Na procissão

Passaste rindo... E o teu perfil modesto,
Cheio de graça e cheio de inocência,
À doce luz daquele riso honesto,
Tinha de um sonho a doce transparência.

Teus lindos olhos castos e sagrados,
Ingênuos como os olhos das crianças,
Pareciam dois céus imaculados,
Tão azuis como as minhas esperanças.

Desmanchou-se-te a trança cor de ouro
Enquanto assim passavas rindo, rindo...
E eu murmurei, ó meu gentil tesouro,
Fitando os olhos nesse olhar tão lindo:


“Ó tranças cor da alegria,
Olhar que um sorriso fez:
Olhos de Santa Luzia,
Cabelos de Santa Ignez!

Dourai, dourai meus abrolhos,
Ó tranças que o vento leva...
Olhos, ficai nos meus olhos,
Que eles são feitos de treva.

Cabelos cheios de luz,
Não fujam, que eu vou chorar...
Ai! lindos olhos azuis,
Descansem no meu olhar.



Mas teus cabelos voaram
Teus olhos...não mais os vi:
Os olhos que me fitaram,
As tranças por que morri...

Ó tranças cor da alegria,
Dourai, dourai meus abrolhos...
Olhos que a graça alumia,
Vinde morar nos meus olhos...

1 de Janeiro de 1898.