Galeria dos Brasileiros Ilustres/Marquês de Olinda
Pernambuno é a província natal do Sr. Pedro de Araújo Lima, marquês de Olinda.
Nascido em 1787, viveu em companhia de seus pais até o ano de 1843, em que deixou sua bela pátria e foi buscar em outros climas a instrução e a ciência, que seu espírito ávido de grandes futuros ali não tinha achado suficiente; porque o regime colonial que então pesava sobre o Brasil não permitia a este país mais do que os primeiros rudimentos dos conhecimentos humanos, e estes mesmos sabe Deus com quanto se lutava para os adquirir, visto como só nos lugares mais populosos, como as principais capitais, é que se encontravam pessoas habilitadas para os ensinar.
O Sr. Araújo Lima teve a fortuna de nascer em lugar onde, ainda que escassa, não faltava completamente aquela espécie de instrução; também por isso, quando em 1813 partiu para Lisboa, já levava de Pernambuco estudados e sabidos os preparatórios de que tinha necessidade para matricular-se na Universidade de Coimbra a que se destinava, e onde tomou grau de doutor em cânones no ano de 1819.
Imediatamente que terminou seus estudos em Portugal regressou ao Brasil, onde sua estrela feliz lhe preparava um caminho brilhante para um futuro ainda mais brilhante de glória.
Chegando à sua pátria em 1820, foi logo despachado ouvidor da comarca de Paracatu, província de Minas Gerais; não chegou porém a exercer esse lugar, porque pouco tempo depois de sua nomeação, foi eleito deputado às cortes constituintes de Lisboa, no ano de 1821, fazendo então parte dos 50 deputados brasileiros que se bateram corajosamente contra os 130 portugueses, que já em sua ausência e a despeito mesmo de sua presença prevaleceram-se a princípio de estarem sós e depois da maioria de número para suplantarem as justas reclamações contra as audaciosas pretensões de reduzirem o Brasil, a quem tinham elevado à categoria de reino-unido, ao antigo e miserável estado em que vivera antes da vinda e estabelecimento da família real no Rio de Janeiro.
Sabe-se o resultado dessa luta desigual e gloriosa para os poucos filhos do Brasil que na capital da metrópole ousaram levantar a voz contra o ódio encarniçado de uma população inteira.
O Sr. Araújo Lima voltou ao Brasil com seus companheiros quando as exigências de Portugal levaram sua colônia ao extremo de dar o passo glorioso de sua independência.
Aí chegando, foi imediatamente eleito deputado à Assembléia Constituinte convocada em 23 de março e reunida na corte do Rio de Janeiro a 3 de maio de 1823.
Nessa assembléia tempestuosa o Sr. Araújo Lima tornou-se muito notável, e quando, depois dos últimos esforços daquela congregação dos primeiros homens do Brasil, o Imperador Pedro I a fulminou com o decreto de dissolução, e teve de nomear um ministério, chamou-o para a pasta do Império que ocupou apenas por três dias, porque, tendo sido nomeado a 14 de novembro, deixou o ministério a 17 do mesmo mês.
Dissolvida a constituinte e jurada a 25 de março de 1824 a Constituição do Império, procedeu-se às eleições para deputados à nova assembléia geral legislativa. Pernambuco não esqueceu ainda dessa vez seu distinto filho que já tanto se tinha feito notável, quer na constituinte portuguesa, quer na brasileira, a que por aquela província tinha sido mandado; elegeu-o seu deputado à assembléia geral, e ali o Sr. Araújo Lima, a favor de seus grandes conhecimentos e de seus reconhecidos dotes oratórios, como de muitas outras qualidades, adquiriu uma posição eminente, sendo na terceira sessão de 1827 eleito presidente, o que ainda tornou a ser por muitas vezes, como veremos.
Durante esta legislatura foi ele chamado pelo Imperador Pedro I ao Ministério do Império, cuja pasta recebeu a 2 de novembro de 1827 e deixou a 15 de junho de 1828.
Nesse ano procedendo-se à eleição de deputados à 2ª legislatura, o Sr. Araújo Lima foi reeleito por Pernambuco, e continuou sempre a sê-lo em todas as outras legislaturas até sua entrada para o Senado.
Por todo o tempo que continuou na Câmara dos Deputados ele sustentou sempre no mesmo pé o prestígio e influência de que gozara desde o princípio de sua carreira parlamentar; é assim que o vemos presidente da Câmara em 1829, vice-presidente em 1831, 1832 e 1833; e novamente presidente em 1835, 1836 e 1837.
