CAPÍTULO VIII Ermidas da cidade de Angra Ermida de Nossa Senhora da Saúde Está situado ao lado norte da Praça da Restauração, um pequeno templo, reconstruido em 1884, com o nome de Nossa Senhora da Saúde, cuja arquitetura veio embelezar um pouco o largo onde está. Sobre os alicerces deste templo, existiu ate àquele ano, uma outra ermida, muito antiga, mandada construir por um dos ascendentes do Conselheiro Merens de Távora, tendo primitivamente o nome de ermida de São Cosme e São Damião, e depois o de Nossa Senhora da Saúde. Conquanto a história nada diga com relação à mudança de nome desta ermida, parece-nos, que ela teve origem em 1599, com a fundação de um hospital de saúde próximo daquele templo, por ocasião da grande epidemia da peste que assolou quase toda a ilha. Este pequena ermida, tornou-se notável na aclamação de D. João IV na ilha Terceira, sendo considerado como milagre, pelo povo angrense, o facto que passamos a descrever. Tendo chegado à Terceira, na madrugada de 7 de Janeiro de 1641 o capitão-mor da Vila da Praia, Francisco de Ornelas da Câmara, encarregado por El-Rei D. João IV, de proclamar a Restauração de Portugal, e fazê-lo reconhecer como Rei, reduzindo à sua obediência o Castelo de São Filipe. O governador desta fortaleza, D. Álvaro de Viveiros, tendo conhecimento do que se passava na Vila da Praia e mormente na cidade de Angra, tratou imediatamente de se acautelar contra a invasão do povo terceirense, fazendo recolher ao castelo, não só os seus soldados como também a pólvora e mantimentos que pôde alcançar.


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Na quarta-feira de Trevas daquele ano, vendo-se o povo sem munições para o combate, visto que os armazéns da pólvora, que então ficavam ao lado da ermida, estavam fechados, e as chaves em poder de Cristóvão de Lemos que se acolhera ao Castelo, conseguiram alguns arrombar as portas exteriores dos ditos armazéns, restando-lhe uma só, mais forte e irresistível aos golpes de machado. O desânimo apoderou-se de todos, menos do Padre António de Abreu, da Companhia de Jesus, que, com a chave da ermida de Nossa Senhora da Saúde, que era muito diferente, conseguiu abrir a última porta, facto este considerado como milagre da Virgem. Esta ermida conservou-se até 1880, em que começou a ser demolida, e imediatamente se deu princípio à construção do atual templo, mais amplo que o anterior e com a mesma invocação. É elegante o seu interior que se acha resguardado por um gradeamento de ferro. Tem um pequeno coro alto, e uma só capela onde estão as imagens de Nossa Senhora da Saúde, e aos lados Santa Ana e São José. Ermida da Natividade Na rua Duque de Palmela, e contígua ao palacete do Ex.mo Barão do Ramalho, está uma pequena ermida, sob a invocação de Nossa Senhora da Natividade, e que parece, segundo diz a história, um dos primeiros templos construídos em Angra. O Padre Cordeiro na sua História Insulana, referindo-se a várias ermidas de Angra, diz que a da Natividade pertencia aos pretos que serviam a cidade, e que, por Bula Apostólica era imediata a Roma. Esta ermida foi reconstruída, há poucos anos, e tem três capelas. Ao fundo, na capela-mor, estão as imagens de Nossa Senhora do Livramento e de São José, em pequenos nichos; e nas capelas laterais, São Lourenço, do lado da epístola, e do Senhor Jesus dos Aflitos, do lado do evangelho. Ermida de Santa Filomena Esta pequena ermida, construída pelo capelão de São Gonçalo, Roque José de Simas, está situada rua do Conselheiro Nicolau Anastácio de Bettencourt, próxima do Largo Onze de Agosto, e junta à casa que foi do seu fundador. Tem um sé altar com as seguintes imagens ao centro, a de Santa Filomena e um Crucifixo do Senhor Jesus dos Aflitos, tendo aos lados Santo António e Nossa Senhora da Conceição.


