A sala principal da casa de André de Figueiredo estão reunidas várias pessoas.

Da banda fronteira à entrada vê-se D. Lourença Cavalcanti, sentada em cadeira de espaldar, tendo junto de si um bufete pequeno coberto de colgadura roxa que arrasta no chão. Aí estão os recados de que serve-se a dama naquele momento para escrever cartas.

Do outro lado do bufete, a irmã D. Antônia Barbalho, mãe de Leonor, fia em uma roca de braúna as alvas pastas de algodão que enchem o cabaz de palha posto a seus pés. Em seu benigno semblante está pintada a alma tíbia e frouxa, que as irmãs dominam e afeiçoam como uma cera.

À esquerda, no intervalo das janelas, lá está em tamborete raso, para se dar ares de donzela, a ninfa olindense, a formosa Clélia, nome este por que era conhecida no Pindo a Senhora D. Severa de Sousa. Ocupava-se ela com a leitura de seu livro favorito, o Palmeirim de Inglaterra.

À direita, no longo estrado forrado de panos de arrás com figuras e ramagens, estão de tarefa as moças da casa e parentas, entre as quais distingue-se Leonor, pela formosura como pela melancolia; pois enquanto as outras vão chilreando risos e segredinhos ao ouvido, ela, de cabeça baixa, absorve-se no seu trabalho.

Um escravo de libré postado em cada porta para qualquer chamado e o mais que for preciso espera as ordens.

Leonor trabalha em uma touquinha de renda, que destina à neta recém-nascida de sua velha ama, a Brites. Está agora enfeitando-a de rosas de maravalhas, e essa ocupação lhe encaminha o espírito para umas saudades, que ela esconde no refólho d'alma para não nas adivinharem, e que são menos o recordo de uma ventura fruída do que a viuvez de uma doce esperança.

Sem que ela se apercebesse, tão distraída estava, começou-lhe o seio a desafogar em suspiros, e após eles veio um como murmúrio de intenso queixume que se foi desprendendo a pouco e pouco em suave e terníssima endeixa. Cantava em voz submissa as coplas de um romance antigo que lhe trouxera. à memória certa conformidade de pensamentos:

Filha, filha da minha alma,
Com que te batizaria?
As lágrimas de meus olhos
Te sirvam d'água da pia.

Chamar-te-ei minha Rosa,
Rosa, flor de Alexandria,
Que assim se chamava d'antes
Uma irmã que eu queria.

Aqui a voz feneceu para tornar pouco depois repetindo já coplas de outra cantiga em que então se enleava a fantasia da donzela:

Nada em dor, em dor criada,
Não sei isto onde irá ter.
Vejo-vos, filha, formosa,
Com olhos verdes crescer.

Não era esta graça vossa
Para viver em desterro;
Mal haja esta desventura,
Que pôs mais nisso que o erro.

— Que há de você, Leonor, estar sempre a amofinar-se á toa, com umas tristezas tão sem propósito! disse D. Lourença interrompendo a cantiga da sobrinha com um tom de repreensão.

— Eu?... exclamou a donzela confusa.

— Ora, que tem que a menina desafogue suas mágoas, D. Lourença? Antes cante ela suas endeixas, que os zéfiros vão desfolhando pelos ares, do que as congele no seio para se derreterem em aljôfares de sentido pranto.

Assim falou a D. Severa, que bem mostrava na linguagem alambicada o comércio poético, que entretinha com o Lisardo.

— Se já é um sestro desta menina fingir-se desventurada e viver só a lastimar-se desde que o dia amanhece? Não sabe outras cantigas senão essas que falam de desgraças, de pranto, e de quanta cousa há de triste?

— Nisso de cantiga não há para mim como a da Donzela Guerreira! exclamou D. Severa com entusiasmo; e soltando a voz de flautim começou a gargantear estas coplas:

Sete anos andei na guerra
E fiz de filho barão,
Mas ninguém me conheceu,
Só se foi meu capitão.