Durante todas as comoções que abalaram o Império desde a Abdicação até a Regência única do Sr. Feijó, o Sr. Araújo Lima não apareceu senão como deputado, sendo apenas uma vez encarregado das duas pastas da Justiça e Estrangeiros que só ocupou por 40 dias a contar de 3 de agosto a 13 de setembro de 1832.
Depois desse dia voltou outra vez ao seio da Câmara legislativa de onde saiu no ano de 1837 para o Senado por eleição de Pernambuco, e pouco tempo depois, a 18 de setembro do mesmo ano, último dia da regência Feijó, para o Ministério do Império, onde veio pela terceira vez tomar sobre seus ombros o peso daquela pasta que muito pouco o sobrecarregou nesta ocasião, porquanto o regente Feijó achando-se a braços com a revolução do Pará ainda mal extinta, com a do Rio Grande do Sul em toda a sua força e com uma forte oposição na Câmara dos Deputados, tomou a resolução de resignar o poder a 19 de setembro daquele ano, e em virtude disto e de ser ele ministro do Império, coube-lhe, como manda a Constituição, a regência interina do país.
A popularidade de que gozava em ambas as câmaras fez que a 22 de abril de 1838 fosse por elas confirmada a regência que até ali exercera interinamente. Esta influência, porém, que lhe permitia dispor de uma grande maioria, assim na câmara temporária como na vitalícia, não o defendeu contra o pronunciamento das províncias que lhe trouxeram sérios embaraços.
A Bahia a 7 de novembro de 1838 declarou-se independente até a maioridade do Sr. D. Pedro II. O Maranhão por motivo da criação dos prefeitos levantou o estandarte da revolta bem conhecida com o nome de Balaiada; e o Rio Grande do Sul continuou a resistir às forças da legalidade e a ter sobre elas vantagens que lhe permitiram invadir a província de Santa Catarina onde tomaram a cidade de Laguna.
Era preciso da parte do novo regente muita força de espírito e energia de vontade para resistir a todos esses poderosos obstáculos que desde o princípio de seu governo vieram antepor-se e empecer sua marcha; aquelas qualidades, porém, não lhe faltavam, e graças a elas ele foi pouco a pouco desassombrando o caminho que tinha de seguir em sua administração.
A cidade da Bahia, atacada a 13, 14 e 15 de março de 1838, rendeu-se e com ela foi por terra completamente aniquilada a revolta que ali se levantara.
Os balaios depois de mil sacrifícios e de imensa carnificina tiveram também de ceder nos fins de 1840 aos esforços do coronel Luís Alves de Lima, a quem o regente confiara no princípio daquele ano a pacificação da província do Maranhão.
O Rio Grande do Sul enfim que não pôde ser totalmente pacificado foi ao menos reduzido a uma posição bem precária.
Apesar de todos esses trabalhos e de muitos outros serviços prestados ao país, os jornais acharam naquela guerra motivos para, em princípios de 1840, se declararem em oposição aberta à regência do Sr. Araújo Lima, e esse eco da imprensa repercutiu nas câmaras que logo depois de sua abertura naquele ano se declararam em maioria contra ele.
Todo o Brasil conhece o resultado dessa oposição, que trouxe como conseqüência a maioridade do Sr. D. Pedro II, e portanto a retirada do Sr. Araújo Lima da suprema administração do país.
Se este lhe deve bens, ou males por essa sua administração, não discutiremos, nem mesmo convém fazê-lo; o que é certo porém é que um homem menos ativo e enérgico teria sem remissão deixado soçobrar a nau do Estado batida de todos os lados por tempestades políticas e tufões revolucionários.
Em 1848 o Sr. D. Pedro II chamou-o ao Ministério de 29 de setembro como ministro dos Estrangeiros e presidente do Conselho, lugar que deixou a 8 de outubro de 1849, tendo a 6 de outubro de 1848 deixado a pasta da Fazenda que exercera desde 4 de setembro do mesmo ano.
No corrente ano de 1857, tendo pela morte do marquês de Paraná ficado acéfalo o ministério por ele criado, resignou este o poder na proximidade de abertura das câmaras, e por esta ocasião foi o Sr. Araújo Lima encarregado de organizar como o fez o atual ministério de que é presidente e ministro do Império.
S.M.I. o Sr. D. Pedro II, querendo dar uma prova pública do grau de apreciação em que o tinha, agraciou-o com o título de visconde de Olinda e mais tarde em 1854 com o de marquês do mesmo nome; além disto condecorou-o com a grã-cruz da Ordem de Cristo e oficialato do Cruzeiro.
Estrangeiras o Sr. Marquês de Olinda conta as seguintes condecorações: grã-cruz de St. Estêvão da Hungria; da Legião de Honra da França; e S. Maurício e S. Lázaro da Sardenha.