Não hás de ter horror, minha Marília,
De tocar pulso que sofreu os ferros!
Infames impostores mos lançaram,
E não puníveis erros.

Esta mão, esta mão, que ré parece,
Ah! não foi uma vez, não foi só uma,
Que em defesa dos bens, que são do Estado,
Moveu a sábia pluma,

É certo, minha amada, sim, é certo
Qu'eu aspirava a ser de um Cetro o dono;
Mas este grande império, que eu firmava,
Tinha em teu peito o trono.

As forças, que se opunham, não batiam
Da grossa peça, e do mosquete os tiros;
Só eram minhas armas os soluços,
Os rogos, e os suspiros.

De cuidados, desvelos, e finezas
Formava, ó minha Bela, os meus guerreiros;
Não tinha no meu campo estranhas tropas;
Que amor não quer parceiros.

Mas pode ainda vir um claro dia,
Em que estas vis algemas, estes laços
Se mudem em prisões de alívios cheias
Nos teus mimosos braços.

Vaidoso então direi: Eu sou Monarca;
Dou leis, que é mais, num coração divino!
Sólio que ergueu o gosto, e não a força,
É que é de apreço digno.