Não praguejes, Marília, não praguejes
A justiceira mão, que lança os ferros;
Não traz debalde a vingadora espada;
Deve punir os erros.

Virtudes de Juiz, virtudes de homem
As mãos se deram, e em seu peito moram.
Manda prender ao Réu austera a boca,
Porém seus olhos choram.

Se à inocência denigre a vil calúnia,
Que culpa aquele tem, que aplica a pena?
Não é o Julgador, é o processo,
E a lei, quem nos condena.

Só no Averno os Juízes não recebem
Acusação, nem prova de outro humano;
Aqui todos confessam suas culpas,
Não pode haver engano.

Eu vejo as Fúrias afligindo aos tristes:
Uma o fogo chega, outra as serpes move;
Todos maldizem sim a sua estrela,
Nenhum acusa a Jove.

Eu também inda adoro ao grande Chefe,
Bem que a prisão me dá, que eu não mereço.
Qual eu sou, minha Bela, não me trata,
Trata-me qual pareço.

Quem suspira, Marília, quando pune
Ao vassalo, que julga delinqüente,
Que gosto não terá, podendo dar-lhe
Às honras de inocente?

Tu vences, Barbacena, aos mesmos Titos
Nas sãs virtudes, que no peito abrigas:
Não honras tão-somente a quem premeias,
Honras a quem castigas.