, para a ruína de toda Itália e sua própria desgraça.

Quando os godos repentinamente o notaram, primeiramente eles ficaram aterrorizados. Recuperando-se rapidamente sua coragem e animando uns aos outros por bravos gritos de guerra, como é seu costume, eles lançaram-se contra o inteiro exército de Estílico e quase a exterminaram. Então, abandonando a viajem, responsabilizando-se ***[pelas consequencias?]***, os godos, com os corações plenos de raiva, retornaram novamente para a Ligúria, de onde tinham saído.

Quando eles a tinham pilhado e destruído, também passaram a destruir Aemilia, e então apressaram-se em direção à cidade de Roma, junto da Estrada Flamínia, que percorre entre Picenum e Tuscia, tomando-as como um espólio qualquer, tomaram-nas em seu poder. Quando finalmente entraram em Roma, por expresso comando de Alarico, eles meramente saquearam-na e não puseram fogo na cidade, como povos selvagens normalmente fazem, nem permitiram que se fizesse sérios danos aos lugares sagrados. Partiram, então, dali para trazer ruína sobre Campania e Lucania, e depois vieram para Brutii. Ali eles [ficaram] um longo tempo e planejaram ir para a Sicília e dali para os países da África.

        [Nota marginal: Morte de Alarico I_ 410 EC]
        [Nota marginal: Athavulf_ 410-415 EC]

Agora a terra de Brutti está no extremo sul da Itália, e uma extremidade dela marca o início das montanhas do Apenino. Estas extendem-se como uma língua para dentro do mar Adriático e o separa das águas do Tyrrenio. Esta [cidade] possivelmente recebeu seu nome nos tempos antigos da rainha Bruttia.

Para este lugar veio Alarico, rei dos visigodos, com a riqueza de toda a Itália que ele tinha tomado como espólio, e dali, como nós tínhamos dito, ele intencionou atravessar do outro lado, pelo caminho da Sicília, para o tranquilo território da África. Porém, posto que o homem não é livre para fazer qualquer coisa que deseje [que seja contra] a vontade de Deus, este afundou vários dos seus barcos e jogou todos em confusão. Alarico foi prostrado por seu revés, e enquanto [estava] deliberando o que faria, foi repentinamente atacado por uma morte fora de hora, sendo apartado dos cuidados humanos.

Seu povo guardou-lhe luto com a maior afeição. Então voltando do seu curso [pelo] rio Busentus, próximo da cidade de Consentia _ por este rio correm águas potáveis do pé da montanha, próximo daquela cidade_ eles conduziram um bando de prisioneiros para o meio de seus túmulos para cavar um lugar para a sepultura dele. Na profundidade deste buraco eles enterraram Alarico, junto de muitos tesouros, e então voltaram pelas águas, por seu canal. E aqueles, de forma alguma, jamais saberão do lugar, [pois] eles mataram todos os escavadores.

Eles entregaram o governo dos visigodos sobre Athavulf, seu parente, um homem de bela imponência e grande espírito; por não ser de grande estatura, ele foi distinguido pela beleza da face e de forma.

        [Nota marginal: Feitos do rei Athavulf]
        [Nota marginal: Esposa Galla Placidia_ 414 EC]
        [Nota marginal: Rei Segeric_ 415 EC]

XXXI_ Quando Athavulf tornou-se rei, retornou novamente para Roma, e tudo o que tinha escapado do primeiro saque, seus godos esvaziaram como gafanhotos, [tornando-a] vazia, não meramente despojando a Itália de sua riqueza privada, mas até seus tesouros públicos. O imperador Honório foi impotente para resistir até quando sua irmã Placidia, a filha do imperador Teodósio por sua segunda esposa, foi conduzida cativa da cidade. Porém Athavulf foi seduzido pela nobreza, beleza e casta pureza dela. Então a tomou por esposa em casamento legal no Forum Julii, uma cidade de Aemilia.

Quando os bárbaros descobriram esta aliança, ficaram os mais efetivamente apavorados, visto que o império e os godos pareciam ser feito um. Então Athavulf dirigiu-se à Galia, deixando Honório Augusto desnudo de sua riqueza; para ser claro, ainda agradou seu coração porque era agora uma espécie de parente dele.

Sob sua chegada as tribos vizinhas que tinham desejado fazer cruel incursão na Galia _ Francos e Burgúndios igualmente _ estavam aterrorizados e começaram a fortalecer o interior de suas próprias fronteiras. Agora os vândalos e os alani, como dissemos anteriormente, tinham sido residentes em ambas Pannonias por permissão dos imperadores romanos. Ainda temendo que eles não estariam seguros até mesmo aqui se os godos retornássem, atravessaram para a Gália. Mas não muito tempo depois deles terem tomado posse da Gália, fugiram daquele lugar e fecharam-se na Espanha, por ainda lembrarem-se das histórias de seus antepassados, [da] ruína que Geberich, rei dos godos, tinha há muito tempo atrás trazido sobre sua raça, e agora por seu valor ele tinha os dirigido da sua terra nativa.

E dessa forma isso aconteceu: a Gália mostrou-se aberta para Athavulf, quando veio. Agora quando os godos tinham estabelecido seu reino na Gália, ele começou a sentir pesar do aperto dos espanhóis e planejou salvá-los dos ataques dos vândalos. Portanto Athavulf deixou em Barcelona seus tesouros e os homens inadequados para guerra, e entrou no interior da Espanha com poucos fiéis o seguindo. Ali ele lutou frequentemente com os vândalos e, no terceiro ano após ele ter subjugado a Gália e a Espanha, caiu perfurado através da virilha pela espada de Euervulf, um homem de baixa estatura de quem se tinha hábito zombar. Depois de sua morte Segeric foi nomeado rei, mas ele também foi morto pela traição de seus próprios homens e perdeu tanto seu reino como sua vida até mais rapidamente que Athavulf.

        [Nota marginal: Rei Valia_ 415-419 EC]

XXXII_ Então Valia, o quarto desde Alarico, foi feito rei, e ele foi um excessivamente severo e prudente homem. O imperador Honório mandou um exército contra ele sob Constantius, que foi famoso por seus feitos em guerra e distinguiu-se em muitas batalhas, por temer que Valia quebraria o trato feito há muito tempo com Athavulf e que, depois dirigindo-se às tribos vizinhas, empreenderia um plano perverso contra o império. Além disso Honório estava ansioso de libertar sua irmã Placídia da desgraça da servidão, e fez um acordo com Constantius que, se pela paz ou pela guerra ou qualquer outro recurso que fosse, ele conseguisse trazê-la de volta ao reino, a teria como esposa. Contente com esta promessa, Constantius dirigiu-se à Espanha com uma força armada e quase em esplendor real.

Valia, rei dos godos, encontrou-se com ele como a um passo dos Pirineus com uma grande força. Neste ponto foram mandadas embaixadas de ambos os lados; e foi decidido fazer paz nos seguintes termos, ou seja: que Valia daria Placidia, a irmã do imperador, e não recusaria socorrer o império romano quando a ocasião exigisse.

        [Nota marginal: Constantino III_ 407-411 EC]
        [Nota marginal: Constans_ 407-411 EC]
        [Nota marginal: Jovinus_ 411-413 EC]
        [Nota marginal: Sebastian_ 412 EC]

Ora, naquele tempo um certo Constantino usurpou o poder imperial na Gália e nomeou como césar seu filho Constans, que foi anteriormente um monge. Mas quando ele havia tido, por um curto período de tempo, o império, foi assassinado em Arelate e seu filho em Vienne. Jovinus e Sebastian sucederam então, com igual presunção, e acreditaram talvez obter o poder imperial; mas eles pereceram em semelhante destino.

        [Nota marginal: Valia move-se contra os vândalos_ 427 EC]

Já no décimo segundo ano do reinado de Valia, os hunos dirigiram-se para [fora da] Pannonia sobre romanos e godos, quase cinquenta anos depois deles terem tomado posse dela. Então Valia descobriu que os vândalos tinham vindo avante com destemida audácia do interior da Galicia, para onde Athavulf tinha há tempos os dirigido, e foram devastando e saqueando todos os lugares em seus próprios territórios, quer dizer, nas terras da Espanha. Então ele não atrasou-se, mas moveu seu exército contra eles por uma vez, no tempo em que Hierius e Ardabures foram cônsules.

        [Nota marginal: Os vândalos e Gaiseric, seu rei_ 427-477 EC]

XXXIII_ Mas Gaiseric, rei dos vândalos, já tinha sido convidado a entrar na África por Bonifácio, que tinha [se] arruinado numa disputa com o imperador Valentiniano e foi capaz de vingar-se por prejudicar o império. Então ele convidou-os urgentemente e trouxe-os através do reduzido estreito conhecido como Estreito de Gades, tendo dificilmente sete milhas de largura, que divide a África da Espanha e une a foz do Mar Tirrênio com as águas do Oceano.

Gaiseric, ainda famoso na Cidade pelo desastre dos romanos, era um homem de moderada altura e coxo em consequência de uma queda de seu cavalo. Foi um homem de profundo pensamento e curtas palavras, pensando da luxúria com desdém, selvagem em sua fúria, voraz para lucro, sagaz para vencer outros bárbaros e habilidoso em disseminar as sementes da dissenção para estimular a inimizade. Tal ele era que, como dissemos, veio por convite solicitado por Bonifácio para a província da África.

Ali ele reinou por um longo tempo, recebendo autoridade, como eles dizem, do próprio Deus. Antes de sua morte ele reuniu todos os seus filhos e ordenou que lá não haveria disputas entre eles pelo desejo do reino, mas que cada um reinaria em seu próprio posto e ordem como ele sobreviveu aos outros; ou seja, o próximo jovem sucederia seu velho irmão, e ele, novamente, seria sucedido pelo mais moço.

Por darem atenção à esta ordem, governariam seu reino em felicidade pelo espaço de muitos anos e não seriam desgraçados pela guerra civil, como é comum entre muitas nações; um após o outro recebendo o reino e reinando o povo em paz.

        [Nota marginal: Os cinco reis dos vândalos_ 427-534 EC]
        [Nota marginal: O reino dos vândalos torna-se sujeito à Roma]

Esta é a ordem de sucessão: primeiro, Gaiseric, que foi pai e senhor; o próximo, Huneric; o terceiro Gunthamund; o quarto Thrasamund; e o quinto, Ilderich. Ele foi conduzido ao trono e morto por Gelimer, que exterminou sua raça por ser indiferente aos conselhos de seus ancestrais e tornou-se um tirano. Mas o que ele fez não ficaria impune, pois em pouco tempo a vingança do imperador Justiniano foi manifestada contra ele. Com toda sua família e toda sua excessiva riqueza que ele havia desejado feito um ladrão, foi tomada para Constantinopla pelo mais renomado guerreiro, Belisarius, Senhor das Tropas do Leste, ex-Cônsul Ordinário e Patrício.Ali ele dava um grande espetáculo ao povo no circo. Seu arrependimento, quando observou sua própria queda de sua situação de realeza, veio muito tarde. Morreu como um mero subalterno e em retiro, apesar dele ter anteriormente se negado à submeter-se à vida privada.

Desta forma, depois de um século a África, que na divisão da superfície terrestre é considerada como uma terça parte do mundo, foi livrada do jugo dos vândalos e trazida de volta à liberdade do império romano. O país que a mão dos bárbaros tinha há muito tempo atrás cortado do corpo do império romano, em razão da covardia dos imperadores e traições dos generais, estava agora restaurada por um prudente príncipe e um fiel líder, e hoje está, felizmente, florescendo. E, de qualquer forma, depois disso, teve de lastimar a miséria da guerra civil e a traição dos "Moors", ainda o triunfo do imperador Justiniano, concedido por Deus. Trouxe para uma pacífica conclusão o que ele tinha iniciado.

Mas porque precisamos falar do que o assunto não requer? Retornemos ao nosso tema.

        [Nota marginal: Migração ou Os Amali aos Visigodos]
        [Nota marginal: Theodorico I _ 419-451 EC]

Valia, rei dos godos, e seu exército lutou então ferozmente contra os vândalos, perseguiu-os até a África, não tendo, porém, uma desgraça semelhante a que sucedeu a Alarico quando este se dirigiu para a África. Então, quando obteve grande fama na Espanha, retornou depois para Tolosa com uma vitória sem derramamento de sangue, devolvendo ao império romano, como ele prometera, um número de províncias que ele libertou de seus inimigos. Muito tempo após isso ele foi pego por uma doença e partiu desta vida.

Exatamente naquele mesmo tempo Beremud, o filho de Thorismud, que mencionamos anteriormente na genealogia da família dos Amali, partiu com seu filho dos Ostrogodos, os quais ainda submeteram à opressão os hunos na terra da Cítia, e veio ao reino dos visigodos. Bem ciente do seu valor e nobreza de nascimento, acreditou que o reino seria o mais propenso a entregar-se a ele por seu parentesco, à medida que ele fosse conhecido por ser o herdeiro de muitos reis. E quem iria hesitar escolher um dos Amali, se houvesse um trono vago? Mas não foi ávido de fazer-se conhecer quem ele era, e assim, na morte de Valia dos visigodos fizeram Theodorid seu sucessor.

