A D. Martha e D. Amelia Pacheco.
Hontem á tarde, ao pé de ti sentada,
Eu puz-me a contemplar-te, ó Mar bravio!
Pensava que acolhida em tuas ondas
Talvez minh’alma não sentisse frio!
Contei-te, uma por uma, as cruas dôres
De minha vida, toda de saudade;
Quiz afogar as minhas maguas fundas
No leito azul de tua immensidade.
Como seria bom morrer ahi,
Moça, innocente, tendo n’alma em flor,
Um mundo virgem de sagradas crenças,
Todo banhado no ideal do Amor!
Tu dar-me-hias, então, a sepultura
Nessas espumas murmurosas, belas...
E á noite, se mirando em tuas aguas,
Me cobriria o Céo de mil estrellas.
Ao pé de ti, como um soluço brando,
Sinto fugir-me, pouco a pouco, a vida...
Chorai, vagas, por mim! dobrai finados
Bem como os sinos de risonha ermida!
No mausoléo augusto do Oceano
De outros dobres minh’alma não precisa;
Por supplica mortuaria só deseja
O soluço do vento que deslisa...
Dezembro de 1893.