Galeria dos Brasileiros Ilustres/Marquês de S. João de Palma

Dom Francisco de Assis Mascarenhas nasceu na cidade de Lisboa a 30 de setembro de 1779. Foram seus pais D. José de Assis Mascarenhas, conde de Óbidos, Sabugal e Palma, e D. Helena de Lima, condessa dos mesmos títulos, filha dos marqueses de Ponte de Lima. Os filhos das famílias nobres de Portugal, em geral preferiam a carreira das armas à das letras. A nobreza desse reino, assim como de toda a Europa, repousava sobre a tradição da glória militar. As guerras de África, os feitos d'armas mais recentes e mais brilhantes ainda da conquista das Índias Orientais conservavam entre a nobreza portuguesa muito vivaz o amor à carreira militar.

Apesar de pertencer a uma das famílias mais nobres e antigas do reino de Portugal, família que segundo geralmente se dizia tinha relações de parentesco com a dinastia reinante, o jovem D. Francisco já por sua vocação natural às letras, já pelo amor que seus nobres pais votavam a todas as profissões liberais, foi mandado à Universidade de Coimbra para aí freqüentar o curso de Direito.

Feitos os seus estudos preparatórios com notável aproveitamento, o jovem D. Francisco matriculou-se no curso de leis, que freqüentou até o 2º ano. Seu talento provado nas lidas escolásticas, sua aptidão

para o manejo dos negócios públicos, fizeram com que seu pai o retirasse cedo da escola para dedicá-lo ao serviço do rei.

Há muito tempo o Brasil era o teatro onde se exercitavam os talentos da nobreza portuguesa. Para aqui mandavam os reis de Portugal filhos das principais famílias do reino com cargos mais ou menos importantes.

Ainda bem jovem D. Francisco de Assis Mascarenhas foi nomeado governador e capitão-general da capitania de Goiás.

Embora fosse muito remota, de escassa população, e de minguados recursos a capitania de Goiás, o novo capitão-general houve-se com tal prudência, revelou tanto tino administrativo no seu governo, que o Sr. D. João VI, que com sua corte havia passado para o Brasil, quis aproveitar seus talentos, e ao mesmo tempo recompensar seu zelo e dedicação pelo serviço público, nomeando-o governador e capitão-gen-eral da capitania de Minas Gerais.

De todas as terras de Portugal era então a capitania de Minas a que mais atenção merecia aos reis de Portugal. Sua grande extensão, a avultada população que já então encerrava em seu seio, sua adiantada civilização, os imensos interesses ligados às suas riquíssimas minas de ouro, a importante repartição da intendência dos diamantes, que eram explorados por conta do estado, tudo concorria para tornar o governo dessa capitania muito cobiçado mesmo por homens do maior merecimento.

A nomeação para esse elevado cargo ordinariamente não recaía senão em homens de uma grande reputação, de talentos superiores, de aptidão administrativa já experimentada. O Sr. D. João VI, escolhendo para esse importante lugar a D. Francisco de Assis Mascarenhas, demonstrava de um modo solene o grande apreço em que tinha suas luzes, seus talentos, seu patriotismo.

Bem depressa o novo governador de Minas provou que, embora muito moço, ninguém melhor do que ele poderia desempenhar as árduas funções de seu emprego. Apenas tomou posse, em 5 de fevereiro de 1810, aplicou-se com todo o ardor a estudar as necessidades da capitania, e a tomar as medidas que estavam nas faculdades de um capitão-general.

É sabido que a mudança da corte de Lisboa para o Rio de Janeiro não foi um fato indiferente ao Brasil. O rei, vendo com seus próprios olhos a magnificência da terra de Santa Cruz, tratou de dar-lhe todo o impulso, de desenvolver todos os germes de riqueza que encerrava. Não só na corte como em algumas províncias promoviam-se grandes melhoramentos, muitos dos quais infelizmente não puderam ser levados a efeito.