Beremud veio até ele e, com a resistência mental pela qual ficou conhecido, ocultou seu nobre nascimento por prudente silêncio, por saber que as linhagens reais são sempre suspeitas pelos reis. Portanto ele sofreu em si mesmo o permanecer desconhecido, até que ele talvez não trouxesse o estabelecimento da ordem na confusão. O rei Theodorid recebeu a ele e seu filho com especial respeito e o fez seu companheiro em seus conselhos e um companheiro em sua hospedagem; não por seu nobre nascimento, que ele desconhecia, mas por seu bravo espírito e forte mente, que Beremud não conseguiu esconder.

        [Nota marginal: Consulado de Teodósio_ 439 EC]
        [Nota marginal: Primeira violação entre Theodorid I e os romanos]
        [Nota marginal: A trégua_ 439 EC]

XXXIV_ E o que mais? Valia (repetindo o que havíamos dito) teve apenas pequeno sucesso contra os gálios, mas quando morreu [sendo] o mais afortunado e próspero, Theodorid sucedeu-o ao trono. Ele foi um homem de enorme moderação e notável pelo vigor de mente e corpo.

No consulado de Teodósio e Festo, os romanos quebraram as tréguas e tomaram armas contra ele na Gália, tendo os hunos como auxílio. Por uma parte dos Confederados Gálicos, dirigidos por Count Gaina, haviam estimulado os romanos a colocar Constantinopla em pânico. Naquele tempo o Patrício Aetius estava no comando do exército. Ele foi da brava descendência dos Moesian, nascido de seu pai Gaudentius na cidade de Durostorum. Foi um homem adaptado aos duros labores da guerra, nascido expressamente para servir ao estado romano; e por impor esmagadores derrotas, ele forçou os arrogantes Suavi e os bárbaros Francos à submissão do poderio romano.

Então, com os hunos por aliados sob seu líder Litorius, o exército romano moveu-se em ordem contra os godos. Quando as linhas de batalha de ambos os lados tinham permanecido [em] posição por longo tempo, opostos um contra o outro, sendo ambos corajosos e nenhum dos lados fraco, fizeram uma trégua e retornaram à sua antiga aliança. Depois do tratado ter sido confirmado por ambos e uma honesta paz foi estabelecida, ambos se retiraram.

        [Nota marginal: Embaixada para Átila_ 448 EC]

Durante esta paz Átila era senhor sobre todos os hunos e quase governante único de todas as tribos da terra Cítia; um homem maravilhoso por sua gloriosa fama entre todas as nações. O historiador Priscus, que foi enviado a ele numa embaixada pelo jovem Teodósio, diz isso entre outras coisas:

"Atravessando poderosos rios _ ou seja, o Thisia e Tibisia e Dricca_ nós viemos ao lugar onde tempos atrás Vidigoia, valente dos godos, pereceu pela trapaça dos sarmatianos. Por não grande distância daquele lugar nós chegamos na vila onde o rei Átila estava morando _ uma vila, digo, como uma grande cidade em que nós encontramos paredes feitas de madeira construídos em tábuas de ***smooth-shining***, estas unidas dando tão falsa impressão de sólidas que a união das tábuas dificilmente poderiam ser distinguidas por escrutínio de perto. Lá você talvez veja salões de recepção de grande tamanho e pórticos planejados com grande beleza, enquanto o pátio era de tão vasto circuito que seu completo tamanho mostrou ser de um palácio real." Este era o abrigo de Átila, o rei de todos os bárbaros do mundo; e ele preferiu esta como uma residência do que as cidades que capturou.

        [Nota marginal: Caráter de Átila, rei dos hunos]
        [Nota marginal: Átila e Bleda juntos reinam_ 433-445 EC]
        [Nota marginal: Átila reina sozinho_ 445-453 EC]

XXXV_ Este Átila foi filho de Mundiuch, e seus irmãos eram Octar e Ruas que se diz terem governado antes de Átila, apesar de não sobre tantas tribos como ele. Depois de sua morte ele sucedeu ao trono dos hunos, junto com seu irmão Bleda. ***Na ordem que ele talvez primeiro estar igual {In order that he might first be equal}*** para a expedição que estava preparando, ele procurou aumentar sua força pelo assassinato. Deste modo ele procedeu com a destruição de seu próprio consanguíneo para a ameaça de todos os outros. Mas, apesar dele aumentar seu poder por este vergonhoso recurso, todavia da balança da justiça ele recebeu as horríveis consequências de sua própria crueldade.

Ora, quando seu irmão Bleda, que governou sobre uma grande parte dos hunos, tinha sido assassinado por esta traição, Átila uniu todo povo sob seu próprio poder. Reunindo também uma hoste de outras tribos que ele então segurou sob sua influência, procurou submeter as principais nações do mundo_ os romanos e os visigodos. Seu exército se diz ter contado quinhentos mil homens. Ele foi um homem dado à luz para estremecer as nações, o flagelo de todos os povos, quem de algum modo apavorava a toda humanidade por terríveis rumores divulgados ao exterior concernente à ele.

Ele era arrogante em seu caminhar, virando seus olhos para lá e para cá, de modo que o poder de seu orgulhoso espírito evidenciava-se no movimento de seu corpo. Era realmente amante da guerra, mas restringido na ação, eficaz em aconselhar, piedoso com os suplicantes e doce para com aqueles que eram uma vez recebidos em sua proteção. Era baixo de estatura com tórax largo e grande cabeça; seus olhos eram pequenos, sua barba escassa e salpicada de cinza; tinha um nariz chato e uma pele morena, provando as evidências suas origens. Apesar de seu temperamento ser tal que ele sempre tinha grande auto-confiança, sua promessa foi acrescida por descobrir a espada de Marte, sempre estimada [como] sagrada entre os reis dos citas. O historiador Priscus diz que esta foi descoberta sob as seguintes circunstâncias:

"Quando um certo pastor observou uma novilha de seu rebanho mancando sem motivo para isso, ele ansiosamente seguiu a trilha de sangue e ao longo [desta], chegou numa espada que ela tinha, sem perceber, pisado enquanto comia grama. Ele alegrou-se com este presente e, sendo ambicioso, pensou ter sido marcado [como] governante de todo o mundo, e que através da espada de Marte, a supremacia em todas as guerras lhe seria garantida."

        [Nota marginal: Gaiseric os incita à guerra com os godos]

Quando Gaiseric, rei dos vândalos, a quem mencionamos sucintamente acima, compreendeu que sua mente estava propensa à devastação do mundo, ele incitou Átila por muitos presentes para fazer guerra aos visigodos, por ele estar receoso de que Theodorid, rei dos visigodos, vingaria a injúria feita à sua filha. Ela foi unida em casamento com Huneric, o filho de Gaiseric, e no início foi feliz nesta união. Porém, mais tarde ele foi cruel até com sua própria criança, e por mera suspeita de que ela estava tentando envenená-lo, cortou seu nariz e mutilou suas orelhas. Ele a enviou de volta ao pai na Gália, despojada deste modo dos seus encantos naturais. Então a miserável garota apresentou um lastimável aspecto permanentemente depois, e a crueldade que emocionaria até estranhos incitou seu pai ainda mais à vingança.

Átila, então, em seus esforços para causar ao redor as guerras há tempos atrás instigadas pelo suborno de Gaiseric, despachou embaixadores para Itália ao imperador Valentiniano para semear conflito entre godos e romanos, pensando destruir pela discórdia civil aqueles a quem não conseguiria esmagar em batalha. Ele declarou que de jeito nenhum estava violando suas relações amistosas com o império, mas que tinha uma querela com Theodorid, rei dos visigodos.

Como ele desejava ser acolhido amigavelmente, preencheu o resto de sua carta com o visual [de] saudações lisonjeadoras, esforçando-se em obter crédito por sua falsidade. De forma semelhante despachou uma mensagem a Theodorid, rei dos visigodos, encorajando-o a quebrar sua aliança com os romanos e lembrando-o das batalhas que eles tinha recentemente provocado a ele. Debaixo de sua ferocidade ele foi um homem sutil, e lutou com trapaça antes de fazer guerra.

        [Nota marginal: Aliança de visigodos e romanos contra Átila_ 451 EC]

Portanto o imperador Valentiniano enviou uma embaixada aos visigodos e ao seu rei Theodorid, com esta mensagem:

"Bravos das nações, esta é a posição da prudência [tomada] por nós para reunir contra o senhor da terra que deseja escravizar o mundo todo; que não requer causa justa para guerra, mas supõe que não importa o que faça, é correto. Ele mede sua ambição por sua bravura. Rebeldia satisfaz sua vaidade. Desprezando lei e direito, ele mostra-se um inimigo da própria natureza. E desta forma ele, que evidentemente é o inimigo público, merece o ódio geral.

Peço que se lembre _ o que você certamente não esquece_ que os hunos não destruíram nações pelos meios da guerra, onde haveria chances iguais, mas atacou-os pela traição, que é uma grande causa de angústia. Para não dizer coisa alguma a nosso próprio respeito, pode você sofrer semelhante insolência impunemente? Visto que você é poderoso em armas, dê atenção ao seu próprio perigo e una esforços em comum conosco. Prestar socorro também ao império, que você possui uma parte. Se você compreender como uma aliança lhe é necessária como é para nós, olhe nos planos do adversário."

        [Nota marginal: A força dos aliados]

Por estes e semelhantes argumentos os embaixadores de Valentiniano prevaleceram sobre o rei Theodorid. Ele respondeu-o, dizendo:

Romanos, vocês realizaram seu desejo; vocês fizeram Átila também nosso inimigo. Nós o perseguiremos onde quer que ele nôs convocar, e, apesar dele ficar enaltecido por suas vitórias sobre várias raças, os godos ainda sabem como lutar contra este soberbo inimigo. Não chamo guerra nenhuma de perigosa, salvo aquela cuja causa é fraca; por ele não temer desgraça a quem a Majestade tem sorrido."

Os nobres gritaram concordando com a resposta e a multidão com satisfação os seguiu. Todos tornaram-se ferozes para a batalha e desejaram encontrar os hunos, seus inimigos. E assim uma incontável hoste foi conduzida adiante por Theodorid, rei dos visigodos, que mandou quatro dos seus filhos para casa, ou seja, Friderich e Eurich, Remeter e Himnerith, tomando com ele somente os dois filhos mais velhos, Thorismud e Theodorid, como companheiros nos mesmos labores. Oh brava exibição, obviamente defesa e melodiosa amizade! Tendo como consolo o risco daqueles a quem um contentamento é a tolerância dos mesmos perigos.

Um lado dos romanos manteve-se [sob] o Patrício Aetius, de quem naquele tempo o inteiro império do oeste dependia; um homem de tal bom senso que reuniu guerreiros de todos os lugares para encontrá-los em iguais termos. Estes foram auxilio para ele: Francos, Sarmatianos, Armoricians, Liticians, Burgundians, Saxons, Riparians Olibriones (antigamente soldados romanos e agora a beleza das forças aliadas), e alguns outros das tribos célticas ou germânicas. Desta forma eles encontraram-se nas Planícies Catalaunian, que são também chamadas Mauriacian, extendendo-se em comprimento por cem "leuva", como os gálios expressam isso, e setenta em largura. Já a gálica "leuva" mede uma distância de mil e quinhentos passos. Aquela porção de terra consequentemente tornou-se o caminho de incontáveis raças.

As duas hostes [estavam] corajosamente unidos na batalha. Nada foi feito escondido, mas eles sustentaram o início da luta. Que causa justa pode provocar o encontro de tantas nações, ou que ódio inspirou todos eles a tomarem armas um contra o outro? Isto é evidência de que a raça humana vive para seus reis, isso é o que os faz terem o impulso de um pensamento [para] massacrar nações, tomando lugar, e pelo capricho de um arrogante governante, aquele que a natureza tem tomado tempo para produzir perigos num momento.

        [Nota marginal: O início do conflito]

XXXVII_ Porém antes de prosseguirmos com a ordem da própria batalha, parece necessário relatar o que já havia acontecido no curso da campanha, pois essa não foi somente uma famosa luta, mas foi complicada e confusa. E então, Sangiban, rei dos alanis, atingido pelo medo do que talvez viria a passar, prometeu render-se para Átila, e deixar sua tropa [em] Aureliani, uma cidade da Gália onde ele então morava. Quando Theodorid e Aetius perceberam isso, eles fizeram grande fortificação em torno da cidade antes da chegada de Átila e mantiveram vigiado o suspeito Sangiban, instalando-o com sua tribo em meio aos seus auxiliares.

Então Átila, rei dos hunos, teve um revés com este evento e perdeu a confiança de sua própria tropa, assim que temeu iniciar o conflito. Enquanto ele estava refletindo na fuga _ uma grande calamidade, a própria morte_ decidiu indagar o futuro através dos profetas. Então, como era costume deles, examinou as entranhas do gado e [notou] certas linhas em ossos que tinham sido arranhados, e prognosticou desastre para os hunos. Ainda como um pequeno consolo, profetizaram que o chefe comandando o inimigo que iria encontrar cairia, e prejudicaria por sua morte o resto da vitória e o triunfo.

Átila considerou a morte de Aetius uma coisa desejável até ao custo de sua própria vida, por Aetius colocar-se no caminho dos seus planos. Ainda que ele ficasse perturbado por esta profecia, considerando que ele era um homem que pedia conselho de presságios em toda guerra, iniciou a batalha com o coração ansioso por cerca da nona hora do dia, conforme a iminente penumbra talvez viesse em seu socorro se a consequencia seria desastre.

