Com aquele busto maravilhoso, que entusiasmara até o casamento o coronel Praxedes Maia, comandante do forte de São Felix, Dona Lola era, aos trinta anos, a tentação dos rapazes da guarnição. Ao ver-lhe, à janela, o colo de rola satisfeita, o major Fernando Rocha exclamava, sacudindo a cabeça:
— Que busto maternal!...
E o tenente Frederico Ramos, que era mais ou menos poeta, repetindo os maravilhosos decassílabos de Raimundo Correa:
A Afrodite pagã, que o pejo afronta, Exposta nua do universo às vistas, Dos seios duros na marmórea ponta, Amamentando gerações de artistas, Não se excede...
E tinham razão, um e outro. O colo de Dona Lola era o orgulho e a glória da guarnição. Era-o, mesmo, de tal modo, que o tenente Abelardo Menezes, ajudante de ordens do coronel, passava a almoçar e a jantar na casa do seu comandante, o qual o deixava na sal a fazer as honras da palestra à formosa senhora, enquanto ele ia percorrer, uma a uma, as guaritas das sentinelas.
Certa noite, porém, tendo de ir à cidade, a chamado do ministro, chegou o tenente ao forte um pouco tarde, encaminhando-se, logo, para a residência do coronel, que havia deixado na sede do comando. Com a familiaridade a que se habituara, foi, logo, enveredando pela casa; mas para estacar na saleta, os olhos esbugalhados: na sala, no divã, estavam Dona Lola e o tenente Avelino Sampaio, que afundava a cabeça, filia, no colo soberbo da linda senhora.
Pé ante pé, retirou-se; e mal havia saído, rumo da sede do comando, cruzou no caminho, com o coronel, que ia, calmo, para casa.
— Vai surpreendê-los! — pensou, com um íntimo sentimento de vingança.
E não se enganou. Momentos depois, estava o moço oficial no escritório do forte quando apareceu o comandante. Vinha apoplético, furioso.
— Senhor tenente Menezes, dirija-se à minha casa, e dê ordem de prisão, ali, ao tenente Avelino, recolhendo-o preso.
De pé, a mão no quepe, o moço oficial recusou-se:
— Perdão, meu comandante; é impossível. Estou impedido, por ser parente do Sr. tenente Avelino.
E firme, teso, marcial, em continência, antes que o coronel lhe pedisse explicações:
— O Sr. tenente Avelino é meu irmão de leite!