Conheceu-me pelos olhos
Que por outra cousa não;
Foi meu capitão na guerra,
Agora o fiz meu barão.

Ouviram-se uns risos abafados, de que não fez o menor caso a ninfa olindense.

Leonor, que tivera tempo de recobrar-se da perturbação, cuidou em disfarçar o verdadeiro motivo de sua mágoa.

— Pois, minha tia, não temos nós todos razão para afligir-nos com as desgraças que ameaçam esta terra?...

— Que desgraças são estas agora? perguntou D. Antônia à filha.

— Ainda ontem, minha mãe, a velha Brites me esteve contando que pela Quaresma, em noite clara, se viu a lua partida pelo meio em duas bandas, uma no seu natural alumiando o céu, e a outra coberta de sombra que parecia um dó, no que bem estava mostrando as guerras que hão de acontecer entre Olinda e o Recife, e o luto em que ficará uma das partes.

Estas palavras da moça causaram viva comoção no ânimo das pessoas ali reunidas.

— Tal e qual sucedeu! disse D. Francisca, mulher de André de Figueiredo.

— Eu vi com estes olhos! acrescentou D. Genoveva, casada com Antônio Tavares.

— Que tem isto? acudiu D. Lourença. Guerra havemos de fazer, que assim é preciso para defender os foros da nobreza; e sem ela decerto que não poderemos ganhar a vitória e abater a grimpa dos mascates. Nem outra cousa significa essa conjunção dos astros, senão a glória de Olinda por um lado, e a ruína do Recife pelo outro.

— Mas há quem diga, minha tia, replicou Leonor, que a parte escura ficava para as bandas de Olinda.

— Não acredite em abusões, menina; que esta lua é pernambucana e não prognostica males aos filhos que nasceram em sua terra.

— Olha, Leonor, que tua tia sabe estas cousas dos astros, como ninguém.

— Sei, minha mãe, sei que a tia D. Lourença é muito versada em todas as sete artes liberais, mas tenho uma cousa que está me dizendo... E então quando me lembro da milagrosa imagem de Nossa Senhora do Ó, que o ano passado, na véspera de Sant'Ana, suou sangue, o que todos disseram logo ser presságio de grandes perturbações, com guerras, mortes e toda a sorte de desastres!.

— E por sinal, que se passou a sua imagem do altar que teve na Igreja de São João para a Capela do Santo Cristo da Sé, disse D. Francisca.

— Para ver se aí, perto do Senhor Crucificado, ela intercedia com seu bento Filho para arredar de nós estas calamidades, acrescentou D. Genoveva.

Ouvira D. Lourença as razões da sobrinha e das cunhadas com o modo grave e refletido que lhe era natural; tanto mais porque os presságios de que tratavam as damas eram tirados de fatos notórios e atestados por pessoas de toda a fé.

Ainda hoje dura a tradição, conservada por Sebastião da Rocha Pita e o Padre Manuel Leitão, que deles dão notícia pelo mesmo teor ou com pouca diferença.

— Sem dúvida que muitos males estão a cair sobre esta terra, disse D. Lourença; e antes dos prognósticos divinos, já era dado aos prudentes antevê-los nos humanos desígnios, pela soberba e arrogância dos mascates nestes últimos, tempos. Mas esses males vêm mandados do céu para castigar a culpa de agasalhar miseráveis aventureiros, e para expurgar a nossa terra dessa praga vil de forasteiros, que a está danando. Nossa Senhora do O, que é pernambucana e tem altar erguido nesta terra que regamos com o nosso sangue para a arrancar aos hereges e flamengos, e conservá-la ao Padroado de Cristo; Nossa Senhora do Ó e sua corte celeste não hão de desamparar os defensores da fé e cavaleiros da cristandade. Se ela suou, a milagrosa imagem, não foi de lástima por nós, mas sim de pesar e tristeza por ver que se estão abatendo os antigos brios pernambucanos, por modo tal que já não haverá quem preserve esta terra de ser presa dos franceses, se, como se afirma e eu creio, andam eles correndo a costa e preparando-se com grandes empresas a acometê-la, que, isto dizem, já chegou aviso de Lisboa ao governador.