Batalha nos Campos Cataláunicos_ 451 EC

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        [Nota marginal: Batalha nos Campos Cataláunicos_ 451 EC]

 

XXXVIII_ Os exércitos encontraram-se, como tínhamos dito, nas Planícies Catalaunian. O campo de batalha era um plano erguendo-se por uma aguda inclinação para as montanhas, que ambos os exércitos procuraram ganhar; pela vantagem da posição está um grande apoio. Os hunos com suas forças atacaram o lado direito, os romanos, os visigodos e seus aliados o esquerdo, então iniciou-se um esforço para a ainda ***{untaken}*** crista.

Theodorid com os visigodos guardaram o flanco direito e Aetius e os romanos com o esquerdo. Eles posicionaram no centro Sangiban (quem, como dissemos antes, estava no comando dos alanis), desta forma conseguindo, com cautela militar, cercar por uma hoste de tropas fiéis o homem de quem a lealdade eles tinham pouca confiança. Pois estes, tendo dificuldades no caminho da sua fuga, com prazer submeteram-se à necessidade do combate.

Do outro lado, de qualquer forma, a linha de batalha dos hunos estava tão organizada que Átila e os que corajosamente o seguiam ficaram estacionados no centro. Dispondo-os desta forma o rei tinha principalmente sua própria salvação em vista, posto que, por sua posição exatamente no centro de sua raça, ele estaria guardado da passagem do arriscado perigo. Os inumeráveis povos de diversas tribos, que ele tinha sujeitado à sua influência, formou os flancos.

Entre estes era óbvio que o exército dos ostrogodos sob a liderança dos irmãos Valamir, Thiudimer e Vidimer, mais nobres até do que o rei ao qual serviam, pelo heroísmo da família dos amali os fizeram gloriosos. O renomado rei dos gepidae, Ardaric, foi aquele que também com uma incontável hoste, e por causa de sua grande lealdade para com Àtila, participou seus planos. Pois Átila, comparando-os em seu bom senso, estimou-o e [colocou] Valamir, rei dos ostrogodos, sobre todos os outros líderes. Valamir foi um bom protetor dos segredos, brando de fala e hábil nos truques; e Ardaric, como haviamos dito, ficou famoso por sua lealdade e inteligência.

Átila talvez sentiu bem claro que eles lutariam contra os visigodos, seus parentes. Já o resto da multidão de reis (se assim podemos chamá-los) e os líderes de várias nações presos sob o sinal de Átila, como escravos, quando ele dava um sinal até por um olhar, sem um ruído, cada um colocava-se adiante em medo e tremor, ou em todos os eventos, conforme ele desejasse. Átila sozinho foi rei sobre os reis de todos os reinos.

Então a luta começou pela vantagem da posição que haviamos mencionado. Átila mandou seus homens tomarem o pico da montanha, mas foram superados por Thorismud e Aetius, que em seus esforços de ganhar o topo da colina alcançaram superior [poder] de destruição e através desta vantagem de posição derrotaram facilmente os hunos enquanto avançavam.

 
De Neuville - The Huns at the Battle of Chalons
        [Nota marginal: Átila discursa aos seus homens]

XXXIX_ Quando Átila viu que seu exército estava posto em confusão por este evento, ele acreditou que o melhor para encorajá-los seria por um improvisado discurso deste modo:

"Aqui você fica, depois de conquistar poderosas nações e subjugando o mundo. Então eu penso que é tolice para mim incitá-los com palavras, como se vocês fossem homens que não têm sido provados em ação. Deixa um novo líder ou um exército inexperiente recorrer a isso. Não é correto para mim dizer qualquer coisa banal, nem devem vocês ouvirem. Pois,o que é guerra senão seu usual costume? Ou, o que é mais doce para um corajoso homem do que procurar vingança com sua própria mão? Este é um direito da natureza saturar a alma com vingança.

Permita-nos, então, atacar o inimigo avidamente; por serem eles sempre os corajosos a fazer o ataque. Desprezo esta união de discordantes raças! Por defenderem a si mesmos por aliança é evidência de covardia. Vejam, até antes do nosso ataque eles foram golpear apavorados. Eles procuram os cumes, agarram as colinas e, arrependendo-se tarde demais, clamam por proteção contra a batalha nos campos abertos. Vocês sabem como desprezo a forma do ataque romano. Enquanto eles ainda estão reunidos em ordem e formados numa linha com escudos unidos, estão enquadrados, não direi pelo primeiro encontro, mas até na poeira da batalha. Então lutem, com corações decididos, como é de seus hábitos.

Desprezo sua linha de batalha. Avante os alani, golpear os visigodos! Busquem a vitória imediata naquele ponto onde há batalha enfurecida. Pois quando as forças estão reduzidas os membros em breve relaxam, nem fica um corpo de pé quando você atirou longe os ossos. Vamos aumentar sua coragem e sua própria fúria estourando avante! Mostrem agora sua perspicácia, hunos, suas façanhas em armas! Permita aos feridos exigir durante o retorno a morte do seu inimigo; conceda aos não-feridos a alegria do massacre do inimigo. Não prejudicará àqueles que estão certos de viver; e aqueles que estão certos de morrer o Destino alcança até na paz.

Finalmente, porquê a fortuna teria feito os hunos vitoriosos sobre tantas nações, a menos que isso fosse [para] prepará-los para o prazer deste conflito[?] A quem foi isso revelado aos nossos ancestrais o caminho através do pântano Maeotian, por muitas eras escondido? Quem, além disso, fez de vocês homens armados, quando vocês ainda estavam como que desarmados? Até um aglomerado de nações confederadas não conseguiria aguentar a pontaria dos hunos.

Eu não me enganei no assunto _ aqui é o campo que tem prometido tantas vitórias para nós. Eu atirarei a primeira lança no inimigo. Se alguém pode permanecer no sono enquanto Átila luta, ele é um homem morto." Inflamados por tais palavras, todos eles lançaram-se na batalha.

        [Nota marginal: A luta feroz]

XL_ Embora a situação fosse em si mesma aterrorizante, ainda a presença de seu rei dissipou ansiedade e hesitação. Mão por mão eles foram de encontro com a batalha, e aumentou a violência da luta, confuso, monstruoso, duro _ uma luta tal qual não recordaria as dos tempos antigos. Lá semelhantes feitos eram produzidos para que um bravo homem que sentisse saudades deste maravilhoso espetáculo não pudesse esperar ver qualquer coisa admirável assim por toda sua longa vida.

Se posso acreditar em nossos anciãos, por um riacho correr entre margens baixas através da planície foi grandemente aumentado pelo sangue dos feridos de morte. Este não foi inundado por chuvas, como riachos normalmente se elevam, mas foi acrescido por um estranho rio e voltou para a torrente pelo acréscimo de sangue. Os feridos dirigiram-se a ele para satisfazer a ressecante sede bebendo água misturada a sangue coagulado. Em seus desgraçados empenhos eles foram forçados a beber o que acreditaram ser sangue derramado de seus próprios ferimentos.

        [Nota marginal: Morte do rei Theodorid I em batalha]

Aqui o rei Theodorid, enquanto cavalgava para encorajar seu exército, foi jogado por seu cavalo e atropelado pelos pés de seus próprios homens, terminando assim seus dias em um perfeito de antigamente. Mas outros dizem que ele foi assassinado pela lança de Andag da tropa dos ostrogodos, que estavam então sob o poder de Átila. Isso foi o que os profetas tinham contado para Átila na profecia, apesar dele entender que fosse Aetius.

Então os visigodos, separando-se dos alani, caíram sob a multidão de hunos e quase mataram Átila. Mas ele prudentemente fugiu e imediatamente fechou-se e seus companheiros dentro dos obstáculos do acampamento, que ele fortificou com vagões ***{wagons}*** . Uma frágil defesa, realmente; lá eles procuraram refúgio para suas vidas, porém sem valor, já que paredes de terra não poderiam resistir. Mas Thorismud, o filho do rei Theodorid, com quem Aetius tinha dominado a colina e expulsado o inimigo do alto pulverizando, veio inconscientemente para os vagões ***{wagons}*** do inimigo na escuridão da noite, pensando ele que tinha alcançado suas próprias linhas. Como ele era corajoso guerreiro, alguém o feriu na cabeça e [foi] puxado de seu cavalo. Ele foi salvo pela vigilância atenciosa dos seus que o seguiam e retiraram-no do feroz conflito.

Aetius também ficou separado dos seus homens na confusão da noite e vagou no meio do inimigo. Temendo que um desastre tivesse acontecido, ele foi na procura dos godos. Por último ele alcançou o campo de seus aliados e passou o resto da noite na proteção de seus escudos.

Ao amanhecer do dia seguinte, quando os romanos verificaram os campos, com grandes pilhas de corpos e que os hunos não avançariam adiante, acreditaram terem vencido, mas souberam que Átila não fugiria da batalha a menos que sobrepujado por grande desastre. Ele não faria nada em covardia, como alguém que esteja sujeitado, mas por confronto de armas tocou os trompetes e ameaçou um ataque. Era como um leão penetrado por uma lança, marchou para e também de diante da boca do seu esconderijo e não ousou desafiar, mas não cessou de aterrorizar a vizinhança com seu rugido. Este rei guerreiro até em latido apavorou seus conquistadores.

Então os godos e romanos reuniram-se e consideraram o que fazer com o conquistado Átila. Eles determinaram esgotá-lo por um cerco, porque ele não tinha estoque de provisões e foi impedido por [estar] próximo de uma chuva de flechas dos arqueiros colocados dentro do campo romano. Mas foi dito que o rei ficou supremamente bravo até neste extremo e tinha amontoado uma pira funerária dos enfeites dos cavalos, se o inimigo o atacásse, ele estava determinado a atirar-se nas chamas, ninguém teria o prazer de machucá-lo e o senhor de tantas raças não cairia nas mãos do inimigo.

        [Nota marginal: Resultados do combate]

XLI_ Durante este prolongamento, os visigodos procuraram seu rei e os filhos do rei, seu pai, admirando-se de sua ausência quando o sucesso tinha sido obtido. Quando, depois de uma longa procura, o encontraram onde a morte deitou muitos, o honraram com música e adornos à vista do inimigo, conforme acontece a homens valentes. Você talvez [já] tenha visto grupos de godos com dissonantes choros e dores nas honras de morte enquanto a batalha ainda [está] enfurecida. Lágrimas foram derramadas, mas de tal forma eles eram acostumados a devotar-se ao bravo homem. Estava realmente morto, mas os hunos eram testemunhas de que este foi alguém glorioso. Esta foi uma morte segundo alguém talvez bem iria supor [que] o orgulho do inimigo foi desdenhado, quando eles contemplaram o corpo de um grande rei, prestando em seguida adequadas honras.

Assim os godos, continuando as cerimônias devidas a Theodorid, adornaram em seguida a majestade real com os sons das armas, e o corajoso Thorismud, conforme se espera de um filho, honrou o glorioso espírito de seu falecido pai por seguir seu cadáver.

Quando isto foi feito, Thorismud ficou ansioso de tomar vingança por seu falecido pai nos hunos que restaram, sendo movido tanto por sua dor de luto quanto pelo impulso do valor pelo qual ficou conhecido. Ele consultou o Patrício Aetius (pois era um homem idoso e de mais bom senso maduro) com respeito a o que ele deveria fazer em seguida. Mas Aetius temeu que se os hunos fossem totalmente destruídos pelos godos, o império romano seria devastado, e o aconselhou a urgentemente retornar aos seus próprios domínios para receber o governo que seu pai lhe deixou. Senão seus irmãos talvez agarrariam as suas posses paternas e obteriam o poder sobre os visigodos. Neste caso Thorismud teria de lutar impetuosamente e, o que é pior, desastrosamente com seus próprios compatriotas.

Thorismud aceitou o conselho sem perceber seu duplo propósito, mas obedeceu isso com um olhar voltado para sua própria vantagem. Então ele deixou os hunos e retornou à Gália. Enquanto as fraquezas humanas apressam a suspeita, frequentemente desperdiçam uma oportunidade de fazer grandes coisas.

Na mais famosa guerra das corajosas tribos, cento e sessenta e cinco mil se diz terem sido mortos de ambos os lados, deixando de fora da contagem quinze mil dos gepidae e francos que lutaram pelos romanos, e os gepidae pelos hunos.

Quando Átila percebeu a retirada dos godos, pensou que fosse artimanha do inimigo_ pois tantos homens tendo vencido, para acreditar nesse inesperado ocorrido_ e ficou por algum tempo em seu acampamento. Mas quando um longo silêncio se seguiu à ausência do inimigo, o espírito do corajoso rei ficou animado a acreditar em vitória e a antecipação do prazer, e sua mente voltou-se aos velhos oráculos de seu destino.

        [Nota marginal: Thorismud_ 451-453 EC]

Thorismud, de qualquer forma, depois da morte de seu pai nas Planícies Catalaunian onde havia lutado, avançou em cerimônia pública e adentrou Tolosa. Ali, ainda que a multidão de seus irmãos e bravos companheiros estivessem comemorando a vitória, ele começou a governar tão pacificamente que ninguém aspirou a sua sucessão ao trono.

