O que eu quizera ser,
Para que eu fôsse ditoso,
Fartasse o meu coração;
Quizera passar no gozo
A vida — como o sultão,
E me faltasse o repouso
No prazer de Salomão.
Do fino ouro de Ophir
Em caçoilas d'ouro ardendo
Ambar e mirrha odoriferos,
Por todo Harem recendendo,
E os alabastrinos jarros
O rubro elixir vertendo.
De crystal nos lindos vasos
Frescas rosas de Thibet,
A papoula suporifera
Curva na haste della ao pé;
De lavrada prata em taça
O saboroso caffé.
Eu no divan recostado
Tendo as plantas no cocchim,
A bella circassiana
Curvada perto de mim,
Co'as madeixas arrastando
No tapete carmesim.
Dormir co'os labios casados
A' face de terna Hauri,
Acordar gozando os beijos,
Que ba pouco tempo senti,
E dormir ébrio de gozo,
Como ba bem pouco dormi.
Perder no gozo os sentidos,
Pensando a vida perder,
Despertar p'ra novos gozos,
Em gozo me converter;
E julgar morrer de gozo
Quando chegasse a morrer.
M.