História do Brasil (Frei Vicente do Salvador)/V/X
Tendo d. Luiz de Souza acabado o triênio do seu governo do Brasil, e sua mulher a condessa de Medelim na Corte, que requeria sua ida, proveu Sua Majestade o cargo em Henrique Correa da Silva, que o aceitou de boa vontade, e bom zelo, segundo alcancei algumas vezes que com ele falei em Lisboa, onde me achei naquele tempo, no qual determinou Duarte de Albuquerque Coelho de mandar seu irmão Mathias de Albuquerque a governar a sua capitania: porque os mais governadores, depois que Diogo Botelho a encetou, se vinham ali em direitura, por se não encontrarem em pontos de preeminências, que como são pontos são indivisíveis, e cada um os quer todos para si. Alcançou uma provisão de Sua Majestade, que se notificou ao governador Henrique Correa, para que se viesse em direitura à Bahia sem tocar Pernambuco, e se de arribada, ou de qualquer outro modo lá fosse lhe não obedecessem; ao que ele respondeu que nem a Pernambuco, nem ao Brasil viria, porque não havia de dar homenagem das terras, que não podia ver como estavam fortificadas, e o que haviam mister para serem defendidas, e governadas como convém. Pelo que Sua Majestade, se havia de ser com aquela condição, podia prover o cargo em outrem, como de feito proveu logo em Diogo de Mendonça Furtado, que havia vindo da Índia onde estava casado, e andava requerendo na Corte a satisfação de seus serviços.
Diogo de Mendonça se aprestou o mais breve, que pôde; e porque os desembargadores, que vieram com d. Diogo de Menezes, uns eram mortos, outros idos para o reino com licença de el-rei, e outros lha tinham pedida para se irem, mandou sete com o governador, para que com dois, que cá estavam casados, se inteirasse outra vez a casa, e Tribunal da Relação.
Todos partiram de Lisboa no mês de agosto de 1621, e chegando à altura de Pernambuco, onde os navios, que para lá vinham se apartaram dos da Bahia, mandou o governador a eles um criado chamado Gregório da Silva provido na capitania do Recife, que estava vaga pela ausência de Vicente Campello, posto que Mathias de Albuquerque o admitiu só na capitania da fortaleza de el-rei, separando-lhe a do lugar ou povoação, que ali está, e dando-a a um seu criado, e assim andam já separadas.