O MOCHO




Era uma vez um menino,
Que estava á mesa jantando
Sem mostrar ter grande tino,
Porque comia brincando.

Já o seu pai lhe ralhara,
Mas, como era malcriado,
Êle, a rir, continuara
Arreliando o criado.

Batem á porta. É um cesto
Que traz o filho do côxo.
Corre o Pedro a destapá-lo
E solta um grito: – É um mocho!

Deitando o cabaz no chão
Foge p’ra junto da mãe,
Que numa grande aflição
Indaga o que o filho tem.


– É um mocho muito feio,
Responde êle a muito custo.
– Que com certeza cá veiu
P’ra te meter este susto.


O filho do côxo

– A mim? – ¿Não és o curioso
Maior que temos aqui?
Fôste ao cesto por guloso,
Deus castigou-te. – Senti.

Mas, verão, não torno mais
Ha de lembrar-me a lição.
Mas vou pedir-lhes, meus pais,
Não guardem tal figurão.


– Não te farei a vontade,
Porque ha por cá muitos ratos:
É de muita utilidade:
Caça mais do que seis gatos.


Sentir mêdo sem razão.


E depois, Pedro, é asneira
Sentir mêdo sem razão.
Proceder dessa maneira
Era não ter coração.

Muito longe do seu ninho
Não saberia voltar.
– Pobre mocho ¡coitadinho!…
Então, pai, deixe-o ficar.