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Ermida do Espírito Santo Na mesma rua da antecedente e quase no seu extremo sul, encontra-se uma pequena ermida, construída em 1643 por Francisco de Ornelas da Câmara, sob a invocação do Espírito Santo. Depois de ter sido aclamado D. João IV em toda a ilha Terceira, e arvorada a bandeira portuguesa no Castelo de São Filipe, que passou a denominar-se de São João Baptista, seguiu para Lisboa Francisco de Ornelas, capitão-mor da Praia, a participar a El-Rei a boa notícia da capitulação da fortaleza, pelo que foi agraciado com a comenda de São Salvador de Penamacor, e colocado perante toda a corte à direita de El-Rei. Tais honras não podiam deixar de excitar invejas e ódios, não só nos estranhos como também nos seus próprios parentes, incriminando-o de traição, depois da sua chegada à Terceira, no modo como pretendeu reduzir o castelão D. Álvaro de Viveiros a entregar-lhe o Castelo de São Filipe. Por isto, foi preso Francisco de Ornelas e obrigado a defender-se no prazo de cinco dias. Passado este tempo, reuniram-se os juízes para o condenarem à morte, e tendo Francisco de Ornelas invocado o Espírito Santo, prometendo, se a sua inocência fosse manifesta, dar todos os anos esmolas, aconteceu que, na ocasião em que se lavrava a sentença, entrou voando pela sala dentro uma pomba, que, com o voo, entornou o tinteiro sobre a sentença inutilizando-a. Este facto foi logo considerado como um milagre, resolvendo os juízes participar a El-Ri o sucedido, bem como o voto feito por Francisco de Ornelas; pelo que foi ordenada nova devassa, que apurou a inocência do réu, e a 23 de março de 1643, o Tribunal da Relação, absolvia Francisco de Ornelas da Câmara, a quem a ilha Terceira devia a sua liberdade. Foi então que se construiu a ermida do Espírito Santo, que hoje apenas tem, sobre o altar, um painel a óleo, representando a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. Ermida da Boa Nova Situada no largo do mesmo nome e contígua ao Hospital Militar, foi esta ermida construída pelos castelhanos em 1584, ficando por este facto, pertencendo ao castelo. Nesta ermida, que no princípio se denominava de Nossa Senhora do Terço, existia o Sacramento, com uma rica confraria, cujos rendimentos passaram à Ordem de Cristo, depois da Guerra da Restauração. Quando, no dia 24 de fevereiro de 1642, foi avistada pelo povo terceirense que ladeava a ermida, a bandeira branca içada no mastro da fortaleza,


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soltou-se imediatamente o grito de «boa nova!», e com este nome ficou sendo conhecido o local e a ermida. Foi neste templo que se celebraram os tratados da capitulação castelhana pelo que El-Rei D. João IV, elevou esta ermida a capela real. Ainda hoje existe, sobre a modesta porta de entrada, o timbre das armas reais daquela época; e foi também ali que, em 1653, começou a devoção ao Terço, ensinado pelo insigne Padre António Vieira, no regresso do Maranhão. Depois de 1828, foi a ermida profanada, e nela funcionou a primei imprensa dos Açores, denominada da Prefeitura ou do Governo, desde 1832 até 1835, sendo compositor o emigrado português, sargento-ajudante batalhão de Voluntários da Rainha, João de Sousa Ribeiro. Retirada dali a imprensa por ordem do Prefeito Luís Pinto de Mendonça Arrais, barão de Valongo, alguns devotos conseguiram, com a aquiescência do governador do castelo, Joaquim Zeferino de Sequeira, restaurar esta ermida, onde se rezava todos os domingos de tarde, o Terço de Nossa Senhora, ficando de olhar por ela o dito Sousa Ribeiro que, sempre no mês de outubro, promovia a festividade da Santa Virgem. À hora da morte, pediu João de Sousa Ribeiro a seus filhos que continuassem a promover aquela festividade, o que tem sido escrupulosamente feito por seu filho João de Sousa Ribeiro e sua família. Esta ermida é de pequenas dimensões; tem um só altar com a imagem da Virgem e um pequeno coro alto. Ermida de Santo António da Grota Esta pequena ermida situada na encosta do Monte Brasil, sobranceira baía de Angra, foi mandada construir em 1615 pelo governador do castelo D. Gonçalo Mexia. O caminho que nos conduz esta ermida, é pitoresco pela situação em que se acha, e está colocado em plano superior, paralelamente ao do forte de Santo António. Nesta ermida está um só altar com a imagem de Santo António, que quase todos os anos é festejado com trezenas, promovidas pelos oficiais inferiores da guarnição do castelo. Ermida de Jesus, Maria, José Faz parte do recolhimento do mesmo nome e faz corpo com o edifício. O interior desta ermida, que foi reparada há poucos anos, é elegante e tem três capelas ou altares. Ao fundo, voltado ao norte, está a capela-mor, com o respetivo Sacrário,