        [Nota marginal: Cerco e queda de Aquiléia_ 452 EC]

XLII_ Mas Átila agarrou a chance do retorno dos visigodos, observando o que ele tinha frequentemente desejado, que seu inimigo estivesse dividido. Na grande sensação de segurança, ele moveu adiante seu grupo para atacar os romanos. Como seu primeiro movimento, ele assediou a cidade de Aquiléia, a metrópole de Venetia, que está situada num ponto ou língua de terra sobre o mar adriático. Pelo lado oriental suas muralhas são banhadas pelo rio Natissa, fluindo da Montanha Piccis. O cerco foi longo e cruel, mas sem benefício, visto que os bravos soldados dos romanos resistiram-lhes de dentro.

Finalmente, seu exército estava descontente e desejava retornar. Átila teve a chance de estar caminhando em torno das muralhas, considerando se cancelaria o cerco ou o prolongaria longamente, e reparou que os pássaros brancos, ou seja, as cegonhas, que constróem seus ninhos na cumeeira das casas, sustentavam seus filhotes da cidade e, contrário ao seu costume, estavam carregando-os para fora do país. Sendo um sagaz observador de eventos, entendeu isso e disse aos seus soldados:

"Vocês sabem que os pássaros prevêem o futuro. Eles estão deixando a cidade obviamente para perecer e estão abandonando fortalezas malditas para morrerem em razão do iminente perigo. Não pensem que este seja um sinal insignificante ou duvidoso; temam, despertando destas coisas eles previram, mudaram seu costume." O que mais dizer? Inflamou seus soldados a atacar Aquiléia novamente. Construindo bate-estacas e trazendo para sustentar todo gênero de engenhos de guerra, eles rapidamente forçaram seu caminho para dentro da cidade, trazendo sobre ela a destruição, dividiram o saque e então cruelmente devastaram-na à medida que dificilmente deixaram um traço do que era.

Então aumentando o destemor e ainda com sede de sangue romano, os hunos encolerizaram-se furiosamente contra as cidades que restavam dos Veneti. Eles também destruíram Mediolanum, a metrópole da Ligúria, antigamente uma cidade imperial, e foram sobre Ticinum para uma semelhante destruição. E depois destruíram os países vizinhos em sua loucura, demolindo quase a Itália inteira.

        [Nota marginal: Papa Leão intervém para salvar Roma_ 452 EC]

A idéia de Átila era ir para Roma. Mas os que o seguiam, como relata o historiador Prisco, guiou-o para outro lugar, não em consideração para com a cidade (com a qual eles eram hostis), mas por lembrarem-se do caso de Alarico, o antigo rei dos visigodos. Eles desconfiaram da boa fortuna de seu próprio rei, considerando que Alarico não viveu muito depois de saquear Roma, mas imediatamente partiu desta vida.

Enquanto o espírito de Átila ficou hesitando na dúvida entre ir e não ir, e ele ainda demorando para ponderar o assunto, um embaixador veio à ele de Roma procurando paz. O próprio papa Leão veio para encontrá-lo no distrito de Ambuleian dos Veneti, em viagem descendo o rio Mincius.

Então Átila rapidamente colocou de lado sua fúria usual, voltou pelo caminho que tinha avançado do outro lado do Danúbio e partiu com a promessa de paz. Mas sobretudo declarou e manifestou-se com ameaças que ele faria perversidades sobre a Itália, a menos que eles lhe enviassem Honória, a irmã do imperador Valentiniano e filha de Augusta Placidia, com a devida parte da riqueza real dela. Para isso foi dito que esta Honória, embora obrigada à castidade pela honra da corte imperial e deixada no constrangimento pela ordem do seu irmão, tinha secretamente despachado um eunuco para chamar Átila, de quem talvez ela teria proteção contra o poder de seu irmão_ uma vergonhosa coisa, sem dúvida, para obter permissão à sua paixão ao custo da felicidade pública.

        [Nota marginal: Marciano_ 450-457 EC]
        [Nota marginal: Átila derrotado por Thorismud]


XLIII_ Assim Átila retornou ao próprio país, aparentando lamentar a paz e irritado pela pausa da guerra. Portanto ele enviou embaixadores para Marciano, imperador do Leste, ameaçando devastar as províncias, por [algo que] lhe havia sido prometido por Theodósio, um imperador anterior, sem ter sido executado, e disse que ele se mostraria ainda mais cruel com seus inimigos do que antes. Mas como ele era astuto e esperto, ameaçou numa direção e moveu seu exército em outra.

No meio daqueles preparativos, ele voltou sua face em direção aos visigodos, que tinham ainda que sentir sua vingança. Mas nisso ele não teve o mesmo sucesso [que teve] contra os romanos. Apressando-se de volta por um caminho diferente de antes, decidiu reduzir ao seu poder aquela parte dos Alani fixada do outro lado do rio Loire, [já que] atacando-os, e desta forma mudando o aspecto da guerra, ele talvez se tornaria na mais terrível ameaça aos visigodos.

Consequentemente ele começou pelas províncias da Dácia e Pannonia, onde os hunos eram então residentes, com vários povos que lhe eram sujeitos, e moveu-se contra os Alani. Mas Thorismud, rei dos visigodos, com igual agilidade de pensamento percebeu o truque de Átila. Por forçar marcha ele veio aos Alani antes dele, e foi bem preparado para verificar o avanço de Átila quando este veio contra ele. Batalharam quase do mesmo jeito que antes, nas Planícies Catalaunian, e Thorismud frustrou-o em suas esperanças de vitória, por derrotá-lo e dirigi-lo de volta à [própria terra] sem triunfo, compelindo-o a fugir ao seu próprio país. Desta forma, enquanto Átila, o famoso líder e portador de muitas vitórias, procurou manchar a fama de seu destruidor e, do seu jeito, anular o que havia sofrido às mãos dos visigodos, recebeu uma segunda derrota e escapou vergonhosamente.

Após os bandos de hunos terem sido expulsos pelos Alani, sem qualquer ferimento em seus próprios homens, Thorismud partiu para Tolosa. Ali ele estabeleceu uma paz obtida para seu povo e no terceiro ano de seu reinado caiu doente. Enquanto lhe saía sangue de uma veia, foi levado à morte por Ascalc, um cliente, que contou aos inimigos que suas armas estavam fora de alcance. Ainda segurando um ***[escabelo?_foot-stool_ ]*** em uma das mãos, ele obteve liberdade, tornando-se o vingador de seu próprio sangue, destruindo vários daqueles que foram mentirosos na espera dele.

        [Nota marginal: O reinado do rei Theodorid II_ 453-466 EC]
        [Nota marginal: Batalha próxima de Ulbius_ 456 EC]

XLIV_ Depois de sua morte, seu irmão Theodorid sucedeu-o no reino dos visigodos e em breve descobriu que Riciarius, seu parente, o rei dos Suavi, era hostil com ele. Pois Riciarius, presumindo do seu relacionamento para com Theodorid, acreditou que este talvez dominaria quase a Espanha inteira, acreditando que o distúrbio iniciado pelo reinado de Theodorid fez o momento oportuno para sua fraude.

Os Suavi anteriormente dominaram como seu país a Galicia e a Lusitânia, que extende-se do lado direito da Espanha ao longo da margem do Oceano. Ao leste está Austrogonia, no oeste, num promontório, está o consagrado Monumento do general romano Cipião, para o norte o Oceano, e ao sul a Lusitânia e o rio Tagus, que tem ouro misturado às suas areias, e assim carrega riquezas em sua lama sem valor. Portanto Riciarius, rei dos Suavi, dirigiu-se adiante e aspirou dominar a Espanha inteira.

Theodorid, seu parente, um homem de moderação, enviou-lhe embaixadores e contaram-lhe serenamente que ele não tinha necessidade [somente] de retirar-se dos territórios que não lhe pertenciam, mas, além disso, que ele não presumiria fazer semelhante esforço, tornando-se odiado por sua ambição. Porém, com espírito arrogante, ele replicou: "Se você resmunga aqui e encontra erro comigo, irei para Tolosa onde você mora. Oponha-se a mim lá, se puder."

Quando escutou isso, Theodorid ficou irritado, fazendo pacto com todas as outras tribos, moveu-se contra os Suavi. Ele teve por aliados próximos Gundiuch e Hilperic, reis dos burgúndios. Eles vieram para lutar próximo ao rio Ulbius, que corre entre Asturica e Hiberia, e no compromisso de Theodorid com os visigodos, que lutaram à direita, tornaram-se vitoriosos, derrubando a inteira tribo dos Suavi e quase a exterminando. Seu rei Riciarius fugiu de medo do inimigo e embarcou num navio. Mas foi abatido por outro inimigo, o vento contrário do Mar Tyrrênio, e assim caiu nas mãos dos visigodos. Assim, apesar dele mudar do mar para terra, o desprezível homem não evitou sua morte.

Quando Theodorid tornou-se vencedor, poupou o conquistado e não desejou a continuação do conflito, mas estabeleceu sobre os Suavi, a quem ele havia conquistado, um de seus próprios empregados, chamado Agrivulf. Mas Agrivulf traiçoeiramente mudou seu pensamento, através de persuasão sobre os Suavi, e falhou em realizar sua obrigação. Por ele ter sido totalmente inflado com orgulho tirânico, acreditando ter obtido a província como prêmio pelo seu valor, e [por] seu senhor tê-los recentemente subjugado.

Visto que ele era homem nascido da descendência dos Varni, muito inferior à nobreza do sangue gótico, foi, portanto, sem nenhum cuidado em relação à liberdade nem fiel para com seu benfeitor. Como em pouco tempo Theodorid soube disso, reuniu uma força para tirá-lo do reino que ele havia usurpado. Eles vieram rapidamente e o conquistaram na primeira batalha, inflingindo-lhe uma punição compatível com suas ações. Quando ele foi capturado, pegaram seus amigos e os degolaram. Desta forma, por último, ele foi feito ciente da fúria do senhor, [pois] acreditou que talvez ele [seria] desprezado em razão de sua bondade.

Ora, quando os Suavi observaram a morte de seu líder, enviaram sacerdotes daquele país para Theodorid como suplicantes. Ele os recebeu com a reverência devida ao seu ofício e não somente garantiu aos Suavi isenção da punição, mas ficou movido de compaixão e permitiu-lhes escolher um governante de sua própria raça para si mesmos. Os Suavi fizeram assim, tomando Rimismund como seu governante. Quando isso foi feito e a paz foi em todo lugar assegurada, Theodorid morreu no décimo terceiro ano de seu reinado.

        [Nota marginal: Rei Eurich_ 466-485 EC]
        [Nota marginal: O império do Oeste, da morte de Valentiniano III à Romulus Augustulus]
        [Nota marginal: Maximus_ 455 EC]
        [Nota marginal: Gaiseric saqueia Roma_ 455 EC]
        [Nota marginal: Majorian_ 457-461 EC]
        [Nota marginal: Lívio Severo_ 461-465 EC]
        [Nota marginal: Leão I_ 457-474 EC]
        [Nota marginal: Anthemius_ 467-472 EC]

XLV_ Seu irmão Eurich sucedeu-o com tamanha avidez afobada que caiu sob obscuras suspeitas. Ora, enquanto estes e vários outros assuntos foram ocorrendo entre o povo dos visigodos, o imperador Valentiniano foi assassinado pela traição de Maximus, e o próprio Maximus, como um tirano, usurpou o governo.

Gaiseric, rei dos vândalos, ouviu isso e veio da África para a Itália com navios de guerra, penetrou em Roma e deitou-a em destruição. Maximus fugiu e foi morto por um certo Ursus, um soldado romano. Depois deste, Majorian tomou para si o governo do império Ocidental como o oferecendo a Marcian, imperador do Leste. Mas ele também governou somente um curto tempo. Quando ele havia movido suas forças contra os alani que estavam molestando a Gália, foi morto em Dertona, próximo ao rio chamado Ira. Severus sucedeu-o e morreu em Roma, no terceiro ano de seu reinado. Quando o imperador Leão, que havia sucedido Marcian no império do Leste, soube disso, escolheu como imperador seu Patrício Anthemius e enviou-o para Roma. Contra seu rival ele mandou contra os alani seu genro Ricimer, que era um excelente homem e quase o único homem na Itália com tempo adequado para comandar o exército. No primeiríssimo encontro ele conquistou e destruiu a hoste dos alani, junto com seu rei, Beorg.

        [Nota marginal: Olybrius_ 472 EC]

Já Eurich, rei dos visigodos, percebeu a frequente mudança dos imperadores romanos e aspirou possuir a Gália por seu próprio direito. O imperador Anthemius soube disso e questionou os brittones por auxílio. Seu rei, Riotimus veio com doze mil homens para o estado dos Bituriges pelo caminho do Oceano, e foi recebido enquanto desembarcava dos seus navios. Eurich, rei dos visigodos, veio contra ele com um inumerável exército, e depois de uma longa batalha ele derrotou Riotimus, rei dos brittones, antes dos romanos poderem se unir a eles.

Então, quando ele tinha perdido uma grande parte do seu exército, fugiu com todos os homens que pôde levar junto, e veio aos burgundios, uma tribo vizinha [que era] então aliada dos romanos. Mas Eurich, rei dos visigodos, dominou a cidade gálica de Arverna; pois o imperador estava agora morto. [Quando] engajou-se na feroz guerra com seu genro Ricimer, ele tinha esgotado Roma completamente, e foi ele mesmo morto finalmente por seu genro e deu o governo para Olybrius.

