Pescadores do Mondego,
Que girais por essa praia,
Se vós enganais o peixe,
Tambem Lize vos engana.
Vós ambos sois pescadores;
Mas com differença tanta,
Vós ao peixe armais com redes,
Ella co’olhos vos arma.
Vós rompeis o mar undoso;
Para assegurar a caça;
Ella aqui no porto espera,
Para lograr a filada.
Vós dissimulais o enredo,
Fingindo no anzol a traça;
Ella vos expõe patentes
As redes, com que vos mata.
Vós perdeis a noite, e dia
Em continua vigilancia;
Ela em um só breve instante
Consegue a presa mais alta.
Guardai-vos, pois, Pescadores,
Dos olhos dessa tyranna;
Que para trofeos de Lize
Despojos de Alcemo bastão.
Em quanto as ondas ligeiras
Desta corrente tão clara
Inundarem mansamente
Estes álamos, que banhão;
Eu espero, que a memoria
O conserve nestas agoas,
Por padrão dos desenganos,
Por triunfo de uma ingrata.
E na frondosa ribeira
Deste rio, triste a alma
Girará sempre avizando,
Quem lhe soube ser tão falsa.