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e no retábulo, que é de construção moderna, notam-se três imagens de Jesus, Maria e José. Do lado do evangelho, está uma capela com a imagem de Santo António; do lado da epístola, uma outra, com a de São João Nepomuceno. Esta ermida possui também dois coros, um por cima do outro, em frente à capela-mor, vedados por gradeamento de ferro, e que servem para as recolhidas poderem assistir aos atos religiosos. Ermida da Madre de Deus Pertence esta ermida ao distinto cavalheiro terceirense Vital de Bettencourt Vasconcelos, e está contígua ao seu palacete, na freguesia de Santa Luzia. O ingresso para esta ermida faz-se pela Rua da Boa Vista, de onde parte uma pequena viela em plano inclinado, indo terminar no grande pátio fronteiro ao edifício. Foi construída em 1732 pelo fidalgo Vital de Bettencourt e Vasconcelos, um dos antepassados ilustres do atual proprietário, dotando ao mesmo tempo a ermida, com um património de terra em Santa Bárbara, ficando tudo vinculado em morgado regular. Esta ermida tem uma só capela onde está a imagem de Nossa Senhora da Madre de Deus, tendo aos lados dois pequenos nichos, um com a imagem de Santa Ana, e o outro com a de São Joaquim. Sobre a porta de entrada, corre um pequeno coro alto, que tem comunicação com a casa de habitação e sobre a sacristia uma pequena tribuna. Ermida de Santa Catarina Ignora-se a data da construção deste templo, que está situado numa pequena elevação no extremo oeste da cidade. Deve ser anterior a 1640, pois que no cerco feito pelos terceirenses ao Castelo de São Filipe, existia ali um pequeno reduto denominado de Santa Catarina, destinado a vigiar a baía do Fanal, e impedir quaisquer socorros aos espanhóis. É de construção antiquíssima; a sua porta principal está situada numa das paredes laterais da ermida, ficando à direita um só altar com a imagem de Santa Catarina, e à esquerda um largo coreto alto. Esta ermida é acessível pelo lado da Rua de São Pedro, tendo-se de passar por um largo portão em arco e de subir alguns degraus em calçada.


