(Sobre um conto de Lafontaine)

O Convento da Graça, erguido naquele outeiro florido, servia principalmente para abrigar mocinhas que, desde criança, haviam mostrado vocação para a vida religiosa. Era, por isso, um jardim de açucenas, um recanto de pureza, um ninho de candura, em que não penetrara, jamais, a idéia do pecado. E foi quando lhe foi bater à porta, o rosto pálido, os olhos macerados, aquela maravilhosa figura de mulher, confessando à superiora a sua situação:

— Eu fui, madre, uma grande pecadora. A minha mocidade foi consumida toda no prazer e no pecado. Agora, porém, reconheci o meu erro, e quero tornar, definitivamente, ao caminho da perfeição, através da penitência!

Comovida por tanta sinceridade, a madre-superiora abriu-lhe os braços e a porta do casarão votado a Deus, e nunca se viu, no convento, noviça, ou freira, que mais se aprofundasse na oração. Dia e noite, passava-os irmã Tereza de joelhos, com o rosto mergulhado no breviário; e de tal modo que a superiora, edificada com tamanha santidade, apontou-a, um dia, como exemplo, às meninas:

— Mirai-vos naquele espelho, minhas filhas; evitai o mundo, e vivei na meditação, como irmã Tereza! Imitai-a, minhas filhas!

— Ah, madre, isso é impossível! — retrucaram, logo, duas ou três noviças. — Nós só poderemos chegar àquela perfeição, depois.

E de olhos baixos, as mãos cruzadas no peito:

— Nós só poderemos ser o que ela é, madre, depois de termos sido o que ela foi...