Manifestos Cypherpunks/Manifesto Criptoanarquista

MANIFESTO

CRIPTOANARQUISTA

(1992)[1]


Timothy C. May


Cypherpunks do mundo,

Vários de vocês, na “reunião presencial de Cypherpunks”, realizada ontem no Vale do Silício, pediram que o material distribuído nas reuniões estivesse disponível também eletronicamente para todo público da lista de Cypherpunks.

Aqui está “O Manifesto Criptoanarquista”, que eu li na reunião de fundação, em Setembro de 1992. Ele remonta a meados de 1988 e foi distribuído a alguns “tecnoanarquistas” de mentalidade semelhante, na conferência “Crypto 88” e novamente na conferência “Hackers”, este ano. Eu conversei mais tarde sobre isto com alguns hackers em 1989 e 1990.

Há algumas coisas que eu mudaria. Mas por razões históricas, deixarei o assunto assim. Alguns dos termos podem não ser familiares pra você. Espero que o Cripto Glossário que acabei de distribuir lhe ajude.

(Isto explica todos estes termos crípticos na minha assinatura!)

— Tim May

O MANIFESTO CRIPTOANARQUISTA

Timothy C. May - 1992

Um espectro está assombrando o mundo moderno, o espectro da cripto anarquia.

A ciência da computação está a ponto de fornecer a grupos e indivíduos a capacidade de se comunicar e interagir uns com os outros de maneira totalmente anônima. Duas pessoas podem trocar mensagens, conduzir negócios e realizar contratos digitais sem nunca conhecer o verdadeiro nome ou a identidade legal da outra parte. Interações em rede serão irrastreáveis, através de extensivo reencaminhamento de pacotes criptografados e caixas invioláveis, que implementam protocolos criptográficos com garantia quase perfeita contra qualquer adulteração. Reputações serão de importância central, muito mais importantes nas negociações do que nas avaliações de crédito de hoje. Esses desenvolvimentos irão alterar completamente a natureza da regulamentação governamental, a capacidade de taxar e controlar as interações econômicas, a capacidade de manter as informações em segredo e até mesmo alterar a natureza da confiança e da reputação.

A tecnologia para essa revolução — que certamente será tanto uma revolução social quanto econômica — já existia, em teoria, durante a última década. Os métodos são baseados em criptografia de chave pública, provas de conhecimento zero (zero knowledge proofs; ver Glossário ao final) interativos e vários protocolos de software para interação, autenticação e verificação. O foco, até agora, tem sido em conferências acadêmicas na Europa e nos EUA, monitoradas de perto pela Agência de Segurança Nacional (NSA). Mas só recentemente as redes de computadores e computadores pessoais atingiram velocidade suficiente para tornar as ideias realizáveis na prática. E os próximos dez anos trarão velocidade suficiente para tornar as ideias economicamente viáveis e essencialmente imbatíveis. Redes de alta velocidade, caixas invioláveis, cartões inteligentes, satélites, transmissores, computadores pessoais e chips criptográficos, agora em desenvolvimento, serão algumas das tecnologias facilitadoras.

O estado tentará, é claro, desacelerar ou deter a disseminação dessas tecnologias, citando preocupações com a segurança nacional, o uso da tecnologia por traficantes de drogas e sonegadores de impostos, e temores de desintegração social. Muitas dessas preocupações serão válidas; a criptoanarquia permitirá que segredos nacionais sejam vendidos livremente e permitirá que materiais ilícitos e roubados sejam comercializados. Um mercado informatizado anônimo vai tornar possíveis mercados abomináveis para assassinatos e extorsões. Vários elementos criminosos e estrangeiros serão usuários ativos da CriptoNet. Mas isso não vai parar a propagação da criptoanarquia.

Assim como a tecnologia da impressão alterou e reduziu o poder das guildas medievais e a estrutura do poder social, os protocolos criptográficos também vão alterar fundamentalmente a natureza das corporações e as interferências do governo nas transações econômicas. Combinado com mercados de informação emergentes, a criptoanarquia criará um mercado líquido, para todo e qualquer material que possa ser colocado em palavras e imagens. E assim, como uma invenção aparentemente insignificante, como o arame farpado tornou possível o cercamento de vastas fazendas e territórios, alterando para sempre os conceitos de terra e direitos de propriedade na fronteira ocidental, também, a descoberta aparentemente menor de um ramo arcano da matemática se tornará o alicate que cortará o arame farpado em torno da propriedade intelectual.

Ergam-se, vocês não têm nada a perder a não ser as cercas de arame farpado!

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  1. Tradução: Coletivo Cypherpunks, disponível em https://cypherpunks.com.br/biblioteca/o-manifesto-criptoanarquista/ com revisão de Victor Wolffenbiittel. O original, em inglês, está aqui: https://nakamotoinstitute.org/crypto-anarchist-manifesto/