        [Nota marginal: Glycerius_ 473 AEC]
        [Nota marginal: Nepos_ 474 EC]

Naquele tempo Aspar, o maior dos patrícios e homem famoso da raça gótica, foi ferido pelas espadas dos eunucos em seu palácio em Constantinopla, e morreu. Com ele foram mortos seus filhos Ardabures e Patriciolus, os únicos Patrícios, e o outro nomeado um césar e genro do imperador Leão. Nisso Olybrius morreu apenas oito meses depois de entrar no reinado, e Glycerius foi feito césar em Ravena, mais particularmente por usurpação do que por eleição. Não tinha nem mesmo um ano que tinha sido concluído quando Nepos, o filho da irmã de Marcellinus, uma vez Patrício, o destituiu de seu ofício e ordenou-o bispo do Porto de Roma.

        [Nota marginal: Romulus Augustulus_ 476 EC]

Quando Eurich, como já dissemos, observou essa grande e diferente chance, tomou a cidade de Arverna, onde o general romano Ecdicius estava naquele tempo no comando. Ele era senador da mais renomada família e o fiho de Avitus, um imperador recente que tinha usurpado o reino por uns poucos dias_ pois Avitus tomou o governo poucos dias antes de Olybrius, e então retrocedeu de seu próprio acordo para Placentia, onde ele foi ordenado bispo. Seu filho Ecdicius tentou por um longo tempo contra os visigodos, mas não tinha poder para prevalecer. Então ele saiu do país e (o que foi mais importante), da cidade de Arverna para o inimigo e entregou-se para salvar as regiões.

Quando o imperador Nepos ouviu isso, mandou Ecdicius partir da Gália e vir a ele, nomeando Orestes em seu lugar como Senhor das Tropas. Este Orestes por isso recebeu o exército, dirigiu-os de Roma contra o inimigo e veio para Ravena. Ali demorou-se enquanto fez de seu filho Romulus Augustulus imperador. Logo que Nepos soube disso, fugiu para a Dalmatia e morreu lá, privado de seu trono, exatamente no lugar onde Glycerius, que foi anteriormente imperador, obteve o bispado de Salona.

        [Nota marginal: O domínio de Odoacro_ 476-493 EC]
        [Nota marginal: Morte de Bracila_ 477 EC]

XLVI_ Ora, quando Augustulus tinha sido nomeado imperador por seu pai Orestes em Ravena, isso não foi muito antes de Odoacro, rei dos Torcilingi, invadir a Itália, como líder dos Sciri, Heruli e aliado de várias raças. Ele matou Orestes, e dirigiu seu filho Augustulus do trono para a punição de exílio no Castelo de Lucullus na Campania.

Então o império do Ocidente da raça romana, que Otaviano Augusto, o primeiro dos Augusti, começou a governar no sectuagésimo nono ano da fundação da Cidade, pereceu com seus Augustulus no quintuagésimo vigésimo segundo ano do início do governo de seus predecessores e daqueles antes deles, e do tempo adiante os reis godos tomaram Roma e a Itália. Portanto Odoacro, rei de nações, subjugou toda a Itália e então, como início do seu reinado assassinou Count Bracila em Ravena a fim de talvez inspirar algum medo entre os romanos. Ele fortaleceu seu reino e dirigiu-o por quase treze anos, igualou até a aparência de Teodorico, de quem falaremos depois.

        [Nota marginal: Leão II_ 473-474 EC]
        [Nota marginal: Zenon_ 474-491 EC]
        [Nota marginal: Eurich assassinado_ 485 EC]
        [Nota marginal: Alarico II, último rei dos visigodos_ 485-507 EC]

XLVII_ Mas primeiro permita-nos retornar para aquela ordem da qual nós divagamos e contar como Eurich, rei dos visigodos, contemplou o cambaleante Império Romano e reduziu Arelate e Massilia do seu próprio poder. Gaiseric, rei dos vândalos, atraiu-o por presentes para fazer estas coisas, a fim de que ele mesmo talvez evitasse os planos que Leão e Zenon tinham tramado contra ele. Então moveu os ostrogodos para destruírem o império do Leste e os visigodos o Oeste, tal que, enquanto seus inimigos estivessem lutando em ambos os impérios, ele mesmo poderia reinar pacificamente na África.

Eurich percebeu isso com satisfação e, como ele já dominava toda a Espanha e a Gália com sua própria mão, prosseguiu em submeter os burgundians também. No décimo nono ano de seu reinado, ele foi privado desta vida em Arelate, onde ele então residia. Foi sucedido por seu próprio filho Alarico, o nono em sucessão desde o famoso Alarico o grande, a receber o reino dos visigodos. E da mesma forma que aconteceu à linhagem dos Augusti, como declaramos acima, assim também aconteceu na linhagem dos Alarici, pois reinos muitas vezes chegam a um fim em reis que sustentam o mesmo nome daqueles do início. Por enquanto, abandonemos esse assunto, e teçamos juntamente a completa história da origem dos godos, como prometido.

        ( Os godos divididos: Ostrogodos)
        [Nota marginal: Os ostrogodos e sua sujeição aos hunos]
        [Nota marginal: A morte de Hermanaric_ 375 ou 376 EC]

XLVIII_ Desde que eu tenho obedecido as histórias dos meus ancestrais e recontando de acordo com o melhor da minha habilidade a narração do período quando ambas as tribos, ostrogodos e visigodos, eram unidas, e então claramente tratei os visigodos separados dos ostrogodos, devo agora retornar para aquela antiga moradia Cítian e demonstrar a origem e feitos dos ostrogodos.

Parece que na morte de seu rei, Hermanaric, eles fizeram uma separação do povo pela partida dos visigodos, e ficaram em seu país sujeitos ao poder dos hunos; ainda Vinitharius dos amali reteve a insígnia de sua autoridade. Ele rivalizou em valor seu avô Vultuulf, embora ele não tivesse a boa fortuna de Hermanaric. Mas, desagradando-se de estar sob domínio dos hunos, ele retirou uma pequena quantidade deles e esforçou-se em mostrar sua coragem movendo suas forças contra o país dos Antes.

Quando ele atacou-os, abateu-os no primeiro encontro. Consequentemente ele mostrou-se valente e, como terrível exemplo, crucificou seu rei, chamado Boz, junto com seus filhos e setenta nobres, e largou seus corpos suspensos lá, para amedrontamento dobrado daqueles que renderam-se. Quando ele tinha dominado com semelhante liberdade por apenas um ano, Balamber, rei dos hunos, não sofreu isso por muito tempo, mas enviou, pois, Gesimund, filho de Hunimund o grande. Gesimund, junto com grande parte dos godos, ficaram sob o domínio dos hunos, sendo diligente em seu juramento de fidelidade. Balamber renovou sua aliança com ele e conduziu seu exército contra Vinitharius. Depois de longa competição, Vinitharius prevaleceu no primeiro e segundo conflitos, nem poderia alguém dizer como ele fez tal enorme massacre ao exército dos hunos. Mas na terceira batalha, quando eles encontraram-se inesperadamente no rio chamado Erac, Balamber lançou uma flecha e feriu Vinitharius na cabeça, e desta forma ele morreu. Então Balamber tomou para si em casamento Vadamerca, a neta de Vinitharius, e finalmente dominou todo o povo dos godos como seus pacíficos sujeitados, mas de semelhante forma um rei de seu próprio número sempre retiveram o poder sobre a raça gótica, apesar de sujeito aos hunos.

        [Nota marginal: Rei Hunimund]
        [Nota marginal: Rei Thorismud assassinado_ 404 EC]

E mais tarde, depois da morte de Vinitharius, Hunimund governou-os, o filho de Hermanaric, um poderoso rei de antigamente; um homem cruel na guerra e de uma notável beleza pessoal, que posteriormente lutou com sucesso contra a raça dos Suavi. E quando ele morreu, seu filho Thorismud sucedeu-o, na mais nova flor da juventude. No segundo ano de seu reinado, moveu um exército contra os gepidae e obteve uma grande vitória sobre eles, mas se diz ter morrido por cair do seu cavalo. Quando ele morreu, os ostrogodos enlutaram-se por ele tão profundamente que por quarenta anos nenhum outro rei sucedeu seu lugar, e durante todo esse tempo eles tiveram sempre em seus lábios a narração de sua memória.

Com o passar do tempo, Valamir cresceu como homem de estado ***(grew to man's estate)*** . Ele era filho do primo de Thorismud, Vandalarius. Em relação a seu filho Beremud, como dissemos anteriormente, por último cresceu para desprezar a raça dos ostrogodos em razão da soberania dos hunos, e assim seguiu a tribo dos visigodos ao oeste do país, e esta descendeu de Veteric. Veteric também teve um filho, Eutharic, que desposou Amalasuentha, a filha de Theodoric, unindo assim novamente a descendência dos amali, que havia se dividido tempos antes. Eutharic gerou Athalaric e Mathesuentha. Mas, visto que Athallaric morreu nos anos de sua infância, Mathesuentha foi tomada para Constantinopla por seu segundo marido, chamado Germanus, um parente do imperador Justiniano, e gerou, antes de morrer, um filho, ao qual ela chamou Germanus.

        [Nota marginal: Rei Valamir_ 445? EC]

Mas esta ordem que tomamos para nossa história talvez fuja do curso devido; precisamos voltar à descendência de Vandalarius, que gerou posteriormente três ramos. Este Vandalarius, o filho de um irmão de Hermanaric e parente do supramencionado Thorismud, gabou-se entre a raça dos amali por ter gerado três filhos, Valamir, Thiudimer e Vidimer. Este Valamir ascendeu ao trono após seus parentes, apesar dos hunos ainda segurarem o poder sobre os godos em geral, [assim] como entre outras nações. Isso foi agradável de se observar, a concordância destes três irmãos; pois o admirável Thiudimer serviu como um soldado para o império de seu irmão Valamir, e Valamir ofereceu-lhe honras enquanto Vidimer foi ávido de servir ambos. Desta forma, respeitando um ao outro com afeição em comum, ninguém ficou privado do reino que dois deles governaram em mútua paz. Ainda, como foi frequentemente dito, eles reinaram por igual de um modo que respeitou o domínio de Átila, rei dos hunos. Realmente eles não puderam recusar-se a lutar contra seus parentes, os visigodos, e eles até cometeriam um parricídio pelo comando de seu senhor. Não havia como alguma tribo Cítian ter sido arrancada do poder dos hunos, exceto pela morte de Átila_ um evento que tanto os romanos como todas as outras nações desejavam. Já sua morte foi tão vil quanto sua vida foi maravilhosa.

        [Nota marginal: Morte de Átila_ 453 EC]

XLIX_ Imediatamente antes dele morrer, como relata o historiador Priscus, havia tomado em casamento uma belíssima garota chamada Ildico, depois [também] outras incontáveis esposas, como era o costume de sua raça. Ele se deu a excessivos prazeres em seu casamento, e enquanto ele deitou-se de costas, pesado de vinho e sono, um corrimento de excessivo sangue, que geralmente havia escorria de seu nariz, jorrou em mortífero curso por sua garganta e matou-o, visto que isso impediu as usuais passagens. Embebido desta forma teve desgraçado fim um renomado rei na guerra.

Ao prosseguir do dia, quando grande parte da manhã havia se passado, os serviçais reais suspeitaram de alguma desgraça e, depois de um grande ruído, romperam as portas. Lá eles encontraram a condenação de Átila efetuada pela efusão de sangue, sem qualquer respiração, e a garota com a face abatida chorando debaixo do véu. Então como é o costume daquela raça, eles arrancaram o cabelo de suas cabeças e fizeram suas faces horríveis com profundos ferimentos, que o renomado valente guerreiro faz no luto, não por efeminados choramingos e lágrimas, mas pelo sangue de homens.

Ademais uma impressionante coisa tomou lugar em conexão com a morte de Átila. Em um sonho algum deus se pôs ao lado de Marcian, imperador do Oriente, enquanto ele estava preocupado a respeito de seu cruel inimigo, e mostrou-lhe o arco de Átila quebrado naquela mesma noite, como se no íntimo aquela raça dos hunos devesse muito para aquela arma. Esta descrição do historiador Priscus diz que ele aceitou a evidência por verdadeira. Tão terrível foi Átila pensar em grandes impérios que os deuses anunciaram sua morte aos governantes como um bênção especial.

Nós não omitiremos dizer umas curtas palavras sobre os muitos modos em que seu spectro foi honrado por sua raça. Seu corpo foi colocado em meio a uma planície e estendido em cerimônia numa tenda de seda como uma visão para admiração dos homens. O melhor cavaleiro da inteira tribo dos hunos cavalgou em volta em círculos, depois à maneira de jogos de circo, no lugar em que ele tinha sido trazido e falou de seus feitos numa lamentação funerária da maneira que se segue:

"O chefe dos hunos, Rei Átila, nascido de seu pai Mundiuch, senhor de valentes tribos, dono único dos reinos da Cítia e Germânia_ poderes antes desconhecidos_ capturou cidades e aterrorizou ambos os impérios do mundo romano e, aplacado por suas rezas, tomou tributo anual para poupar o resto da riqueza. E quando ele tinha feito tudo isso pelo favor da fortuna, caiu, não por mão inimiga, nem pela traição de amigos, mas em meio à sua nação em paz, feliz em seu contentamento, e livre de pânico. Quem pode repreender [algo] como a morte, quando ninguém acreditar nisso, convidar para vingança?"