Por esta amostra imagine-se o papel importante que devia representar D. Lourença nas assembléias políticas dos parentes. Se vivera em nossos dias, com a sua literatura e disposições para a oratória, com certeza já se teria mandado anunciar a rufos de tambor para a próxima conferência popular.

— É desenganar, senhora, acudira D. Severa. Enquanto não aparecer nesta terra de Olinda outra heroína como D. Clara, que arvore a gineta das damas, os negócios hão de andar baralhados. Mas não tarda muito que não vejam aparecer aqui mesmo em Olinda uma Ala das Donzelas com seu capitão, que há de escurecer a fama de Mem Rodrigues e da sua dos Namorados.

— O capitão, já se sabe quem é? tornou D. Lourença com um sorriso em que a acompanharam as outras,.

Não lhe respondeu D. Severa, porque voltando-se para chamar o seu pajem de estrado, o qual como se devem recordar não era outro senão o brejeiro do Nuno, que de mascatinho virara donzel, apercebeu-se a dama da ausência do rapaz. Levantou-se logo e foi-lhe na pista.

Pouco havia que saíra da sala, e ainda as outras se riam dos arreganhos marciais da ninfa, quando o lacaio da entrada veio com recado de segredo a D. Lourença, a qual deitando os olhos para o corredor, viu aparecer no fio da porta fechada a meio, um pedaço de cara de fuinha que se havia de jurar ser a do Cosme Borralho.

— Está aí o moço do senhor licenciado Davi de Albuquerque, disse o escravo à puridade.

— Leva-o para o oratório, que já ai vou, respondeu a dama.

D. Lourença deu tempo a executar-se sua ordem e saindo por uma porta do interior, dirigiu-se ao lugar indicado que era o mais reservado e onde se tratavam os negócios de monta.

Entretanto D. Severa corria toda a casa á busca do Nuno, mas não lhe viu nem a sombra.

O brejeiro do rapaz, que era um azougue, aborrecido da estação a que o obrigava a D. Severa, em pé atrás de sua cadeira como pajem de estrado, não perdia ocasião de escafeder-se e ganhar a rua ou quintal. Naquele dia achando aberta a casa do trem, aproveitou a ocasião tão suspirada, e armando-se de uma grande catana, começou a esgrimir contra uma armadura completa que, posta no meio da casa e enfiada no seu cabide, parecia um guerreiro antigo armado de ponto em branco.

Saltava o endemoniado moço como uma pulga em volta da panóplia e desfechava-lhe cada cutilada, que feria logo na coiraça e sobretudo no capacete.

— Defende-te, vilão... gritava ele. Que senão te corto em talhadas com esta espada como uma melancia! Em guarda, ajudante das dúzias! Olha este golpe terçado!... Zás!... E este de ponta!... Traspassado, barbudo do inferno!... Rende-te ou morre, negro, negreiro, negrão!...

No meio deste fero combate em que o Nuno imaginava estar pelejando com o Ajudante Negreiros, o homem de sua especial birra, ouviu ele um rumor do lado da escada, e receando que lhe andassem à cata e o pilhassem na embrechada, foi espiar ao corredor, e bispou o Cosme que subia os primeiros degraus.

Veio-lhe a curiosidade de saber que novidade trazia o Pisca-Pisca àquela casa, onde ele afirmava que não punha os pés; e separando-se pesaroso da catana ficou de espreita ao escrevente a quem viu entrar para o oratório, onde com pouco foi ter a D. Lourença.

Não podendo escutar o que passava dentro, pôs-se de plantão na escada para cortar a retirada ao Cosme e falar-lhe; sobretudo desejava ter novas do que ia pelo Recife depois que de lá se partira.

