Ei-la trajando verdores,
A linda mãe dos amores,
Com seus volateis cantores
Pelos campos a folgar;
Ei-la folgando na mata,
Que nas aguas se retrata,
Nas aguas de liza prata,
Na prata do lizo mar.

Salve, rainha formosa!
Festeja-te o lirio, a rosa,
Dos jardins a mariposa,
Do trovador a canção;
Festeja-te a pastorinha.
Que nas côres te adivinha
Um pensamento, que tinha,
Que tinha no coração.

D’aldéa o sino te chama.
E o moço, que deixa a cama
Porque vai ver a quem ama
Ao pé da encosta d’além:
Suspiram-te sempre os montes,
Abraçam-te os horizontes,
Choram-te rios e fontes,
Nas fontes d’amor que teem.

Bem diz-te o velho, e ensina
A’ néta, que é pequenina,
Rezas sanctas da divina
Crença, que tem no Senhor;
Bem diz-te o armento balando,
Do tumilho o cheiro brando,
E o pegureigo cantando,
Cantando mágoas d’amor.

Vem, ó linda madrugada,
Vem de violetas c’roada,
Pelas brizas embalada,
Vem n’estes campos folgar;
Folga nos céus e na mata,
Que nas aguas se retrata,
Nas aguas de liza prata,
Na prata do lizo mar.