Todos os dias os jornais trazem notícias de questões de limites entre Estados e agora já chega a vez dos municípios.
De norte a sul do país as há ou as houve. O Ceará, certa vez, quase engalfinhou-se com o Rio Grande do Norte; e o Paraná andou às turras com Santa Catarina por causa de terras vizinhas e, em virtude disso houve mortes de sobra.
Parecia que isso tinha acabado, mas vejo que não. Há dias li a notícia que uma vasta comissão de sumidades se havia reunido, para assentar as bases de resolver as que existem entre São Paulo e Minas Gerais. É possível ainda? Pois nós estamos num país, onde há "terras de ninguém", como é que as suas partes políticas ainda se disputam fragmentos de terrenos que não pertencem a cada uma delas, mas à totalidade da nação?
Mas não são só os Estados; os municípios também. O Distrito Federal tem uma questão de limites com o Estado do Rio de Janeiro; mas aí a coisa é mista.
Há contudo, melhor. No excelente O Estado,que se publica em Níterói, há um longo artigo, apaixonado, reclamando sobre questões de limites entre os municípios de Santa Maria Madalena e São Francisco de Paula.
Parecia que santos não deviam brigar, mas não é este o tom da carta, pois não é artigo como disse antes.
Faço um florilégio dela, para os leitores avaliarem o azedume da missiva.
Depois de citar leis, alvarás, decretos, etc., diz:
"Conformaram-se e viviam satisfeitos e tranquilos com o que pelo referido decreto passou a pertencer-lhes. Não se dava outro tanto com os franciscanos. Pertencendo a maior parte dos terrenos do município de São Francisco a uma só família, que não via com bons olhos Madalena, não perdia ocasião essa família de investir contra ela."
Leram. Já não é uma luta de municípios; é uma luta de partidos!
Não param aí os assaltos do município pelos vizinhos que lhe usurpam os direitos; mas que, confiante nos seus direitos, trate de reivindicá-los.
Campos, o poderoso Campos, também quer avançar nas suas terras. Temos aqui este pedacinho menos veemente:
"Sobre a velha questão de Madalena com Campos, acerca de seus limites, está em vias de ser solucionada pelo digno presidente do Estado, a cujo estudo foram submetidos os respectivos documentos."
A continuarem as coisas assim, em breve, haverá questões de limites entre distritos ou circunscrições, bairros e ruas. O Brasil está bem unificado.
Careta, Rio, 6-12-1919.