Quando no espaço bruxoleia a aurora,
Mandando á terra divinaes pallores,
O doce orvalho, que nos campos chora,
São lagrymas e amores.
Nas frescas tardes, nas manhãs de maio,
Que aqui renascem, que alli brotam flores,
Quando chorarem, o seu pranto amai-o,
São lagrymas e amores.
Amai-o; as flores tambem têm segredos,
Sim, vivem, morrem, teem sorriso e dores ;
Vêde esse pranto, decifrai enredos,
São lagrymas e amores.
Quando, transpondo do horisonte a corda,
O sol se despe dos gentis fulgores,
Brancas estrellas de que o céo se borda,
São lagrymas e amores.
Quando na campa, que o cypreste esguio
Com a sombra cobre de enluctadas côres,
Chorarem brisas, que acordou o estio,
São lagrymas e amores.
Quando o arco-iris lá no cèo se arqueia;
Para, chovendo, refecer calores,
Esses gottejos porque o sol anceia,
São lagrymas e amores.
Quando, por noites de luar ameno,
O céo se esmalta de cem mil primores,
Esses rorejos do subtil sereno
São lagrymas e amores.
Quando branquejam, de manhã, neblinas,
Cobrindo os campos, o que são ?–vapores.
Que o pranto gera das canções divinas,
São lagrymas e amores.
Chrystaleas aguas, que o Amazona atira
Nas nossas terras a trajar verdores,
E os sons cadentes, que eu na matta ouvira,
São lagrymas e amores.
As niveas perolas de nitente alvura,
Que a fonte clara salpicou nas flores,
Serão segredos de amorosa jura ?
São lagrymas e amores.