Ex-reitor da UFPE, Geraldo Lapenda foi um filólogo. Aprendeu sete idiomas, além de elaborar uma gramática na língua dos índios fulni-ô.
“Era um homem de bem. Era humilde e bom. E, por acréscimo, ainda sabia vários idiomas.” Com essas palavras, o professor de Direito José Luiz Delgado parece ter definido de maneira exemplar o caráter e a competência profissional de Geraldo Lapenda, professor aposentado do Departamento de Letras e ex-reitor da Universidade, falecido em dezembro do ano passado.
Mas Lapenda era mais do que isso. Fluente em várias línguas, como espanhol, francês, inglês, italiano, latim, grego e tupi, ainda se meteu numa empreitada digna de registro: aprendeu o iathê, língua dos índios fulni-ô, e descreveu-lhe a estrutura, elaborando uma gramática que ficou famosa.
Aryon Rodrigues, professor da Universidade de Brasília, era um dos admiradores dessa gramática, que Lapenda preparou depois de um longo e paciente aprendizado da língua com um índio fulni-ô. “Ele era, profissionalmente, um filólogo, e não um lingüista. Por isso, cresce de importância o seu mérito”, reconhece Aryon. De fato, o professor era, sobretudo, um apaixonado pela cultura clássica, que conhecida profundamente. “Ensinou-me latim de maneira muito interessante, através do texto das Metamorfoses de Ovídio”, diz a professora Nelly Carvalho, do Departamento de Letras. “Tinha uma didática perfeita, que tentei imitar em vão”, elogia.
“Guardo dele a melhor lembrança, como pessoa, dono de uma vasta cultura clássica e de uma simplicidade franciscana”, recorda o jornalista Juracy Andrade, fundador da Assessoria de Comunicação da UFPE e que com ele conviveu, por ocasião do seu reitorado. Era fácil abordar Lapenda, pedir-lhe explicação para algum ponto complexo, quer fosse em filosofia, literatura clássica ou línguas.
Nessas ocasiões, ele costumava conduzir a pessoa para um lugar reservado e al, longe do barulho do mundo, dar uma verdadeira aula sobre o assunto.
“Amizade, sinceridade e lealdade foram sempre suas companheiras”, assegura Ana Lúcia Lapenda, sua filha e também professora de Letras. Lapenda tinha forte formação religiosa, tendo sido aluno de Teologia na Universidade Gregoriana, em Roma. “Entendeu não ter havido, de modo efetivo, a vocação”, explica o advogado e professor da UFPE Palhares Moreira Reis.
Lapenda então voltou ao Brasil e deu início à carreira no magistério, ensinando, inicialmente, nos mais diversos colégios recifenses, inclusive o então requisitado Ginásio Pernambucano. “Um dia, me expulsou merecidamente da sala de aula, mas era um grande mestre”, lembra José Carlos Poroca, executivo, advogado e cronista, que foi seu aluno no Pernambucano.