Infelizmente a D. Severa que voltava desenganada de o achar, veio esbarrar com ele e arrecadou-o:

— Ora, muito bonito! Estou eu a procurá-lo, e o senhor a peraltear! Fique sabendo que um pajem bem ensinado deve estar sempre junto da dama cujo é, como seu caudatário e donzel, para defendê-la e servi-la a um seu aceno.

O Nuno recebeu o sabonete de cara murcha, mas assomando-lhe a natural petulância, levantou a crista contra as pieguices da dama que pretendia fazê-lo de menino.

— Saiba também a senhora que eu estou pronto a servi-la e tenho nisso muito gosto, mas há de ser como seu escudeiro e homem d'armas; que lá essa história de pajem e donzel é para os pirralhetes de quatorze anos, e eu cá já sou um homem.

— Quede a barba?

— A barba! Isso arranja-se, ainda que se pode bem dispensar, e a prova é que D. Antônio Filipe Camarão, que foi insigne capitão, não tinha um fio, nem a sua descendência; e mais eu posso comprar dois mustachos bem fornidos para compor o rosto, como o moço que faz de Ferão Brigoso, na farsa do Juiz da Beira.

— Mas não vê você, Nuno, que um pajem é mais próprio para uma dama?

— Pois eu de pajem não fico, nem que me serrem!

— Está bom! Fica sendo meu escudeiro.

— Isso é outra cousa.

Nisso esgueirou-se pelo corredor o Cosme que saía do oratório, e desceu as escadas a trote miúdo. Quando o Nuno se pôde desembaraçar e lhe foi no encalço, já não o avistou.

D. Severa entrou na sala ao tempo em que D. Lourença, de volta do oratório e sentando-se de novo ao bufete, lia um papel que trouxera. Era a fatal redondilha que a menina Marta obrigara o Lisardo a escrever na câmera de Isabel.

D. Lourença, não se podendo chamar gorda, era uma senhora reforçada, que no seu porte cheio de dignidade dava uma idéia da matrona romana. Os versos não se podiam pois referir a ela; o que a dispôs a achar-lhes chiste.

Olhou sorrindo para a D. Severa que lhe andava sempre a disputar as primazias.

— Quer ver, prima D. Severa, até onde chega o desaforo da ralé dos mascates? Pois não mandaram pregar nas esquinas estas rimas desavergonhadas?

Ouça:

Escorridas como um fuso,
As damas de Olinda são;
Por fora aquele esparrame,
Por dentro é só armação
De pano, d'osso e arame.

Foi grande o escândalo das damas, especialmente das magras; nenhuma, porém, como D. Severa, que erguendo-se de golpe e atirando para trás com um couce a longa cauda, enristou a trunfa e bateu o pé:

— É uma vingança daquele vilão descortês!... Do tal Sebastião de Castro!... Como não achou entre as nobres damas de Olinda os requebros das descocadas lá do Recife, manda-nos agora difamar por seus rimadores. Mas ele que não se meta!

Nesse instante soou na rua tropel de cavaleiros. Um troço de gente armada parou à porta da casa de André de Figueiredo, e o Sargento-Mor Leonardo Bezerra Cavalcanti, com seu filho Manuel, subiram ao sobrado em busca do capitão.

Entretanto o Nuno, que voltava da caça que em pura perda tinha dado ao Pisca-Pisca, avistou lá do outro lado, à esquina da Ladeira do Varadouro, o Lisardo que vinha em busca da casa, mas que avistando a cavalgada, arrepiou caminho.

Esperou o mascatinho que o poeta se resolvesse a ganhar a casa, cosendo-se à parede; queria comunicar-lhe a grande nova de ter sido pela D. Severa acrescentado de pajem a escudeiro e homem d'armas.

O Lisardo, porém, vinha triste e abatido, para o que tinha sobras de razão. Na véspera, à ave-maria, fora como de costume fazer de pé de muro no beco, em adoração à rótula de seus amores; mas quando ele esperava aquele rufo suavíssimo de unhas rosadas nas reixas de madeira, e aquele coar da luz de uns olhos feiticeiros através das grades, abriu-se a gelosia com ímpeto, para logo fechar-se, batendo-lhe três vezes com tanta ira, como se o estivesse castigando. Era o que se chama vulgarmente bater com a porta na cara.

