A’ memoria da pequena Loli, das «Caricias».
Formosa e pura como um lirio puro
Na sua alvura virginal de neve,
Loli, no esquife pequenino e leve,
Lá vai caminho do sepulcro escuro.
Vai vestidinha como a Virgem santa
Mãe de Jesus, o doce Nazareno:
Mortalha branca de um alvor que encanta,
Manto estrellado, côr do Azul sereno.
Pallida a face, faz lembrar tão linda
De um lirio murcho a pallidez sem fim.
Como é bonito amortalhado assim
Um lirio branco, desbrochando ainda!
O caixãosinho tem a côr divina
Do mundo immenso, onde Jesus habita,
E o frio corpo da gentil menina
Repousa n’elle entre jasmins e fita.
Seu cabellito, perfumado e loiro,
Cobriam todos de cheirosas flores...
Traz-nos a mente, sepultado em dores,
Um encantado e virginal thesoiro.
Todos soluçam, meigos, contemplando
O esquife santo que caminha ali.
Beijos saudosos em formoso bando
Voam, gemendo, a procurar Loli.
O’ creancinha, ó pequenina aurora!
Descerra as folhas, açucena amiga!
Rosa adorada que o tufão desliga
Da haste mimosa, quem te beija agora?
Mas já não ouve, o pobre sonho morto...
Tão longe o esquife! ninguem mais o alcança...
Barco celeste, vai levando ao porto
O corpo amado d’esta flor creança.
E branca, e branca como um lirio puro,
Na sua alvura virginal de neve,
Loli, no esquife pequenino e leve,
Lá foi caminho do sepulcro escuro.
Jardim — 1897.