Quando eles se enlutaram por ele com semelhantes lamentações, um "strava", como eles chamam isso, foi celebrado sobre sua tumba com grande gozo. Eles se encaminharam nos extremos dos sentimentos e mostraram pesar funerário alternando com alegria. Então, na discrição da noite eles enterraram seu corpo em terra. Ataram seus caixões, o primeiro com ouro, o segundo com prata e o terceiro com a resistência do ferro, mostrando por semelhantes meios que estas três coisas satisfizeram os poderosos reinos; ferro porque ele subjugou as nações, ouro e prata porque recebeu as honras de ambos os impérios.

Eles além disso acrescentaram as armas do inimigo obtidas em combate, enfeites de surpreendente valor, cintilando com várias gemas, e ornamentos de toda sorte através do qual se mantém a nobreza. E por tão grandes riquezas talvez atiçarem a curiosidade humana, eles mataram aqueles escolhidos para o trabalho_ um terrível pagamento por seu labor; e então repentina morte foi o destino daqueles que enterraram-no, à medida que eles eram enterrados. ***(and thus sudden death was the lot of those who buried him as well as of him who was buried.)***

        [Nota marginal: Desintegração do reino dos hunos_ 454 EC]
        [Nota marginal: Batalha de Nedao_ 454 EC]

L_ Depois de terem concluído estes ritos, uma concorrência pelo alto posto levantou-se entre os sucessores de Átila_ em razão da mente dos homens jovens estarem costumeiramente inflamadas de ambição pelo poder_ e, em seu precipitado ímpeto pelo governo eles igualmente destruíram seu império. Então reinos são frequentemente derrubados mais por um [motivo] supérfluo do que por falta de sucessores. Os filhos de Átila, que através da licenciosidade do seu desejo formou quase uma população destes, foram vociferar que as nações seriam divididas entre eles igualmente e que reis guerreiros com seus povos seriam partilhados entre eles por sortes, como uma propriedade de família.

Quando Ardaric, rei dos gepidae, soube disso, ele veio enfurecido por tantas nações terem sido tratadas assim como escravos de baixa condição, e foi o primeiro a ir contra os filhos de Átila. Boa fortuna cuidou dele, e ele apagou a desgraça da servidão que descansava sobre ele. Por sua revolta ele libertou não somente sua própria tribo, mas todas as outras que eram igualmente oprimidas; desde então todas com prazer esforçaram-se nesse fim, que é perseguido por geral vantagem. Eles tomaram armas contra a destruição que ameaçava a todos e tiveram batalha contra os hunos na Pannonia, próximo ao rio chamado Nedao.

Ali um encontro tomou lugar entre várias nações que Átila tinha segurado sob seu poder. Reinos com seus povos estavam divididos, e longe de um corpo, eram muitos membros não respondendo a um comum impulso. Sendo privados de seu cabeça, eles loucamente investiram uns contra os outros. Eles nunca encontraram seus iguais avançando contra eles sem danificar um ao outro por ferimentos mutuamente desferidos. E assim tão bravas nações rasgaram-se em pedaços. Para então, penso, haver o mais extraordinário espetáculo, onde talvez alguém viu os godos lutando com lanças, os gepidae enfurecidos com espadas, os rugi rompendo as lanças em seus próprios ferimentos, os suavi lutando à pé, os hunos com arco-e-flecha, os alani avançando numa linha de batalha de tropa pesada ***( heavy-armed)*** e os heruli com infantaria leve.

Finalmente, depois de amargos conflitos, a vitória veio inesperadamente aos gepidae. Pela espada e conspiração de Ardaric se destruiu quase trinta mil homens, dos hunos bem como daqueles de outras nações que prestavam-lhes auxílio. Nesta batalha pereceu Ellac, o filho primogênito de Átila, de quem se diz que seu pai lhe teve amor muito mais do que todos os outros, a quem ele preferia do que qualquer criança ou até mais do que todas as crianças do seu reino. Mas a fortuna não esteve de acordo com o desejo de seu pai. Depois de matar muitos do inimigo, pareceu que ele encontrou sua morte tão bravamente que, se seu pai estivesse vivo, teria regozijado com seu glorioso fim. Quando Ellac foi morto, seus irmãos foram pôrem-se em fuga próximos à margem do Mar do Ponto, onde dissemos que os godos fixaram-se primeiro. Então fizeram os hunos se distanciarem, uma raça a quem os homens acreditaram que o mundo inteiro se renderia. Tão venenosa é a divisão, da qual eles usaram para inspirar terror quando suas forças estavam unidas, causou seu fim separadamente. A causa de Ardaric, rei dos gepidae, foi sucesso para várias nações que foram submetidos contra a vontade ao domínio dos hunos, pelo melhoramento de ânimo de seus espíritos por muito tempo abatidos, agora satisfeitos com esperança de liberdade.

Muitos enviaram embaixadores ao território romano, onde eles foram mais bondosamente recebidos por Marcian, que era o imperador de então, e receberam moradias que lhes eram destinadas para aí morar. Mas os gepidae por sua própria coragem obtiveram sozinhos o território dos hunos e governaram como vitoriosos sobre a extensão de toda a Dácia, exigindo do império romano nada mais do que paz e um anual presente como promessa de sua amistosa aliança. Isso o imperador espontaneamente garantiu naquele tempo, e atualmente aquela raça recebe seu costumeiros presentes do império romano.

        [Nota marginal: Jordanes]

Ora, quando os godos verificaram [que] os gepidae defendiam por si mesmos o território dos hunos e o povo dos hunos habitando novamente suas antigas moradias, eles preferiram questionar por terras do império romano do que invadir territórios dos outros com perigo para si mesmos. Portanto receberam Pannonia, que estira-se numa longa planície, sendo limitada ao leste pela Moesia Superior, ao sul pela Dalmácia, a oeste pelo Noricum e ao norte pelo Danúbio. Esta terra é adornada com muitas cidades, sendo a primeira Sirmium e a última, Vindobona. Mas o Sauromatae, que nós chamamos Sarmatians, e os Cemandri e certos dos hunos residiam em Castra Martis, uma cidade deles na região do Illyricum. Desta raça era Blivila, duque de Pentápolis, e seu irmão Froila e também Bessa, um Patrício em nosso tempo.

Os Sciri, ademais, e os Sadagarii e certos dos alani com seu líder, de nome Candac, receberam a Cítia Menor e a Baixa Moesia. Paria, o pai de meu pai Alanoviiamuth (que por assim dizer, é meu avô), foi secretário deste Candac enquanto ele viveu. Para o filho de sua irmã Gunthigis, também chamado Baza, o Mestre das Tropas, que foi descendente da linhagem dos amali, eu também, Jordanes, embora um homem iletrado antes da minha conversão, fui secretário.

Os Rugi, de qualquer forma, e algumas outras raças perguntaram se poderiam habitar Bizye e Arcadiópolis. Hernac, o jovem filho de Átila, com os que o seguiam, escolheram um lar na mais distante parte da Pequena Cítia. Emnetzur e Ultzindur, parentes seus, obtiveram Oescus, Utus e Almus, na Dácia à margem do Danúbio, e muitos dos hunos, então pululando em todo lugar, dirigiram-se à Romania, e se diz que deles descenderam os atuais Sacromontisi e os Fossatisii.

        [Nota marginal: Bispo Ulfilas _ cerca de 311-381 EC]
        [Nota marginal: Os godos Lesser]

LI_ Há outros godos também, chamados Lesser, um grande povo de quem sacerdote e arcebispo foi Vulfila, que se diz [que] os ensinou a escrever. E hoje eles estão na Moesia, habitando a região Nicopolitana à medida que se distancia da base do Monte Haemus. Eles são um numeroso povo, porém pobres e despreparados para a guerra, não são fartos de nenhum tipo de manada, terra de pastagem para o gado ou florestas para madeira. Seu país não é fértil em trigo nem outras espécies de grão. Certos deles não sabem que exista vinhedos em outro lugar, e eles compram seu vinho de países vizinhos. Mas a maioria deles bebe leite.

        [Nota marginal: Os ostrogodos na Pannonia]
        [Nota marginal: Nascimento de Teodorico o grande_ 454 EC]

LII_ Permita-nos agora retornar para a tribo com a qual nós começamos, ou seja, os ostrogodos, que eram residentes na Pannonia sob seu rei Valamir e seus irmãos Thiudimer e Vidimer. Embora seus territórios fossem separados, suas planícies era unidas. Pois Valamir morou entre os rios Scarniunga e Aqua Nigra, Thiudimer [ficava próximo] do Lago Pelso e Vidimer entre ambos. Visto que isso aconteceu aos filhos de Átila, vendo os godos como desertores de seu domínio, vieram contra eles acreditando estarem perseguindo escravos fugitivos, e atacaram Valamir sozinho, quando seus irmãos não sabiam de nada disso.

Ele sustentou seu ataque, apesar de ter somente poucos apoiadores, e depois de perturbá-los por muito tempo, absolutamente decididos, eles com dificuldade abateram alguma parte do inimigo. O restante voltou em fuga e procuraram as partes da Cítia à margem do rio Danaper, que os hunos chamam em seu idioma, Var. Por isso ele enviou um mensageiro de boas notícias ao seu irmão Thiudimer, e muitos dias [depois] o mensageiro chegou, ele encontrou até grande prazer na casa de Thiudimer. Naquele mesmo dia seu filho Theodoric nasceu, da concubina Erelieva sem dúvida, e ainda uma criança de boa esperança.

        [Nota marginal: Este jovem diverte-se em Constantinopla_ início de 461 EC]

Ora, depois de não muito tempo o rei Valamir e seus irmãos Thiudimer e Vidimer enviaram um embaixador ao imperador Marcian, em razão dos usuais presentes que recebiam como um presente de ano novo do imperador para preservar o pacto de paz, estarem demorando em chegar. E descobriram que Theodorico, filho de Triarius, um homem também de sangue gótico, mas nascido de outra descendência, não dos amali, estava em grande favor, junto com os que o seguiam. Ele foi aliado em amizade com os romanos e obteve um prêmio anual, enquanto eles mesmos eram tidos com desdém.

Por isso eles foram animar seu furor e tomaram armas. Percorreram quase todo o Ilyricum e puseram-no em destruição em sua busca por saque. Então o imperador rapidamente mudou seu pensamento e voltou ao seu anterior modo de amizade. Enviou um embaixador para dar-lhes os presentes anteriores, antes por bem agora como dívida, e fora isso prometeu dar aqueles presentes no futuro sem discutir.

Dos godos os romanos receberam como um refém de paz Theodorico, a jovem criança de Thiudimer, que nós mencionamos anteriormente. Ele tinha agora chegado à idade de sete anos e estava entrando no oitavo. Enquanto seu pai hesitou em dá-lo, seu tio Valamir suplicou-lhe para fazer isso, tendo a esperança de que a paz entre romanos e godos talvez assim seria assegurada. Então Theodorico foi dado como refém pelos godos e foi trazido à cidade de Constantinopla ao imperador Leão e, sendo uma bela criança, ganhou merecidamente o favor imperial.

        [Nota marginal: Os godos devastam o restante dos hunos]

LIII_ Depois da paz ser estabelecida entre godos e romanos, os godos julgaram que as propriedades que tinham recebido do imperador não eram suficientes para si. Portanto eles foram ansiosos exibir costumeiro valor, e começaram a pilhar as raças vizinhas ao redor, atacando primeiro os Sadagis que estavam no interior da Pannonia.

Quando Dintzic, rei dos hunos, um filho de Átila, soube disso, reuniu uns poucos que ainda pareciam ficar sob seu poder, ou seja, os Ultzinzures, os Angisciri, os Bittugures e os Bardores. Vindo para Bassiana, uma cidade da Pannonia, ele cercou-a e começou a pilhar seu território. Então os godos logo abandonaram a expedição que tinham planejado contra os Sadagis, voltaram contra os hunos e os dirigiram tão ingloriosamente à sua própria terra que aqueles que sobraram ficaram desde aquele tempo até hoje aterrorizados com as armas dos godos.

        [Nota marginal: Conquista dos Suavi]
        [Nota marginal: Plano de Hunimund_ cerca de 470 EC]

Quando a tribo dos hunos foi finalmente submetida aos godos, Hunimund, líder dos Suavi, atravessou novamente para saquear a Dalmácia, carregou algum gado dos godos que estavam novamente estabelecidos nas planícies; pois a Dalmácia estava próxima [à] Suavia e não distante do território da Pannonia, especialmente aquela parte onde os godos estavam então fixados. Então, como Hunimund estava retornando com os Suavi ao seu próprio país, depois de terem devastado a Dalmácia, Thiudimer, o irmão de Valamir, rei dos godos, ficou vigiando sua linha em marcha. Não que ele sentisse terrível pesar pela perda do seu gado, mas temeu que se os Suavi obtivessem seu saque com impunidade, procederiam em maiores rebeldias.

