Madeiro altivo vem cingrando ao longe

DEDICAÇÃO



Madeiro altivo vem cingrando ao longe
Per entre as agoas mansas d’esmeraldas,
Com pavilhão das Quinas Luzitanas,
Que tremulando pelo meigo sôpro
De suave brisa, — ufano, — as altas grimpas
D’alcantis primorosos, — saúda altivo!
E a instantes — repetidos échos sôam
Reflectindo nas agoas o estampido
D’alguns canhões que trôam!
E morre pouco e pouco o som nas vagas,
Annuncio lisongeiro, que alto préga
A vinda — a excelsa vinda desejada
Do da Monarca o meritorio Enviado, —
Do digno Regedor d’Africa adusta!

Exulta de Benguella, ó povo, exulta,
Neste dia de dois d’Agosto excelso
Dia p’ra nós gravado no imo d’alma!

Qual, atravez d’insolitos perigos,
Vae de soccorro a um filho — o Pai bondoso,
Tal, entre nós, Accacio da Silveira;
Sem medo á morte, no rigor de um clima,

Por sóes queimado
De peste insana,
Accode e vôa, melhorando os fados
Da rica terra d’Africa a seu mando!

Com gesto brando, e com olhar bem fito
Aos int’resses da pátria, — qu’em seu peito,
Com voz d’alma lhe bradam, attento presta
Melhoramentos na Provincia morta,
Pelo mundo olvidada, e só, e triste,
Qu’inda mais fôra, se do avaro
A mente ardida, e as mãos sempre pejadas
Do oiro qu’em seu seio arranca astuto,
Não contivera em bando os que hão brotado!

Mas fadou-nos o Céo tão meiga Estrella,
Em nós já fulgurando, — e tão serena,
Que Fados só de amor, e de venturas
Se nos antolham ricos — e prismados!
Saúdemos — Deos — o Regedor do Mundo!
Saúdemos na Monarcha — a mui cabida, —
A meritoria Escolha! — Saúdemos!

E um hymno de glôria dos Céos emmanado,
Nascido do peito, sentido em noss’alma,
Do côro dos Anjos — por elle inspirado
Cantemos a Accacio — e teçamos a palma

Virente, e despedida
D’insensos gelados,
Mas só revestida
De odores fadados
De brilho e primor
Na estima, e no amor!

Gloria a ti, que nos reges bondoso
Nestes plainos do ardente torrão,
Onde a esp’rança já morta renasce,
Onde é livre, quem livre é Christão!

Já de sobre estes montes voseia
Essa Lei — qu’escrevestes co’a mão, —
Santa Lei que de rôjo posterga
Os martyrios, e dura oppressão.

Tudo corre, e s’apresta anhelante
Na Cidade, e no campo a bradar, —
«Viva Accacio que n’Africa rege,
Qu’em noss’alma sempre hade reinar!»

Gloria a ti, que nos reges bondoso
Nestes plainos do ardente torrão,
Onde a esp’rança já morta renasce
Arvorando o seu nobre pendão!