Aos cuidados do governador de Minas confiou o Sr. D. João VI muitos projetos de grande vantagem para aquela província. Cometeu-lhe o trabalho de organização de um sistema bem combinado de presídios militares que servissem não só para evitar que os selvagens perturbassem os pacíficos habitantes das matas, como também para chamá-los ao grêmio da civilização. Já há muito existiam, é verdade, as divisões das matas do rio Doce, porém foi só então que pensou-se em dar-lhes uma organização salutar.

A navegação do rio Doce, assunto que preocupou bastante o governo do Sr. D. João VI e também do Sr. D. Pedro I, foi recomendada com todo e empenho ao governador de Minas. Em uma carta régia de 21 de agosto de 1810, que temos à vista, o príncipe regente insiste com o general sobre as vantagens dessa navegação, e recomenda-a muito particularmente ao seu reconhecido zelo e dedicação.

As expressões cheias de cordialidade, de que o Sr. D. João VI se servia quando escrevia a D. Francisco de Assis Mascarenhas, demonstram de um modo inequívoco que era ele um administrador que sabia dedicar-se aos interesses dos países que eram confiados aos seus talentos.

Homem ativo, administrador consciencioso, não se poupava a trabalhos, quando se tratava do interesse público. É assim que visitava os pontos mais importantes das capitanias que governava, para pessoalmente conhecer suas necessidades e provê-las de remédio.

Através de caminhos ingratos percorreu toda a distância que separa Vila Rica, hoje cidade do Ouro Preto, do arraial do Tijuco, hoje cidade de Diamantina, para por si mesmo examinar o estado em que se achava a intendência dos diamantes, estabelecida naquele arraial.

Em reconhecimento dos bons serviços prestados em Goiás e em Minas no primeiro ano de sua administração, o príncipe regente fez-lhe mercê do título de conde de Palma.

A carreira administrativa de D. Francisco de Assis Mascarenhas foi das mais longas. Seu governo em Minas prolongou-se até 11 de abril de 1814. Logo depois passou a administrar a capitania de São Paulo e finalmente a da Bahia.

O modo por que se houve em todas essas administrações granjeou-lhe na corte tal reputação que o rei não duvidou nomeá-lo para o importante lugar de vice-rei da Índia portuguesa, emprego que não aceitou.

Por esse tempo foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo e nomeado presidente do Desembargo do Paço, regedor da justiça e conselheiro de estado.

Por ocasião da nossa emancipação política D. Francisco de Assis Mascarenhas não trepidou um só momento em abraçar a causa do Brasil em cujo serviço tinha gasto toda a sua mocidade.

No reinado do Sr. D. Pedro I não lhe faltaram honras e distinções, nem tampouco resfriou-se o seu zelo e dedicação pelo serviço público.

Foi então agraciado com o título de marquês de S. João de Palma, nomeado mordomo-mor do imperador e grã-cruz efetivo da imperial Ordem da Rosa.

Assistiu à coroação do Sr. D. Pedro I como condestável.

Com a nova ordem de coisas o nome do marquês de S. João de Palma não perdeu o prestigio que havia adquirido nos tempos do regime absoluto.

Pelo contrário bem depressa teve ele uma prova irrecusável da confiança que inspirava geralmente.

Na eleição dos primeiros senadores em 1826, seu nome foi apresentado à escolha imperial por quatro províncias. O Sr. Pedro I escolheu-o membro pela província de São Paulo.

Três anos depois, em 1829, o Imperador confiou-lhe uma missão especial na Europa.

O marquês de S. João de Palma uniu-se em casamento à D. Joana Bernardina do Nascimento Reis, filha legítima do coronel Joaquim Vicente dos Reis, abastado fazendeiro da Vila de Goitacases, hoje cidade de Campos.

Dotado de um coração cheio de bondade, animado sempre da mais cordial benevolência para com todos, cavalheiro, generoso, de um desinteresse pouco comum, o marquês de S. João de Palma fazia-se estimar de todos quantos tinham ocasião de tratá-lo. Seu gênio afável conquistou-lhe a simpatia dos povos de todas as capitanias que governou.

Aos 6 de março de 1843, contando 64 anos de idade, o marquês de S. João de Palma terminou sua carreira neste mundo, deixando um nome digno da nobre família a que pertencia.