Coluna Sem Prestes

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Alceu A. Sperança

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Cascavel (PR) - Os professores conseguiram inserir no belo Plano Municipal de Educação para o decênio 2004/14 um “ovo de Páscoa” que já lhes permitiu por duas vezes indicar, via eleição interna, o secretário municipal do setor. Mais recentemente, o vereador Jadir de Mattos propôs que as entidades representativas do empresariado apresentem uma lista tríplice para que o prefeito pince dela o nome de seu secretário da Municipal da Indústria, Comércio e Turismo.

Façamos mais projeções, para esticar a coisa e ver se a corda não arrebenta. Se professores e empresários podem escolher secretários, é de se presumir que a OAB e o Clube dos Advogados também pudessem, por isonomia, fazer lista tríplice para a Procuradoria Geral e Procon. Os engenheiros e arquitetos fariam sua listinha para a Secretaria do Planejamento. Os contabilistas, para as Finanças. Os médicos, para a Saúde. As associações de bairro, para Assuntos Comunitários. Num rasgo supremo de orientação democrática, os garis e os catadores de papel, hoje chamados de “agentes ecológicos”, indicariam o secretário do Meio Ambiente e os meninos de rua e os favelados indicariam o secretário de Ação Social. Nós, que já fomos assaltados na rua e tivemos as casas arrombadas, muito lógico, escolheríamos o secretário da Segurança Pública.

De posse de todas as listinhas, o prefeito faria com elas o famoso “uni-duni-tê, o escolhido foi você”. Pronto: aí o secretariado estaria completo e tomaria posse em grande e democrático estilo. Assim a felicidade reinaria nesta mui valerosa comunidade. Reinaria? Reinaria, na verdade, uma grande confusão. A história demonstra que secretário nomeado por critérios “políticos”, ou seja, através de conchavos partidários e corporativos, têm uma enorme chance de quebrar a cara logo nos primeiros dias. Primeiro porque se julga dono da secretaria, conquistada por seu partido ou categoria, e que pode comandá-la a seu talante, mesmo que em contradição com as demais secretarias e o conjunto da administração.

Feudos desconectados

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Não se monta secretariado com listas tríplices corporativas. A Acic não precisa indicar burocrata municipal. A OAB não tem nada que indicar procurador. Os catadores de papel não devem indicar o secretário do Meio Ambiente. Há uma eleição, um partido é escolhido e tem a seu encargo montar uma equipe tecnicamente capaz de levar as tarefas históricas adiante. As entidades devem pressionar a boa pressão, pois são vozes representativas. De resto, papel de empresário é empresariar e não confundir a Prefeitura com sua loja. Um secretário de Indústria e Comércio não precisa ser empresário. Um bom coordenador de projetos funcionaria melhor. Igualmente, um secretário da Saúde não precisa ser um médico: o cargo não é curativo, é administrativo. Nem um secretário de Ação Social tem que ser um mendigo ou favelado.

Secretário precisa apenas merecer a confiança do prefeito. Será ele a passar à história como bom ou mau administrador. Administração feita com listas tríplices só cria feudos desconectados e corporativos, pequenos reinos dentro de um grande reino seriamente inclinado ao fracasso. Administração moderna, tomando o gancho do secretário William Fischer, é transversalidade: os projetos executados rápida e agilmente em processo de integração co-participante, de preferência usando os barnabés mais experientes e respeitados para as tarefas de execução e comando, sem esse mar de parentes que abunda (e cheira mal) na administração pública.

(Fonte: jornal O Paraná, fevereiro de 2006)