Então, no fim da noite, enquanto estavam adormecidos, ele fez contra eles um inesperado ataque, próximo ao Lago Pelso. Aqui ele esmagou-os tão completamente que tomou cativos e enviou à escravidão sob os godos até Hunimund, seu rei, e todo o seu exército que escapou da espada. Como ele era um amante da clemência, garantiu perdão depois de tomar vingança e se reconciliou com os Suavi. Ele adotou como seu filho o mesmo homem que ele havia tomado cativo, e enviou-lhe de volta com os que o seguiam na Suavia.

Mas Hunimund esqueceu-se da bondade de seu pai adotivo. Depois de algum tempo levou adiante um plano que havia tramado e estimulou a tribo dos Sciri, que então habitava acima do Danúbio e permaneciam pacificamente com os godos. Então os Sciri quebraram sua aliança com eles, tomaram armas, unindo-se a Hunimund e partiram para atacar a raça dos godos. Desta forma a guerra veio sobre os godos que não estavam na expectativa de perversidade, pois contavam ambos os vizinhos como amigos. Compelidos pela necessidade, tomaram armas e vingaram a si e suas injurias pelo recurso da guerra.

Nesta batalha, como o rei Valamir passou a cavalo antes da linha para encorajar seus homens, o cavalo foi ferido e caiu, causando a queda de seu cavaleiro. Valamir foi rapidamente penetrado pelas lanças de seus inimigos e morreu. Em razão disso os godos prosseguiram em exigir vingança pela morte de seu rei, bem como também pela injúria que lhes foi feita pelos rebeldes. Eles lutaram de tal modo que, daqueles que sobraram da raça dos Sciri, somente alguns sustentam o nome, e estes com desgraça. Assim foram todos destruídos.

        [Nota marginal: Sucessos dos godos sob Hiudimer_ cerca de 470 EC]

LIV_ Os reis [dos Suavi], Hunimund e Alarico, temeram a destruição daqueles que tinham vindo pelos Sciri, depois de fazerem guerra contra os godos, contando com o apoio dos Sarmations, que tinham vindo auxiliá-los com seus reis Beuca e Babai. Eles reuniram os últimos remanescentes dos Sciri, com Edica e Hunuulf, seus líderes, acreditando que eles lutariam o mais desesperadamente para vingarem-se. Eles tinham ao seu lado os gepidae também, bem como não pequenos reforços da raça dos rugi e dos outros que reuniram daqui e dali. Subsequentemente eles trouxeram juntos uma grande hoste do rio Bolia, na Pannonia e acamparam lá.

Já quando Valamir foi morto, os godos correram para Thiudimer, seu irmão. Embora ele tivesse por longo tempo governado com seus irmãos, ele ainda tomou a insígnia de sua aumentada autoridade e chamou seu jovem irmão Vidimer e dividiu com ele os cuidados da guerra, recorrendo às armas sob compulsão. Uma batalha foi disputada e o destacamento dos godos encontrou-se tão poderoso que a planície foi banhada em sangue de seus adversários caídos e pareceu-se com um mar carmesim. Armas e cadáveres, amontoaram como uma colina, cobrindo a planície por mais de dez milhas.

Quando os godos viram isso, regozijaram com inexprimível prazer, pois mediante este grande massacre dos seus inimigos eles vingaram o sangue de Valamir, seu rei, e a injúria feita contra eles. Mas aqueles da inumerável e variada multidão de inimigos que foram capazes de escapar, apesar de serem recebidos em outro lugar, todavia vieram para sua própria terra com dificuldade e sem glória.

        [Nota marginal: Thiudimer novamente luta contra os Suavi]
        [Nota marginal: Teodorico enviado de volta ao seu próprio povo_ 472 EC]
        [Nota marginal: Captura de Belgrado]

LV_ Depois de um certo tempo, quando o inverno frio foi ***(at hand)*** , o rio Danúbio ficou congelado mais que o usual. Pois um rio tão poderoso como estes suportou, como uma rocha sólida, um exército de infantaria e vagões e carroças e todos aqueles veículos que existam_ nem é lá necessário os esquifes e barcos. Então, quando Thiudimer, rei dos godos, viu que este estava congelado, atravessou seu exército pelo Danúbio e apareceu inesperadamente aos Suavi pelas costas.

Agora este país dos Suavi tem ao leste os Baiovari, no leste os francos, no sul os burgúndios e ao norte os Thuringians. Com os Suavi estavam presentes os alamanni, então seus confederados, que também governavam os Alpinos superiores, de onde vários rios fluem para o Danúbio, jorrando com grande ruído.

Em um lugar assim fortificado o rei Thiudimer dirigiu seu exército no inverno e conquistou, saqueou e quase subjugou a raça dos Suavi bem como a dos alamanni, que eram mutuamente unidos. Dali ele retornou vitorioso para seu próprio lar na Pannonia e recebeu alegremente seu filho Theodorico, dado uma vez como refém para Constantinopla e agora enviado de volta pelo imperador Leão com grandes presentes.

Ora, Teodorico tinha se tornado homem formado, pois ele tinha dezoito anos de idade e sua infância havia terminado. Então ele chamou certos dos partidários do seu pai e tomou para si mesmos dentre o povo seus amigos e empregados_ quase seis mil homens. Com estes ele atravessou o Danúbio, sem o conhecimento de seu pai, e marchou contra Babai, rei dos sarmatians, que tinham justamente obtido uma vitória sobre Camundus, um general dos romanos, e foi dominado por insolente orgulho. Theodorico veio contra ele e matou-o e, tomando como presa seus escravos e tesouro, retornaram vitorioso ao seu pai. Depois ele invadiu a cidade de Singidunum, que os próprios Sarmatians haviam dominado, e não a retornou aos romanos, mas reduziu-a ao seu próprio poder.

        [Nota marginal: Vidimer, o jovem, vai para a Gália_ 473 EC]

LVI_ Portanto como o espólio tomado de uma e outra das tribos vizinhas reduziu, os godos começaram a carecer de comida e roupa, e a paz tornou-se desagradável a homens a quem a guerra havia fornecido por muito tempo as necessidades da vida. Então todos os godos aproximaram-se de seu rei Thiudimer e, com grande clamor, pediram-lhe para liderar adiante seu exército em qualquer direção que ele talvez desejasse. Ele chamou seu irmão e, depois lançando sortes, ofereceu-lhe ir ao país da Itália, onde naquele tempo Glycerius dominava como imperador, dizendo que ele mesmo, como o poderoso, iria ao leste contra o poderoso império. E então foi feito.

Por causa disso Vidimer entrou no território da Itália, mas em pouco tempo pagou o último débito do destino e partiu dos assuntos terrenos, deixando seu filho e homônimo Vidimer para sucedê-lo. O imperador Glycerius concedeu presentes para Vidimer e persuadiu-o a ir da Itália para a Gália, que era então molestada por todos os lados por várias raças, dizendo que seus próprios parentes, os visigodos, governavam um reino vizinho. E o que mais? Vidimer aceitou os presentes e, obedecendo o comando do imperador Glycerius, apressou-se para a Gália. Unindo-se aos seus parentes, os visigodos, eles novamente formaram um corpo, como eles tinham sido há muito tempo atrás. Então eles obtiveram a Gália e a Espanha por seu próprio poder e então defenderam-na afim de que nenhuma outra raça obtivesse o domínio lá.

        [Nota marginal: Thiudimer na Macedônia]

Já Thiudimer, o irmão primogênito, atravessou o rio Savus com seus homens, ameaçando os Sarmatians e seus soldados com guerra se alguém lhes resistissem. De medo disso eles permaneceram quietos; ademais eles foram impotentes na face de tão grande hoste. Thiudimer, vendo prosperidade em todo lugar o esperando, invadiu Nassus, a primeira cidade do Iliricum. Ele ficou unido por seu filho Theodorico e a Counts Astat e Invilia, e enviou-o para Ulpiana pelo caminho do Castrum Herculis. Sob sua chegada a cidade rendeu-se, como fez Stobi mais tarde; e muitos lugares do Illyricum, inacessível para eles antes, tinham então feito fácil acesso.

Eles primeiro pilharam e então governaram pelo direito da guerra Heraclea e Larissa, cidades da Tessália. Mas Thiudimer, o rei, vendo sua boa fortuna e a do próprio filho, não se contentou com apenas isso, mas saiu da cidade de Naissus, deixando para trás uns poucos guardas. Ele mesmo avançou para Tessalônica, onde Hilarianus, o Patrício, nomeado pelo imperador, ficou estacionado com seu exército.

Quando Hilarianus observou Tessalônica cercada do entrincheiramento e entendeu que não poderia resistir ao ataque, enviou um embaixador ao rei Thiudimer e pela oferta de presentes parou de arrasar a cidade. Então o general romano entrou numa trégua com os godos e por seu próprio acordo deu-lhes aqueles lugares que eles habitaram, ou seja, Cyrrhus, Pella, Europus, Methone, Pydna, Beroea, e outra que é chamada Dium. Então os godos e seu rei baixaram armas, consentindo com a paz, e se tornaram tranquilos. Logo depois desses eventos, o rei Thiudimer foi agarrado por uma mortal enfermidade na cidade de Cyrrhus. Ele chamou a si os godos, nomeou Teodorico, seu filho, como herdeiro do seu reino e neste instante foi apartado desta vida.

        [Nota marginal: Zenon_ 491 EC]
        [Nota marginal: Teodorico, o grande_ 526 EC]
        [Nota marginal: Teodorico honrado por Zenon_ 528 EC]

LVII_ Quando o imperador Zenon ouviu que Teodorico tinha sido nomeado rei sobre todo seu povo, recebeu a notícia com satisfação e convidou-o a vir e visitá-lo na cidade, nomeando uma escolta de honra. Recebendo Teodorico com todo o devido respeito, instalou-o entre os príncipes do seu palácio. Depois de algum tempo Zenon aumentou sua dignidade por adotá-lo como seu "filho de armas" e deu-lhe um triunfo na cidade por seu custo. Teodorico foi feito Cônsul Ordinário também, que é bem conhecido por ser a suprema bondade e altíssima honra no mundo. Nem foi tudo, pois Zenon colocou no palácio real uma estátua equestre para glória deste grande homem.

        [Nota marginal: Perguntas do império feitas ao seu governante]
        [Nota marginal: Teodorico dirigi-se para a Itália_ 488 EC]

Enquanto Teodorico estava em aliança pelo trato com o império de Zenon e estava se divertindo muito aconchegado na cidade, escutou que sua tribo, residindo como dissemos, no Illyricum, não estava totalmente satisfeita. Então ele escolheu procurar uma habitação por seus próprios esforços, depois da maneira costumeira para sua raça, ao invés de aproveitar as vantagens do império romano em sossegada luxúria enquanto sua tribo vivia precariamente. Após refletir esses assuntos, ele disse ao imperador:

"Apesar [de não sofrer] carência em nada estando a serviço do seu império, ainda se Vossa Piedade se dignar disso, seja do seu agrado ouvir o pedido do meu coração."

E quando, como de costume, lhe havia sido dada permissão de se expressar livremente, ele disse:

"O país do Ocidente, há tempos atrás governado pela autoridade dos seus ancestrais e predecessores, e aquela cidade que foi a cabeça e senhora do mundo_ para quê ela é agora agitada pela tirania dos Torcilingi e os Rugi? Envie-me para lá com minha raça. Desta forma se apenas disseres a palavra, talvez você seja liberado da carga de despesa aqui, e, se pela ajuda do Senhor eu a conquistar, a fama de Sua Piedade será gloriosa lá.

Por isso seria melhor que eu, seu servo e filho, governasse aquele reino, recebendo como um presente seu se eu a conquistar, antes que aquele um que não [te] reconhece, oprimir seu senado com sua carga tirânica e uma parte da república com escravidão. Pois se eu prevalecer, reterei-a como uma concessão e presente; se a conquistar, Sua Piedade não perderá nada_ além disso, como havia dito, isso o salvará do custo [do que] eu [receberia] agora como herança."

Embora o imperador tenha sofrido porque ele iria, ainda quando ouviu isso, permitiu o que Teodorico pediu, pois ele ficou sem ter como negar por causa da aflição dele. Enviou-o adiante enriquecido por grandes presentes e glorificado por sua carga pelo senado e o povo romano.

        [Nota marginal: Ele conquista Odoacro e o mata_ 493 EC]

Então Teodorico apartou-se da cidade real e retornou ao seu próprio povo. Em companhia de toda tribo dos godos, que deram-lhe seu unânime consentimento, ele dirigiu-se para Hesperia. Viajou em marcha diretamente através de Sirmium para os lugares fronteiriços com a Pannonia e, avançando para o território de Venetia conforme distancia-se da ponte de Sontius, acampou ali.

Quando ele parou ali por algum tempo para o descanso dos corpos de seus homens e os rebanhos de animais, Odoacro enviou uma força armada contra ele, que encontrava-se nas planícies de Verona, [mas Teodorico] destruiu-os com grande massacre. Então ele levantou acampamento e avançou através da Itália com grande coragem. Atravessando o rio Pó, acampou próximo à cidade real de Ravena, sobre o terceiro miliário desde a Cidade, num lugar chamado Pineta.

Quando Odoacro viu isso, fortificou-se dentro da cidade. Ele frequentemente molestou o exército dos godos à noite, saindo adiante secretamente com seus homens, e assim não uma ou duas vezes, mas frequentemente; desta forma ele lutou por quase três anos inteiros. Mas esforçou-se em vão, pois toda a Itália por fim considerou Teodorico seu senhor e o império obedecia seu comando.

