1Grande comédia fizeram
os devotos do Amparo,
em cujo lustre reparo,
que as mais festas excederam:
tão eficazes moveram
ao povo, que os escutou,
que eu sei, quem ali firmou.
que se ainda agora vivera
Viriato, não pudera
imitar, quem o imitou.
2O Sousa a puro valor,
e a puro esforço arrojado
não pode ser imitado,
de quem foi imitador:
e bem que a arte maior
não cnega, por ser ficção,
a natural perfeição,
tanto a arte aqui o fazia,
que o natural não podia
igualar a imitação.
3As Damas com galhardia
altivas, e soberanas
muito excedem as Romanas
na pompa, e na bizarria:
cada qual me parecia
tão Dama, e tão gentil Dama,
que quando Lucinda em chama
de amor fingida se viu,
eu sei, que se não fingiu,
quem por ela então se inflama.
4Mais airosa do que linda
Laura no toucado, e pêlo
não foi pouco parecê-lo,
sendo à vista de Lucinda:
tanto me namora ainda
a idéia do seu ornato,
que em fé de tanto aparato
meu requebro lhe dissera,
e ciúmes lhe tivera
de afeição de Viriato.
5O Inácio a puro sal
tanta graça em si acrisola,
que podem pedir-lhe esmola
marinhas de Portugal:
nele a graça é natural,
naturalíssima a cara,
e eu de riso arrebentara,
se me não fora mister
toda a tarde ali viver
porque dele me lograra.
6O nosso Juiz passado,
que Salema aqui se diz,
como foi mui bom Juiz,
também foi mui bem julgado:
em passos, gasto, e cuidado
se houve com tanto fervor,
que merece em bom primor
não ser só Juiz do Amparo,
mas por único, e por raro
ser do Amparo Julgador.