O sr. Gaudêncio Guimarães de Oliveira Filho fora, sempre, um homem intransigente em negócios de honra. Antigo chefe eleitoral no Estado do Rio, mudara-se para esta capital, com a esposa e uma filha pequenina, além de suportar o ostracismo. E aqui ia vivendo à custa da caixa do partido, e de outros rendimentos eventuais, de origem mais ou menos honesta.

Certo dia, porém, o sr. Gaudêncio explodiu, furioso. Tinha ele entrado da rua, quando encontrou na sala de visitas, estendido no sofá, um vestido de seda branca, bordado de azul, com a etiqueta de uma grande casa de modas da Avenida.

— Quanto custou este vestido, Luíza?

— Oitocentos mil réis, — informou a moça, chegando-se, os olhos baixos.

— É teu?

— É sim, — confessou a pobre, no mesmo tom.

A essa informação, o antigo chefe eleitoral sentiu uma onda de sangue subir-lhe ao rosto. E foi vermelho, apoplético, que estrugiu, dentes cerrados:

— Então tu tens coragem de trair-me por causa de um vestido?...

— Eu não, Gaudêncio! — gemeu a infeliz, insultada.

E justificando-se:

— Ele deu, também, o chapéu...