Fugir à mágoa terrena
E ao sonho, que faz sofrer,
Deixar o mundo sem pena
      Será morrer?

Fugir neste anseio infindo
À treva do anoitecer,
Buscar a aurora sorrindo
      Será morrer?

E ao grito que a dor arranca
E o coração faz tremer,
Voar uma pomba branca
      Será morrer?

II

Lá vai a pomba voando
Livre, através dos espaços...
Sacode as asas cantando:
      “Quebrei meus laços!”

Aqui, n’amplidão liberta,
Quem pode deter-me os passos?
Deixei a prisão deserta,
      Quebrei meus laços!

Jesus, este vôo infindo
Há de amparar-me nos braços
Enquanto eu direi sorrindo:
      Quebrei meus laços!

Janeiro, 1901.