Muito embora, Marília, muito embora
Outra beleza que não seja a tua
Com a vermelha roda, a seis puxada,
Faça tremer a rua;
As paredes da sala aonde habita
Adorne a seda, e o tremó dourado;
Pendam largas cortinas, penda o lustre
Do teto apainelado;
Tu não habitarás palácios grandes,
Nem andarás nos coches voadores;
Porém terás um Vate que te preze,
Que cante os teus louvores.
O tempo não respeita a formosura,
E da pálida morte a mão tirana
Arrasa os edifícios dos Augustos
E arrasa a vil choupana.
Que belezas, Marília, floresceram
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno
Os versos ou a história.
Se não houvesse Tasso, nem Petrarca,
Por mais que qualquer delas fosse linda,
Já não sabia o mundo, se existiram
Nem Laura, nem Clorinda.
É melhor, minha Bela, ser lembrada
Por quantos hão de vir sábios humanos,
Que ter urcos, ter coches e tesouros
Que morrem com os anos.