Eu descubro procurar-me
Gentil mancebo, e louro;
Trazia a testa adornada
Com folhas de verde louro.
Vejo ser o Pai das Musas,
E me entrega a lira d'ouro.

Já basta, me diz, ó filho,
Já basta de sentimento;
O cansado peito exige
Um breve contentamento:
Louva a formosa Marília
Ao som do meu instrumento.

Firo as cordas; mas que importa?
A dor não sossega entanto:
Ergo a voz; então reparo
Que, quanto mais corre o pranto,
É mais doce, e mais sonoro
Meu terno, e saudoso canto.

Apolo fitou os olhos
Na mão que regia o braço;
E depois de estar suspenso,
De me ouvir um largo espaço,
Assim diz: O Deus Cupido,
Faz inda mais, do que eu faço.

Eu te dou a minha lira:
Louva, louva a tua Bela;
Porém vê que ta concedo
Com condição, e cautela...
Eu lhe corto a voz dizendo,
Que só canto me honra dela.