A Edwiges de Sá Pereira.
Ó vós, que guardais no seio
Com tanto amor e carinho,
— Com o mesmo doce receio
De um’ave que guarda o ninho:
As illusões mais douradas
Que um’alma de moça encerra: —
Cantai as crenças nevadas
Que divinizam a terra;
Cantai a meiga harmonia
Das esperanças em flor,
Cantai a vida, a alegria,
Na lyra santa do amor.
Cantai! O amor é a vida:
— Dizei-o nos vossos cantos —
E’ uma aurora querida
Que desabrocha sem prantos.
Expatriai a saudade,
— O espinho do coração.—
Cantai a felicidade
De uma existencia em botão.
E’ para vós a ventura,
A gloria que o mundo tem...
Que vos importa a amargura
De um’alma que chora além?
Eu tambem irei cantando,
Como vós, meus pensamentos,
Vivendo sempre sonhando
Sem dores e sem tormentos.
E já que não tenho amores,
E nem embalo esperanças...
Canto o perfume das flores,
Canto o riso das creanças.
Macahyba — 1896.