DOLORES


Já vão caminho do cemiterio
Meus louros sonhos em visões negras
E vão-se todos no Azul sidéreo
Como uma nuvem de toutinegras.

A noite de hontem levei chorando
Todo o passado de meus amores;
E o dia ainda me achou rezando
No immenso terço de minhas dôres.

Vejo na vida longo deserto
Sem doce oasis de salvação.
Dentro em minh’alma, douda, chorosa,
De pobre moça tuberculosa,
Cheio de medo, tremulo, incerto
Bate com força meu coração.

E assim morrendo, coitada, aos poucos,
Convulsa e fria, louca de espanto,
Solto suspiros, soluços roucos,
Olhando as cruzes do Campo Santo;

Porque me lembro que muito breve
Leva-me a elle tanta dor physica.
E dentro em pouco, branco de neve,
Verão o esquife da pobre tysica.