Era uma obsessão aquilo do Rodrigo Maia: ele havia de morrer cedo, deixando viúva a sua querida Eleonora, a qual, tão linda, tão elegante, tão jovem, casaria outra vez, indo tombar noutros braços.
— Que tolice, Rodrigo! — protestava a esposa, nessa tarde. — Tu estás forte, moço, com saúde, por que essa mania de falar em morte?
Com a cabeça do marido encostada ao travesseiro de plumas do seio macio, Eleonora tranqüilizava o companheiro de cinco anos de casamento. Que ele não se afligisse com essa idéia de que ela casaria de novo, quando ele morresse. O seu nome, ela o guardaria eternamente, através da vida.
E enquanto falava, ia-lhe apertando a cabeça ligeiramente grisalha, de encontro ao decote cheiroso.
— E se casares? — teimou o marido.
_ Não caso não, filhinho; fica tranqüilo.
— Jura, então!
Os lindos olhos para o teto, onde o "abatjour" dançava embalado pela brisa doce do campo, a moça fez, então, aquele juramento sublime:
— Pelas horas que são, eu te juro, meu marido, que posso ficar viúva cinco, dez, vinte vezes, e não me casarei nunca!
E beijando-lhe os cabelos entremeados de prata, sob os quais os pensamentos, enganados, se acomodavam:
— Estás satisfeito?