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Ermida de Santo Cristo do Cruzeiro Acha-se situada num pequeno largo formado pelo encontro das ruas da Garoupinha, do Cruzeiro e da Memória e pela Ladeira de São Francisco. Segundo uns apontamentos encontrados no espólio do falecido Padre Francisco Rogério da Costa, depreende-se que naquele lugar existiu outrora um cruzeiro junto às hortas que ali havia, e ao qual iam as estações religiosas que se faziam nesta cidade. Estas hortas pertenciam a João Vieira, o Velho, em 1556, o qual era também instituidor da capela de São João Baptista, ao canto da rua do mesmo nome, onde hoje está uma loja de fazenda conhecida pelo nome de Loja do Buraco. Nas hortas foram edificadas as casas que se vêm hoje em volta da ermida, parte das quais foram reedificadas há poucos anos; e no cruzeiro que já existia em 1556, foi edificada a atual ermida em 1739, com o título do Senhor Santo Cristo do Cruzeiro, por ter a mesma imagem de Cristo lavrada na Cruz, tudo numa só pedra, que existia no referido cruzeiro. Esta ermida foi construída a expensas de alguns fiéis, sendo um deles Bento Geraldes Soares, reverendo beneficiado da Colegiada de Nossa Senhora da Conceição desta cidade. A sua arquitetura é antiga e de pequenas dimensões. Tem uma só porta de entrada, e por cima uma pequena janela, o que torna escuro o interior do templo. Tem uma só capela ao fundo onde está a Cruz a que acima nos referimos, e aos lados as imagens de Nossa Senhora das Dores e de São José. Ermida dos Remédios Está situada num pequeno largo, no bairro do Corpo Santo, junto à casa dos descendentes de Pedro Anes do Canto. Foi construída por António Pires do Canto, Provedor das Armadas, filho de Pedro Anes do Canto. Não conseguimos obter a data precisa da sua construção, mas como o dito António Pires do Canto tomou conta do morgado que seu pai lhe legara em 1556 e faleceu em 1566, é muito provável que a ermida, que pertencia ao solar da família Canto, fosse edificada naquela época. É de construção antiga, com uma só porta de entrada, e com um pequeno pórtico abobadado. No interior, que é também de abóbada, nota-se ao fundo a capela-mor, onde se vê a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, tendo de um lado a imagem de São Francisco, e do outro, a de São José Cupertino.


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No corpo da igreja, estão duas capelas ou altares: do lado do evangelho, uma, com uma boa imagem do Senhor Jesus da Agonia, e outra de Nossa Senhora do Rosário; do lado da epístola, e fronteira àquela, está uma outra capela coma imagem de Santo António. Nesta ermida existe também um púlpito e coreto, bem como uma tribuna, onde a família Canto assistia às cerimonias religiosas. Ermida do Corpo Santo Ignora-se a data de construção, por ser um dos primeiros templos construídos em Angra, segundo se depreende da História Insulana do Padre Cordeiro. Situada sobre a rocha , fica sobranceira à baía para o lado do Porto de Pipas, tem por vezes sofrido reparações provenientes dos abalos que a dita rocha sofre com o embate das ondas. É conhecido também este templo pelo nome de Ermida dos Navegantes ou de São Pedro Gonçalves dos Mareantes, por ser avistada do alto-mar e servir, por assim dizer, de guia aos pescadores que se afastam um pouco da costa. Tem uma só capela com a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, de grande devoção entre os marítimos do bairro do Corpo Santo, e aos lados, as imagens de São Pedro Gonçalves e de São Lourenço. Ermida do Desterro Esta ermida, que outrora fora criada para mosteiro de freiras da ordem de São Bernardo, foi reedificado em 1660 por Sebastião Moniz, o Velho, e há poucos anos sofreu novos e importantes reparos, ficando um templo moderno e elegante. Está situada no largo do Desterro, voltada ao sul, e é de uma só nave. Na capela-mor estão as seguintes imagens: ao centro, Jesus, Maria, José, e aos lados, São Francisco de Borgia e Santo André Avelino. No corpo da igreja notam-se duas capelas laterais: uma, do lado do evangelho, com a imagem do Senhor Jesus do Bom Fim; e a outra, do lado da epístola, com a imagem de Nossa Senhora da Boa Hora. À entrada está um pequeno para-vento e no interior vê-se também um pequeno coreto alto e o respetivo púlpito.


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Ermida de São Lázaro Está situada no fim da Rua de D. Carlos, próximo do largo de São Bento. É um edifício pequeno e antigo, mandado construir pela família Canto, segundo nos diz a tradição. Tem um só altar, com a imagem de São Lázaro e um púlpito. Junto a esta ermida existiu outrora um hospital dos lázaros, segundo nos diz o Padre António Cordeiro na sua História Insulana e Ferreira Drummond nos seus Anais da Ilha Terceira.


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