A Rosa Monteiro.
Quando me vires chorar
Que sou infeliz não creias;
Eu choro porque no Mar
Nem sempre cantam sereias.
Choro porque, no Infinito,
As estrellas luminosas
Choram o orvalho bemdito,
Que faz desbrochar as rosas.
Do labio o consolo santo
E’ o riso que vem cantando...
O riso do olhar é o pranto:
Meus olhos riem chorando.
O seio branco da aurora
Derrama orvalhos á flux...
O cirio que brilha, chora:
A dôr também fere a luz?
Teus olhos cheios de ardores
Aninham rosas nas faces...
Que seria dessas flores
Responde, se não chorasses?
Sou moça e bem sabes que
A moça não tem martyrios;
Se chora sempre é porque
Pretende imitar os lirios.
Emquanto eu viver no mundo,
Meus olhos hão de chorar...
Ah! como é doce o profundo
Soluço eterno do Mar!
Do labio o consolo santo
E’ o riso que vem cantando...
O riso do olhar é o pranto:
Meus olhos riem chorando.
Jardim — 8 — 1897.