No templo de Deus, Francina
Devota rezando ‘stava;
Seus negros olhos fitava
No lenho da redenção:
E silêncio revelava
As preces do coração.
 
De joelhos de mãos postas
Para o céu as levantava,
E mais formosa ficava
Nessa humilde posição:
Eu, que herege a contemplava,
Tinha fé e devoção...
 
De mãos postas, a seu modo
Eu também me ajoelhava,
Com devoção... com fervor.
Mas... de Deus não me lembrava
Naqueles salmos d’amor!
 
Não me lembrava de Deus...
Não! o Deus, que eu adorava,
De quem a graça implorava
Nas preces do coração,
Seus negros olhos fitava
No lenho da redenção...
 
Era, sim, meu Deus, Francina
Que a devoção me inspirava
Era Deus, que eu adorava
Das orações no fervor...
Como devoto rezava
Eu rebelde pecador!...
 
“Rezas para Deus, Francina?
Eu, Francina, para ti!
Minhas culpas, querubim,
Me pesam no coração!
Perdoa se te ofendi
Amando com devoção
A esses olhos serenos,
A esses lábios — rubins,
a essas faces — jasmins,
Essa toda — perfeição!
Pequei, pequei! ai de mim
Se morro sem teu perdão!
Volve teus olhos piedosos
Para o pecador — cristão!
Dá-lhe um riso! salvação
Para esperanças d’amor,
Que às hordas do inferno ‘stão,
Com elas o pecador!
Pelo amor d’esses teus olhos,
Que fanais d’amores são,
Eu te exoro o meu perdão
D’amar-te com tanto amor!
Francina, tem compaixão!
Graça, graça ao pecador!”
 
De mãos postas, a seu modo
Eu também me ajoelhava,
E d’este modo rezava
Com devoção, com fervor;
Quem sabe se eu me salvava
Sendo sempre pecador?...