As nuvens, que, em bulcões, sobre o rio rodavam,
Já, com o vir da manhã, do rio se levantam.
Como ontem, sob a chuva, estas águas choravam!
E hoje, saudando o sol, como estas águas cantam!
A estrela, que ficou por último velando,
Noiva que espera o noivo e suspira em segredo,
- Desmaia de pudor, apaga, palpitando,
A pupila amorosa, e estremece de medo.
Há pelo Paraíba um sussurro de vozes,
Tremor de seios nus, corpos brancos luzindo...
E, alvas, a cavalgar broncos monstros ferozes,
Passam, como num sonho, as náiades fugindo.
A rosa, que acordou sob as ramas cheirosas,
Diz-me: "Acorda com um beijo as outras flores quietas!
Poeta! Deus criou as mulheres e as rosas
Para os beijos do sol e os beijos dos poetas!"
E a ave diz: "Sabes tu? conheço-a bem... Parece
Que os Gênios de Oberon bailam pelo ar dispersos,
E que o céu se abre todo, e que a terra floresce,
- Quando ela principia a recitar teus versos!»
E diz a luz: "Conheço a cor daquela boca!
Bem conheço a maciez daquelas mãos pequenas!
Não fosse ela aos jardins roubar, trêfega e louca,
O rubor da papoula e o alvor das açucenas!"
Diz a palmeira: "Invejo-a! ao vir a luz radiante,
Vem o vento agitar-me e desnastrar-me a coma:
E eu pelo vento envio ao seu cabelo ondeante
Todo o meu esplendor e todo o meu aroma!"
E a floresta, que canta, e o sol, que abre a coroa
De ouro fulvo, espancando a matutina bruma,
E o lírio, que estremece, e o pássaro, que voa,
E a água, cheia de sons e de flocos de espuma,
Tudo, - a cor, o dano, o perfume e o gorjeio,
Tudo, elevando a voz, nesta manhã de estio,
Diz: "Pudesses dormir, poeta! no seu seio,
Curvo como este céu, manso como este rio!"