Mas Odoacro, com os poucos que ainda aderiam a ele e os romanos que lhe eram favoráveis, sofreram diariamente guerra e fome em Ravena. [Finalmente], enviou embaixadores e implorou por sua misericórdia. Teodorico primeiro garantiu-lhe isso, depois privou-lhe a vida.

        [Nota marginal: Teodorico funda o reino ostrogodo na Itália_ 493 EC]

Isso foi no terceiro ano depois de ter entrado na Itália, como já dissemos, que Teodorico, pelo conselho do imperador Zenon, colocou à parte a vestimenta de cidadão privado e as vestimentas de sua raça e assumiu um traje com um manto real, pois ele tinha agora se tornado governante tanto sobre Godos como romanos. Ele enviou um embaixador para Lodoin, rei dos francos, e perguntou-lhe por sua filha Audefleda em casamento. Lodoin, espontaneamente e alegremente deu-a [para casarem-se], e também [para casarem-se com as filhas de Teodorico?] seus filhos Celdebert e Heldebert e Thiudebert, crendo que por tais alianças uma confederação seria formada e que eles se associariam com a raça dos godos. Mas aquela união não beneficiou a paz e a harmonia, pois eles lutaram ferozmente entre si novamente e novamente pelas terras dos godos; mas os godos nunca recuaram aos francos enquanto Teodorico viveu.

        [Nota marginal: Sobre o aumento de seu poder]
        [Nota marginal: Amalarico_ 507-531 EC]

LVIII_ Mas antes dele ter de Audefleda uma criança, Teodorico teve crianças de uma concubina, filhas geradas na Moesia, uma chamada Thiudigoto e outra Ostrogotho. Pouco depois dele vir à Itália, ele deu-as em casamento aos reis vizinhos, uma para Alarico, rei dos visigodos, e a outra para Sigismund, rei dos burgúndios.

Já Alarico gerou Amalarico. Enquanto seu avô Teodorico preocupou-se em protegê-lo_ pois ele tinha perdido ambos os pais na infância_ descobriu que Eutharic, o filho de Veteric, neto de Beremud e Thorismud, e um descendente da raça dos amali, estava vivendo na Espanha, um jovem homem de grande inteligência, valor e saúde do corpo.

Teodorico enviou-lhe e deu-lhe sua filha Amalasuentha em casamento. E por ele, talvez, ter extendido sua família, como muito provavelmente foi, enviou-lhe sua irmã Amalafrida (a mãe de Theodahad, que posteriormente tornou-se rei) para África como esposa para Thrasamund, rei dos vândalos, e sua filha Amalaberga, que foi sua própria sobrinha, ele uniu com Herminefred, rei dos thuringios.

Ele enviou-lhe Count Pitza, escolhido dentre os principais homens de seu reino, para possuir a cidade de Sirmium. Ele tomou posse dela tirando-a de seu rei Thrasaric, filho de Thraustila, e levou sua mãe cativa. Por isso ele veio com dois mil [soldados de] infantaria e quinhentos cavaleiros para apoiar Mundo contra Sabinian, Senhor das Tropas do Illyricum, que naquele tempo tinha feito preparativos para lutar com Mundo próximo da cidade chamada Margoplanum, situado entre os rios Danúbio e Margus, e destruiu o exército do Illyricum.

Pois este Mundo, que traçou sua origem desde Attilani o velho, tinha proposto a fuga para a tribo dos gepidae e foram perambular além do Danúbio em lugares vazios sem homens que cultivassem o solo. Ele reuniu em torno de si ilegais, brigões e ladrões de todos os lados e capturou uma torre chamada Herta, situada à margem do Danúbio. Ali ele saqueou seus vizinhos em licensiosidade selvagem e se fez rei sobre seus vadios.

Ora, Pitza veio [a favor] dele quando estava próximo de ser reduzido ao desespero e já estava pensando em rendição. Então ele resgatou-o de Sabinian e o fez um agradecido servo de seu rei Teodorico.

        [Nota marginal: Thiudis_ 531-548 EC]
        [Nota marginal: Thiudigisclus_ 548-549 EC]
        [Nota marginal: Agil_ 549-554 EC]
        [Nota marginal: Athanagild_ 554-567 EC]

Teodorico obteve igualmente uma grande vitória sobre os francos através [de] Count Ibba na Gália, quando mais de trinta mil francos foram mortos em batalha. Ademais, depois da morte de seu genro Alarico, Teodorico nomeou Thiudis, seu ***[armor-bearer(?)]*** , guardião de seu neto Amalarico, na Espanha. Mas Amalarico foi enlaçado pelo complô dos francos na tenra juventude e perdeu de uma só vez seu reino e sua vida. Então seu guardião Thiudis, avançando do mesmo reino, assaltou os francos e livrou os espanhóis de sua maldita traição. Enquanto ele viveu, manteve os visigodos unidos. Depois dele, Thiudigisclus obteve o reino e, governando porém, um curto período, encontrou sua morte nas mãos dos próprios que o seguiam.

Ele foi sucedido por Agil, que possui o reino atualmente. Athanagild rebelou-se contra ele e está até agora provocando o poder do império romano. Então o Patrício Liberius está a caminho com exército para opor-se a ele. Ora, não houve tribo ao oeste que não tenha servido Teodorico enquanto este viveu, seja amigavelmente ou pela conquista.

        [Nota marginal: Teodorico, o grande, morre_ 526 EC]
        [Nota marginal: Rei Athalarico_ 526-534 EC]

LIX_ Quando ele alcançou a velhice e percebeu que logo seria apartado desta vida, chamou a si os condes e líderes godos e nomeou Athalarico como rei. Ele era um garoto de nem talvez dez anos de idade, o filho de sua filha Amalasuentha, e havia perdido seu pai, Eutharico. Como expressão de seu ultimo desejo e testamento, Teodorico intimou-o e mandou-o honrar seu rei, amar o senado e o povo romano e fazer óbvia a paz e boa vontade do imperador do Leste, [depois morreu].

        [Nota marginal: Amalasuentha]
        [Nota marginal: Theodahad_ 534-536 EC]
        [Nota marginal: 534 EC]

Eles cumpriram sua ordem completamente por muito tempo, enquanto Athalarico, seu rei e sua mãe viveram, e governou em paz por quase oito anos. Mas como os francos não punham confiança no governo de uma criança e, além disso, tinham-no em desprezo, e foram também organizar guerra, ele deu volta neles por aquelas partes da Gália que seu pai e o avô tinham dominado. Ele possuiu todo o resto em paz e sossego.

Então quando Athalarico estava se aproximando da idade adulta, ele confiou tanto a própria juventude quanto a enviuvada mãe. Mas em curto prazo o terrível destino do garoto foi trazido por uma precipitada morte e foi separado dos assuntos terrestres. Sua mãe temeu talvez ser desprezada pelos godos ao julgar a fraqueza do seu sexo. Então depois de muito pensar ela decidiu, por causa do parentesco, chamar seu primo Theohadad da Toscana ***[Tuscany]*** , onde ele conduzia uma vida retirada no lar, e assim ela estabeleceu-o no trono. Mas ele se esqueceu do seu parentesco e, depois de pouco tempo, tirou-a do palácio em Ravena para uma ilha do lago Bulsinian onde a exilou. Após passados pouquíssimos dias lá em aflição, ela foi estrangulada no banho por seus serviçais.

        [Nota marginal: Justiniano_ 527-565 EC]
        [Nota marginal: Justiniano envia Belisarius para vingar a morte de seus protegidos_ 534 EC]
        [Nota marginal: Vitigis rei_ 536-540 EC]

LX_ Quando Justiniano, o imperador do Leste, soube disso, foi sacudido como se sofresse uma injúria pessoal na morte de seus protegidos. Naquele tempo ele havia obtido um triunfo sobre os vândalos na África, através de seu mais fiél Patricio Belisarius. Sem demora ele enviou seu exército sob este líder contra os godos, quando seus exércitos ainda gotejavam o sangue dos vândalos.

Seu sagaz general acreditou não superar a nação gótica, a menos que ele primeiro agarrasse a Sicília, sua ***[nursing-mother]*** . Consequentemente foi isso que fez. Logo que ele entrou em Trinacria, os godos, que haviam sido assediados na torre de Siracusa, julgaram que não teriam sucesso e renderam-se de comum acordo para Belisarius, com seu líder Sinderith.

Quando o general romano alcançou a Sicília, Theodahad procurou Evermud, seu genro e enviou-o com um exército para proteger o estreito que fica entre Campania e Sicília e vasculhou duma curva do mar Tirrhenio até a vasta maré do Adriático. Quando Evermud chegou, ele ***[pitched]*** seu acampamento pela torre de Rhegium. Logo viu que seu lado era fraco. Indo de encontro com um pequeno grupo de fiéis seguidores ao lado do vitorioso, e sinceramente se colocando aos pés de Belisarius, decidiu por se submeter ao governo do império romano.

Quando o exército godo percebeu isso, suspeitaram de Theodahad e clamaram pela sua expulsão do reino e pela nomeação como rei seu líder, Vitiges, que tinha sido seu ***[porta-escudos? escudeiro?]*** . E assim foi feito; e atualmente Vitiges foi exaltado ao posto de rei das Planícies Bárbaras. Ele adentrou Roma e enviou para Ravena os mais fiéis homens para exigir a morte de Theodahad. Eles voltaram depois de executado seu comando. Depois de o rei Theodahad ser morto, um mensageiro veio ao rei_ pois ele já era rei nas Planícies Bárbaras_ para Proclamar Vitiges ao povo.

        [Nota marginal: Os ostrogodos sujeitados por Belisarius]
        [Nota marginal: Cerco de Roma_ 537-538 EC]
        [Nota marginal: Rendição de Vitiges_ 540 EC]
        [Nota marginal: Morte de Vitiges_ 542 EC]
        [Nota marginal: Mathesuenta desposa Germanus_ 542 EC]

Enquanto isso o exército romano atravessou o estreito e marchou em direção a Campania. Eles tomaram Nápoles e pressionou Roma. Ora, uns poucos dias antes deles chegarem, o rei Vitiges havia partido de Roma, chegado em Ravena e desposado Mathesuentha, a filha de Amalasuentha e neta de Teodorico, o rei anterior. Enquanto ele celebrava seu novo casamento e presidia a corte de Ravena, o exército imperial avançou contra Roma e atacou a fortaleza em ambas as partes da Tuscany. Quando Vitiges se informou disso através de mensageiros, enviou uma tropa sob Hunila, um líder dos godos, para Perusia, que estava cercada por eles.

Enquanto eles esforçavam-se num longo cerco para desalojar Count Magnus, que estava protegendo o lugar com uma pequena força, o exército romano lhe veio ao encontro, e eles mesmos dirigiram-se para outro lugar e totalmente exterminados. Quando Vitiges ouviu as notícias, enraiveceu-se como um leão e reuniu toda a multidão dos godos. Ele avançou de Ravena e molestou as muralhas de Roma com um longo cerco. Mas depois de quatorze meses sua coragem foi abatida e levantou o cerco da cidade de Roma e preparou-se para subjugar Ariminum. Ali ele ficou embaraçado da mesma maneira e colocou-se em fuga; e então recuou para Ravena. Quando foi assediado lá, rapidamente e de boa vontade rendeu-se ao lado vitorioso, junto com sua esposa Mathesuentha e o tesouro real.

E desta forma um famoso reino e a mais corajosa raça, que, por muito tempo, tinha segurado o poder, foi finalmente submetida em seus quase dois mil e trinta anos por aquele conquistador de muitas nações, o imperador Justiniano, através de seu mais fiel consul, Belisarius. Ele deu a Vitiges o título de Patrício e levou-o a Constantinopla, onde ele residiu por mais de dois anos, atado poelos cordões da afeição ao imperador, e então foi apartado desta vida. Mas sua consorte Mathesuenta foi entregue pelo imperador ao Patrício Germanus, seu parente. E deles nasceu um filho (também chamado Germanus) depois da morte de seu pai Germanus (???) . Desta união da raça dos anicii com a descendência dos amali houve promissoras esperanças, sob o favor do Senhor, para ambos os povos.

(Conclusão)

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E agora relatamos a origem dos godos, a nobre linhagem dos amali e as façanhas dos corajosos homens. Esta gloriosa raça rendeu [os mais] gloriosos príncipes e rendeu-se ao mais valente líder, de quem a reputação não seria silenciada pelas épocas ou ciclos de anos; pois o vitorioso e triunfante imperador Justiniano e seu cônsul Belisarius seria afamado e conhecido como Vandalicus, Africanus e Geticus.

Vós que lestes isso, sabe que eu tenho seguido os escritos de meus ancestrais, e tenho colhido umas poucas flores de seus amplos prados para tecer uma floreira a quem dá atenção para conhecer estas coisas. Ninguém pense que [seja] para a vantagem da raça da qual eu tenho falado_ apesar de eu traçar minha própria descendência dela_ não acrescentei nada além do que tenho lido ou aprendido por investigação. Mesmo assim não tenho incluído tudo que está escrito ou contado a respeito deles, nem falado muito para louvor deles como para glória daquele que conquistou-os.