A Olindina Medeiros.
Que manhã feia e escura aquella em que partiste!
Recordas te, Gentil? O Céo estava triste,
Sem um raio de sol, nevoento, sombrio,
Bem como um coração amargurado e frio...
Um sorriso divino inundava-te o rosto
De innocencia e de luz... e eu sentia o Desgosto
Ferir-me o seio, emquanto, a beijar-te, chorando
Meu labio estremecia um adeus murmurando.
Ah! dentro de minh’alma, assim como n′um mar,
O batel da Saudade, a boiar, a boiar,
Parecia attrahir-me á ventura e á Alegria
Para o abysmo cruel onde mora a Agonia.
Pequenino como és, não sabes comprehender
A magua que allucina e que faz padecer
Ao pobre coração pela angustia ferido
Ao ver sumir-se longe um rosto estremecido.
Hostia loura e formosa, ó meu sonho dourado!
Açucena do Céo, archanjo immaculado
Que as azas virginaes desdobras sobre a terra...
Longe de ti eu choro, assim como na serra,
A doce jurity que soluça e padece,
Quando o Sol vai morrendo e quando a Noite desce.
Adeus, meu colibri! adeus, minha saudade!
Creancinha que eu amo, ó flor de castidade!
Mimoso lirio puro, innocente e gracil,
Camelia desbrochada ao sol do mez de Abril!
Adeus! Adeus! Adeus!
Sacode as azas puras,
O’ lindo sonho branco! e lança ás amarguras
De minha vida triste o pó de oiro sagrado,
Que ellas deixam cahir do sacrario estrellado
Que tens na cabecinha esplendida e divina,
O’ creança formosa, ó alma cristallina!
Alto da Saudade — 14 de Maio de 1899.