A’ minha tia Maria Concordia de Souza.
Veste de luto a minha pobre lyra
E canta a endeixa da saudade eterna;
Toda minh’alma, tremula, suspira
Cuidando ouvir a doce voz paterna.
Meu velho Pai! Ligeiro como um’ave
Cruzando os Céos á hora do sol posto,
Eu vi passar o teu perfil suave
Mas nem ao menos pude olhar teu rosto!
Então voltei-me para o grande Espaço
E perguntei a minha avó, sorrindo:
« Assim, ás pressas, sem levar-me ao braço,
Porque vae elle para o Azul fugindo!
Ella beijou-me a fronte docemente
E a sua voz em lagrimas ungida,
Disse baixinho, dolorosamente:
« Vai ver no Céo a tua mãe querida. »
Eu espero por ti ha tantos annos,
O’ mão piedosa que me abençoaste!
Todos os dias chegam desenganos
E ao lar deserto nunca mais voltaste!
- 15 de Janeiro de 1898.