Archanjo da poesia! Vem e pousa Na lyra
ao trovador. Vibra-lhe as cordas C'os
roseos dedos; põe-lhe os sons divinos
Dessa etherea mansão por onde libras
Nas cambiantes azas d'oiro e prata,
Com ceruleos listões de puro esmalte!
Archanjo! Ao trovador, teus doces risos,
Nas illusões d'amor, banhem seus versos;
Engrinalda-lhe a lyra co'as papoilas
Que nos campos do céu á noite brotam;
Um beijo teu, na fronte, venha dar-lhe
Celeste inspiração aos ardimentos;
Teu halito co'as brisas lhe cicie
Na grenha da floresta amenos carmes,
No perfume da flor canções singelas,
Da rôla no gemer ternas saudades,
Ou, por fisgas de penha alcantilada,
Um rígido cantar, na voz do vento.
Archanjo! Ao trovador ensina, empresta
As mil chaves que tens d'abrir mil cofres
Ou da terra, ou do mar, do céu, do inferno!
Vem, vem, que o trovador, ousado, enjeita
As cançadas ficções da velha Grecia,
Quebra numes d'Ascreu, Musas despreza,
Renega antigas leis, descrê do Olympo,
Deixa Elysios, Parnasos, Hippocrenes,
Bebe do patrio amor nas patrias fontes,
Ama o sol da sua terra, os montes delia,
E por Musas te quer, por crença o Eterno,
O mundo por altar, os céus por templo!