Hum valente à meya noite,
Não me diraõ para que?
Pois veſtido de armas brancas,
Não ſaberei para quem?

Se aſſim vem para roubar,
Jà o veſtido alheyo tem;
Logo que mais quer me digaõ,
Porèm dirão, que mais quer.

Se para matar ſahio,
Grande novidade he,
Que venha para matar
Quem nace para morrer.

De que o deſvelem cuidados,
Se ama, & zela, pode ſer,
Mas que o deſvelem deſcuidos
Mais facilmente o crerey.

A que vem todos o ſabem,
E ninguem ſabe a que vem;
Que tudo o que entendem todos
He não ſabelo entender.

Certos Reys ſabios quiſeraõ
Dizer em enigmas tres
Quem era, mas os Reys ſabios
Ficaraõ innocentes Reys.

Advertida huma Zagala,
Ou com mais graça, ou mais fè,
Começou ao ſom das cordas
Do coração a dizer:

Eſtribillo.

Aquelle Minino,
Que nace em Belem,
Que me matem ſenhores,
Se a matar de amores
Minha alma não vem.

Coplas.

Tanto aſſenſo nos paſtores,
O conceito amante fez,
Que a bailar incitou logo
Todo o ruſtico tropel.

Ate os Reys ſe ſuſpenderão
Já de os ouvir, já de os ver;
E da meſma eſtrella ſua,
Tiverão parte eſta vez.

Proſeguem com graça o baile,
E com ventura tambem;
Com graça pelo Menino,
Com ventura pelos Reys.

Baile.

Para matarme de amores
Hoje naceo o meo bem,
Se he matar para dar vida,
Para perdela o nacer.
Ay ay retirai Minino,
Que o vir a matar,
He vir a morrer.

Rayos de luz eſſes olhos,
E balas de aljofar tem;
Se matais a olhos viſtos
Cedo ſem luz os vereis.
Ay, &c.

Se deſſes olhos divinos
Arcos, & ſettas fazeis,
Lança vos eſpera, & cravos,
Huns doces, & outra cruel,
Ay, &c.

Eſtribillo.

Aquelle Minino, &c.