Liberal minino,
Deos meu ſoberano,
Vós por mi humano,
Eu por vós divino.
Vòs hoje humanado
Em troco exquiſito.
Dando o infinito
Pelo limitado.
Voſſa divindade
Digna só de vòs,
Hoje atais aos nòs
De huma humanidade.
Que he iſto meu Deos,
Que myſterio enſerra.
Que naçais da terra,
Sendo autor dos ceos?
Se nella quereis
Nacer, porque amais
Como a não buſcais
Como a mereceis?
Eſſe terreal
Paraiſo em flor,
Não fora melhor,
Que não hum portal?
Não fora mais juſto
Pois Rey vindes ſer,
Quererdes nacer
Num palacio auguſto?
Neſſa Hieruſalém
Cidade tão bella
Não nacereis nella,
Melhor que em Belem?
Mas vencido fico,
Que a fè me deſcobre,
Que nacer taõ pobre,
Sendo vòs tão rico;
He que em tal myſterio,
Nos quereis moſtrar,
Voſſo amor ſem par,
& não voſſo imperio.
Eſtribillo.
O minino que vedes ſerranos
O Rey he dos Reys, o ſenhor dos ſenhores,
Olhai que favores,
Que oje dèce dos cèos ſoberanos
Por vir a nacer entre humildes paſtores.
Coplas.
Tão grande favor
As pedras abrande.
Pois o julga grande,
Inda o meſmo amor.
Já d'oje em diante,
Que bem não teremos?
Vendo tais extremos
Tendo tal amante?
Jà por vòs alcança
Lograr no que ve,
Venturas a fé,
Glorias a eſperança.
Serranos da ſerra,
Baixai, que fazeis?
Vinde ver vereis
Todo o ceo na terra.
Vinde ver Maria,
& o ſeu eſpoſo ſanto,
Vinde ouvir o canto,
Da alta Hierarchia.
Vinde ver paſtores,
Hum paſtor divino,
Que inda que he minino,
Jà tem mal de amores.[1]
Poſtos de giolhos[2]
Com mudas razoẽs,
Voſſos coraçoens,
Moſtrem voſſos olhos.
Inda que penetra
Deos interiores,[3]
Cantailhe paſtores,
Cantailhe eſta letra.[4]
O minino que vedes ſerranos
O Rey he dos Reys, o ſenhor dos ſenhores,
Olhai que favores,
Que oje dèce dos cèos ſoberanos
Por vir a nacer entre humildes paſtores.