Nessa manhã repetira-se a crueldade da rótula, mas com um suplemento que pôs o remate à desventura do nosso trovador; e foi que, insistindo ele em abrandar com a humildade de sua paciência e a melancolia de sua compostura os rigores da tirana gelosia, veio de embaixada a negra Benvinda despachá-lo por este teor:

— Moço, siga seu caminho, aqui no Recife tudo tem perna cabeluda!

Foi um relâmpago que ofuscou a alma do Lisardo; quando caiu em si, a negra se tinha sumido e a rótula fechada estava muda como uma campa, e o era, de seu finado amor.

Belisa lera a quadra que ele havia feito por ordem de D. Severa, e com razão se julgava ofendida. Como, porém, soubera ela do autor, é o que não atinava o Lisardo, que estava bem longe de suspeitar das inteligências do Cosme Borralho com a Senhora Rufina no Recife e com a D. Lourença em Olinda.

— Que te aconteceu por lá, que me pareces um farricoco, carregando tua própria tumba, pois a cara que trazes não é doutra cousa? disse o Nuno ao poeta com a sua costumada galhofa, que desta vez era o disfarce da comoção ao ver o semblante abatido do amigo.

— E não te enganas, Nuno! É uma tumba, o que estás vendo e não mais o infeliz que ontem era. É a tumba de uma alma que nasceu para a dor, e não viveu senão para começar desde o primeiro instante a morrer aos poucos. Uma esperança a consolava na sua agonia e a prendia a este mundo por um tênue fio de ouro. Esse fio rompeu-se, e a alma acabou por finar-se.

Nuno abraçou-o com efusão.

— Mas dize-me, que houve que assim te mortifica?

— Belisa aborrece-me.

— Juro eu que não!

— Aborrece-me, e tem razão, porque a ofendi.

Ia o Lisardo referir ao amigo sua desventura, quando apareceu no saguão, onde já então se achavam os dois moços, D. Lourença, que andava no tráfego da casa, dispondo o agasalho para os acostados de seu primo Leonardo Bezerra, que lhe pediu o aboletasse ali até a noite.

Avistando o poeta, repuxou-se a barbelha de D. Lourença, com o assomo imperioso que tomava o seu colo nos momentos de rigor; aproximou-se a dama com um modo tão severo que os moços estremeceram:

— Os ingratos são como as varejas, pois assim como estas empeçonham o corpo que as sustenta, eles vendem os protetores que os agasalham. Você, Lisardo, que tantos anos foi um familiar desta casa onde nunca lhe faltou o necessário, acolhido pelos nossos com bondade, esqueceu todos estes benefícios, e fez-se com suas rimas fâmulo e serviçal dos mascates, a troco de alguma vil espórtula.

O Albertim, sucumbido, quis protestar neste ponto; não lho deixou a matrona.

— Tão negro procedimento devia arredá-lo para sempre desta casa cujas portas dora em diante lhe estão fechadas. Se foi para ouvi-lo que tornou, pode desde já ir-se; e é o mais prudente, porque em chegando o Capitão André de Figueiredo e sabendo da sua gentileza, não há de ter a moderação de que usei.

Albertim sorriu-se, como deviam sorrir os mártires através das chamas da fogueira e, curvando a cabeça, afastou-se com a dignidade da resignação, que é mais respeitável do que a do orgulho.

Nuno estava atônito; não atinava bem com o que se passava ali diante dele; parecia-lhe que expulsavam o Lisardo, mas por que motivo? Nesse estado apenas pôde balbuciar uma palavra ao ouvido do amigo quando este lhe passou junto:

— Espera-me lá foral

Logo que D. Lourença arredou-se, correu o rapaz à rua; mas apesar de todas as pesquisas não descobriu Albertim.